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Melissa, 27 de Novembro

Acordei numa sala grande, branca, onde presumi que estivesse num hospital.

Odeio hospitais.

Odeio. Por uma razão muito simples, as pessoas só vêm aqui parar, quando tem algum problema. De uma simples doença a uma doença, capaz acabar com a vida de alguém.

Vejo Liam sentado numa cadeira próxima da minha cama. A dedos da sua mão estão entrelaçados com os meus. A sua mão livre esta pousado na cabeça, enquanto a mesma, se encontra baixa.'

"Liam" digo num sussurro.

Num movimente rápido, ele levanta a cabeça mostrando, debaixo dos seus olhos, umas enormes olheiras.

"Eli, finalmente" aproximou-se "Fogo pregaste-nos um susto"

"Eu estou bem" disse, tentando-me levantar.

"Não te atrevas a mexer Eli, tu ainda não estas a 100%" resmungou

"Eu estou bem, eu sinto-me bem" ateimei.

"Eli" resmungou roucamente, arregalando os olhos.

"Liam" bufei, deixando-me escorregar de novo na cama, ficando completamente deitada.

"Não vale a pena bufares, não te leva a lado nenhum"

"És um chato Liam" rolei os olhos "A minha mãe?"

"Foi comer, obriguei-a a ir"

"Obrigas-te?" perguntei

"Ela desde ontem que não saia daqui, e isso também lhe faz mal"

"Desde ontem?" arregalei os olhos

"Sim, tu já estas aqui á um dia" diz.

"Eu quero ir embora Liam!"

"Estive a falar com o medico, e ele diz que é mais seguro ir só amanhã"

"Eu não quero saber Liam, não vou passar os meus últimos dias de vida num hospital" atirei

Liam, arregala os olhos, levantando-se e dirigindo-se para a porta.

"Nunca mais digas isso Eli" resmunga, ainda olhando para a porta.

"É a verdade, tu é que não queres ver"

"Eli" suspirou "A tua mãe vem aí, vou dar uma volta"

Não digo nada, só o observo a ir. E verdade, gostava que ele tivesse aqui, mas não quero que ele perca tempo com uma pessoa que está a morrer.

"Filha, meu deus que susto que me pregas-te a mim e ao pai" minha mãe corre, desajeitadamente, até mim.

"Mãe eu estou bem, deixa-me ir para casa" resmunguei de novo.

"Acho que o Liam deixou bem claro querida" sorriu.

Bufei, revirando os olhos. Desde quando é que os meus pais estão do lado do Liam? Ja ninguém me ouve.

"Mãe, que horas são?" perguntei enquanto fechava os olhos.

"Uma da tarde, porquê filha? Queres comer alguma coisa?" neguei, continuando de olhos fechados.

Sinto-me cansada, mas não consigo dormir. Irrita. É um dos piores sintomas que esta doença tem. Dificuldade em dormir. Eu adoro dormir, e tem dias que eu não consigo dormir mesmo nada, e isso irrita-me. Imenso. Já não basta ter um doença, horrível, com um prazo de vida dado, e também ter sintomas horríveis.

Ultimamente, os que me tem afetado mais, é a dificuldade em dormir, e que como eu já afirmei, e volto a afirmar, odeio.

Outro dos sintomas é ganho de peso que junto perda de apetite, indigestão, o que não faz muita lógica, eu cada vez como menos e cada vez engordo mais.

Um outro sintoma que eu tenho sido afetada frequentemente é fraqueza, desmaios, náuseas e vômitos.

Para além da doença, há os sintomas, a preocupação de arranjar um dador compatível, os tratamentos e finalmente ver como tudo corre.

Uma vida horrível, com uma doença horrível.

+++

« "Não gastes tempo, tu sabes que não conseguir sobreviver, para quê esperar um mês? De sofrimento para ti! Para os teus pais, e principalmente para o Liam! Ele está preso a ti, ele pensa que tu ainda iras te conseguir salvar, e tanto tu como eu, sabe que isso não é verdade. Estás a iludir toda a gente. Estas a faze-los sofrer. Não sejas egoísta Melissa." alguém sussurra ao meu ouvido.

"Morre" outra sussurra

"Imagina, Liam poderia estar feliz! Mas não está sabes porquê? porque tu estás a ser demasiado egoísta ao deixa-lo ficar preso a tu! Acorda! Não o faças sofrer mais" uma outra voz fala.

As lágrimas que eu tentara travar, agora estão a escorrer, milhares e milhares delas. Porque eu sei que é verdade, eu sei que deveria dar lugar a outros. Eu sei que deveria morrer. Eu sei.

"Pensa bem" desta vez, um homem, muito mal apresentado aparece á minha frente.

"Pega" ele diz, cuspindo veneno da sua própria boca "Pega" falou mais alto, obrigando-me a pegar na arma, que se encontrava na sua mão.

"Não, não, não" repito varias vezes.

"Mas tu, ou mato eu"

"Mata-me" falo

"Mata-te" atira

Levo a arma á cabeça, e levo o dedo ao gatilho. »

Acordo, com pingas de suor presentes por todo o meu corpo, juntas com lágrimas. ~

"Eli" Liam abraça-me "Está tudo bem?"

"Não!" sussurrei "Eu quero morrer Liam"

Liam fica com os seus músculos tensos, e aperta-me mais contra si.

"Nunca mais digas isso, Eli"

Transplant | PayneOnde as histórias ganham vida. Descobre agora