P A R T E-U M

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- PERDIÇÃO -

A P E N A S  P E R C A - S E

   O tempo perde a importância quando o isolamento abraça o homem; e George não conseguia se ver preso a esse agente há muito. Não estava longe do mundo, mas agora vivia em uma parte esquecida dele, aquela que as pessoas decidem não enxergar. Ele havia perdido tudo

   Por mais que ele não estivesse em um lugar que era totalmente isolado do mundo externo ele não fez questão de saber quanto tempo já se passara. Não lhe importava, afinal, tudo que amava agora já não lhe pertencia; a irmã, a quem antes lhe confiaria à vida, e agora não o achava digno nem mesmo de um olhar direto nos olhos; perdera também a esposa a qual amou a maior parte de sua vida, mas que por uma armadilha do destino traíra com a mais improvável pessoa possível; sua doce e amada sobrinha Violet.

  O que George não daria para reverter o tempo e pensar duas vezes antes de ceder àquela maldita tentação. As lembranças ainda se faziam presentes em sua mente, lhe atingindo como uma flecha imersa em brasa, tais lembranças sempre vinham á noite, para impedir que pudesse ao menos fechar os olhos e relaxar.

  E por mais que tentasse, não conseguia apagar a imagem do corpo de Violet completamente nu contra sua pele, a sensação de tê-la em seus braços entregando a única coisa pura que possuía a ele fora indescritível. Tanto que a culpa estava longe de seu ser quando consumou aquele pecado, mas agora, tinha toda uma eternidade para ser corroído por ela.

  — Hardwell. — A voz grave do guarda o tirou de seus devaneios, ele chegou até a pequena janela gradeada da porta de sua cela. — Você tem visita. — Aquilo soou como uma piada, em todo o longo tempo que passou ali ninguém o visitara, nem mesmo para o denegrir, o que traria alguém ali além disso afinal? Estranhando tal coisa ele estendeu as mãos na abertura onde os presos tinham as mãos algemadas antes de sair de suas celas.

   Percorreu todo o caminho com passos pesados, possuía um estranho pressentimento de que nada de bom viria daquela visita, no fim das contas, nada agradável acontecera desde o escândalo provocado por Violet, um tio estuprador, como aquilo gerou polemica na cidade, ele importou-se em acompanhar os jornais até certo tempo, depois se cansou de relembrar como as pessoas o conheceriam dali para frente.

   Ao chegar á sala de visitas privada ele se surpreendeu, uma visita inesperada e, aparentemente, importante o bastante para ser isolada do resto das visitas e detentos.

   — Comporte-se Hardwell, ou vai passar sua primeira semana na solitária. — O tom rígido do guarda não aplacara o ar zombeteiro que acompanhava o homem ao dizer tais palavras. Abrindo a porta de uma sala parcialmente vazia e mórbida ele empurrou George como se ele fosse incapaz de andar com os próprios pés de uma hora para outra. Uma mesa de um metal fosco ornado por duas cadeiras tão apáticas quanto eram os únicos enfeites daquela solidão.

   — Olá, George! — Ao ouvir aquela doce e suave voz o mundo parou o seu redor, podia sentir o coração bater mais forte no peito, os segundos se perderam em lembranças de um passado que ainda o atormentavam. Era impossível que ela estivesse ali; e se aquilo não fosse uma peça que sua mente pregara o que ela viera fazer? Talvez para fazê-lo lembrar de seu pecado, de sua vergonhosa fraqueza.

  — Senhorita, mesmo conhecendo o bom comportamento do detento é recomendável, para sua segurança, que ao menos um guarda permaneça presente, os imprevistos acontecem. — Os olhos do guarda pareciam esconder algo há mais, como se ele desejasse que o imprevisto viesse a acontecer, George conhecia aquele homem e seus desejos de um dia poder despejar sua irá nos homens daquele lugar, bom, ele era um deles.

PerdiçãoWhere stories live. Discover now