capítulo 1

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Grávida.
Enquanto Olívia Jensen subia as escadas do metrô, seu corpo ainda estava trêmulo. Ela ouvia os sons abafados dos motoris¬tas de táxi gritando palavrões e buzinando. Os ambulantes já montavam nas calçadas seus carrinhos de cachorro-quente e pretzels. Depois de um longo inverno, Nova York finalmente se rendera ao calor de maio.
Mas Olívia sentia frio até os ossos. Seus dedos dos pés estavam dormentes havia horas, desde que fizera o teste de gravidez, naquela manhã, e vira aquelas duas listras paralelas, cor de rosa.
Grávida.
Ela ia se casar em seis horas e estava grávida.
Do filho de outro homem.
O bebê de seu chefe.
Olívia parou subitamente na frente do edifício Serrado. Ela esticou o pescoço para olhar acima, o 13° andar, e o pânico a invadiu.
Ian Lima, o cruel magnata do aço, que a empregara ao longo do último ano, seria pai.
Não posso deixá-la grávida, querida. Ela ainda lembrava de sua voz sexy, naquela noite, ao som do batuque sensual do carnaval do Rio. Ele sussurrara junto à sua pele: Não se preocupe, é impossível.
E ela acreditara nele!
Como é que ela pôde ser tão imbecil? Com sua história, como poderia ter caído no clichê mais antigo do mundo: uma garota inocente do interior, indo para a cidade grande e sendo seduzida por seu patrão arrogante, rico e sexy?
Ela deveria ter deixado a empresa no Natal, quando Timothy partiu. No mínimo, ela deveria ter dado o aviso prévio semanas antes, como prometera fazer. Mas estava sempre adiando, como se algo a impedisse de perder de vista a cidade que tanto amava, a vida que ela amava. O homem que ela...
Ela parou subitamente, diante de uma idéia.
Havia sido apenas uma paixão passageira. Uma paixão avas¬saladora, depois veio a sedução...
O coração de Olívia se contraiu quando ela olhou acima, para o céu azul, e viu os pássaros cantando. O ar estava quente. Era um mundo novo.
Mas a notícia de sua gravidez não transformaria Diogo em um pai, ela já sabia disso. O conhecido playboy só escolhia mulheres lindas e brilhantes. Ele saía com elas, as tratava como deusas, depois as descartava como se fossem sobras da noite anterior. Se mulheres assim não prendiam a atenção dele, não era de admirar que ele já tivesse esquecido Olívia, uma garota que abandonara o colégio ainda no ensino médio e usava roupas baratas, além de não ter nada de notável em sua aparência!
Ian Lima, um pai decente?
O cenário mais provável seria oferecer dinheiro para que ela fizesse um aborto.
- Oh... - Cobrindo o rosto com as mãos, ela o xingou em voz alta, fazendo com que os pedestres passassem apressados, desviando-se dela na calçada.
Por mais inconveniente que fosse o choque com a gravidez, Olívia já passara a amar imensamente o bebê. A criança era sua, sua família.
Mas Ian tinha o direito de saber. Não?
Olívia cerrou os dentes. Ela atiraria de volta em seu rosto a mentira que ele dissera!
Empurrou a porta giratória do prédio e pegou o elevador até o 13a andar. Sua determinação a deixou rija ao passar pelas portas de vidro do corredor.
- Está atrasada - disse Carmen Alvarez, quando ela passou por sua mesa. - Os números que você me deu, ontem à noite, estão todos errados. O que está havendo com você, menina?
Olívia sentiu o chão se mover sob seus pés, com uma onda de náusea. Ela quase passou mal duas vezes: no metrô e no trajeto quando vinha de seu minúsculo apartamento, em Washington Heights. Andava meio enjoada há meses. Isso deveria tê-la alertado, mas ela dizia a si mesma que seu ciclo deveria estar desregulado. Ela não podia estar grávida. Ian Lima dera sua palavra! Não posso engravidá-la, querida.
- Está passando mal? - perguntou a sra. Alvarez, com os olhos estreitos. -Andou festejando a noite inteira?
- Festa? - Olívia deu uma risada fraca. Naquela manhã, quando ela finalmente conseguira fechar o zíper da saia preta risca de giz e abotoar a blusa branca, fora até a drogaria 24 horas para comprar um teste de gravidez com a garota cheia de espinhas que ficava no caixa. - Não, nada de festa.
- Então, é algum homem - disse a mulher mais velha.
- Eu já vi isso antes. Espere bem aí. - Erguendo o dedo em alerta, a secretária executiva atendeu ao telefone. - Escritório de Ian Lima - disse ela, alegremente, virando para o lado.
Uma das secretárias juniores se aproximou e deu um tapinha no ombro de Olívia.
- Você viu a foto do sr. Lima no jornal esta manhã? - perguntou Jessica, com seu sotaque meigo de sulista. - Ele levou a lady Allegra Woodville ao evento beneficente de ontem à noite. Ela é tão elegante e bonita, você não acha? Mas, também, ela vem da alta classe, como ele. Bem que minha mãe diz: a classe está no sangue. Ela sempre disse que é luxo... - ela olhou para Olívia, e continuou - ... ou lixo.
Olívia trincou os dentes. Ela nunca deveria ter confessado que tinha uma queda por Ian, nem sua tristeza após o Rio.
Jessica só via seu emprego como um passatempo, até encontrar um marido rico, e já fazia tempo que ela estava de olho em Ian. Olívia vinha tentando alertá-la, com sua própria mágoa.
Mas, em vez de aceitar o alerta, Jessica começou a espalhar boatos maliciosos pelo escritório. Olívia agora era desprezada por toda a equipe, que a achava uma vigarista querendo dar o golpe do baú. Olívia, uma vigarista! Ela, que nunca beijara um homem. Ian a pegara, no Rio!
Graças a Deus que ela finalmente desistira de seu sonho. Acabou percebendo que a avó estava certa. Seu coração não era tão duro, nem moderno o suficiente para sobreviver à vida na cidade. Ela desistira.
Três semanas antes, finalmente dissera sim a Timothy.
No Natal, ele deixara sua prestigiada função de consultor geral de Ian Lima, subitamente decidindo atuar como advogado em sua pequena cidade natal. Ele pressionara Olívia para que partisse com ele, mas ela se recusara.
Porém, depois de hoje, ela nunca mais teria de ver Nova York outra vez. Nem Ian. Ela estaria casada com um homem seguro e respeitável, que a amava. Um homem em quem ela poderia confiar.
Isso presumindo que Timothy ainda fosse querê-la depois de saber que ela estava grávida, esperando o filho de outro homem.
A sra. Alvarez desligou o telefone e se virou para Olívia:
- Eu não sei o que você tem feito em seu tempo livre, mas seu trabalho está inaceitável. Essa é sua última chance...
A voz profunda de Ian a interrompeu, vindo pelo interfone sobre a elegante escrivaninha de madeira escura.
- Sra. Alvarez, venha de uma vez.
Uma onda de pânico percorreu Olívia, diante do som da voz dele, fazendo com que seu coração quase pulasse do peito.
- Sim, senhor - respondeu a secretária executiva, depois soltou o botão do interfone. Seus olhos críticos varreram o rosto pálido e suado de Olívia. - Preciso que você elabore um relatório da Changchun Steel, em dólares. - Como Olívia não se moveu, ela disse. - Ande logo, menina.
- Não - sussurrou Ellie.
A sra. Alvarez se virou de volta, surpresa e zangada.
- O que foi que você disse?
Trêmula, porém determinada, Olívia encarou a mulher mais velha.
- Eu realmente preciso vê-lo.
Ela pareceu aturdida.
- Certamente, não!
- Deixe-a ir - sussurrou Jessica, entredentes. - Quando ele a vir com esse vestido fuleiro, vai despedi-la, com certeza.
Ignorando o comentário maldoso, Olívia foi andando em direção à porta do escritório.
- Pare aí mesmo! - Transbordando de ódio, a mulher mais velha entrou na frente dela, com o dedo em riste para Olívia. - Essa foi a gota d'água. Não sei quem você pensa que é; mas não é ninguém. Já estou cheia de sua incompetência, de sua insolência! Pegue suas coisas. Você está despedida!
Desesperada, Olívia empurrou a sra. Alvarez para passar e entrar no escritório de seu bilionário chefe.

Baile de amor Where stories live. Discover now