Eu rapidamente aceito quando ele estende o alimento e a água pra mim e abro o pacote, começando a comer desesperadamente. Ouço Rick rir enquanto mastigo os biscoitos com os olhos fechados e sinto meu rosto esquentar de vergonha.

— Há quanto tempo não come?

Termino de engolir e bebo um pouco d'água. — Algo que não seja algum animal cru: há quase sete meses. — Falo cabisbaixa e pego mais um biscoito. — Mas estou sem comer há quase oito dias. Não consegui caçar direito depois que roubaram minhas armas boas e por causa do corte. Estava bem pior do que agora.

Rick ia falar algo mas uma senhora loira entra na casa com algumas roupas nas mãos.

— Olá, com licença.

— Sou Deanna Monroe. — Ela olha para Grimes. — Rick.

O xerife apenas acena com a cabeça e a mulher se senta na cadeira à minha frente.

— Qual o seu nome e quantos anos você tem? — Ela sorri simpática.

Termino de comer os biscoitos e a encaro. — Jane. Tenho 17 anos, senhora.

— Bom, Jane, nós somos uma pequena comunidade com uma grande visão para o futuro. Acolhemos pessoas e as ajudamos em troca de serviços que acrescentem na sociedade.

Fico em silêncio e espero ela continuar.

— Quanto tempo passou lá fora? Estava sozinha?

Ajeito a postura, ficando um pouco tensa e respiro fundo.

— Estou sem abrigo fixo desde que tudo começou. Eu estava com minha mãe e algumas pessoas antes de eu e minha mãe nos perdemos do grupo há quase dois anos e meio atrás. — Ajeito o cabelo que caía no meu rosto e aperto os dedos nervosa. — Me perdi da minha mãe há oito meses.

— Eu sinto muito. — Ela aperta os lábios e olha rapidamente para Rick. — Você sabe fazer algo específico? Algo em que queira ajudar aqui?

— Eu não sei. — Penso um pouco.

— Não precisa ser algo extravagante. Tem apenas dezessete anos. Mas seria bom, não só para nós, mas para você, fazer algo.

— Eu posso ajudar na organização de alimentos, cozinha ou coisa do tipo. — Falo enquanto penso no tempo que passei sem ver um fogão ou talheres. Eu apenas gosto. — Acredito que tenham isso aqui. — Falo mais em forma de pergunta do que de afirmação.

Ela sorri. — Sim, nós temos. Falarei com Carol. Ela é uma das responsáveis nessa área. — Deanna se levanta e estende as roupas que estavam em suas mãos. — Você pode ficar aqui com o Rick e seus filhos, escolher outra pessoa para morar junto ou morar sozinha em alguma de nossas casas que ainda estão vagas.

— Eu gostaria de ficar aqui. — Pego as roupas. — S-se tudo bem, claro. — Encaro Rick.

— Claro. Temos um quarto sobrando. — Ele sorri.

Não o conheço, assim como não conheço ninguém aqui. Mas Rick já me acolheu e demonstrou não querer me machucar ou coisa do tipo. Sei que tem filhos e não mora sozinho também.

— Qualquer coisa você pode vir até mim. Fique a vontade em Alexandria.

Associo que "Alexandria" seja o nome do pequeno bairro e sorrio para ela.

— Obrigada.

Ela deixa o local e Rick me encara quando levanto. Ele aponta para as escadas e eu caminho na direção. Subo os degraus, assim como ele.

— Para a esquerda. — Ele fala.

Abro a porta assim que ele me mostra e observo o cômodo.

Paredes brancas com uma cama de casal cheia de cobertores também brancos e móveis pretos. Há prateleiras e vários livros, quadrinhos e revistas por elas. Uma mesa pequena perto da janela com dois pequenos cadernos e lápis em volta.

— Fique a vontade. O banheiro é na porta ao lado.

— Obrigada, mais uma vez.

Ele desce as escadas e eu sigo em direção ao banheiro. É simples mas tem tudo o que é necessário.

Tiro minhas roupas com cuidado e as dobro, mesmo que estejam imundas, e desfaço o nó do pano que estava em meu calcanhar. Coloco as roupas no canto da pia quadrada, entro no box e ligo o chuveiro, logo sentindo a água morna em minha pele.

Fico debaixo d'água por alguns segundos sem acreditar que depois de todo esse tempo eu estou tomando um banho em um chuveiro e ainda com água quente. Sinto uma pequena ardência no corte em meu tornozelo mas é suportável, já que a maior parte dele já havia cicatrizado. Lavo o cabelo com o shampoo e passo o sabonete com a esponja por todo o corpo. Faço isso umas três vezes para garantir que toda sujeira saia.

Me enxugo rapidamente depois que termino o banho e coloco as roupas que Deanna me ofereceu. As roupas tem cheiro de amaciante e estão tão limpas que parece que estou sonhando. Me visto rapidamente e me encaro no espelho, vendo que a calça preta ficou um pouco justa e a blusa branca de mangas curtas ficou um pouco larga. Faço pouco caso, já que a calça ou a blusa não me incomodam e pego as roupas sujas, logo indo para o andar debaixo.

Vejo uma porta que dá para a parte de trás da casa e imagino que seja a lavanderia. Entro devagar com medo de ser outra coisa mas acerto no palpite. Coloco as roupas num cesto e volto para dentro.

Me pergunto se posso comer mais coisa mas decido não mexer em nada até Rick voltar. Ando até a frente da casa e abro a porta, pronta para conhecer o lugar, mas o homem com cabelos bagunçados aparece.

Tem uma besta nas costas e arqueia uma sobrancelha quando me vê.

— Posso ajudar? — Pergunto sem saber o que dizer.

O homem continua me encarando — Rick está aí?

— Na verdade, não. — Respondo mordendo o interior de minha boca. — Saiu há cerca de vinte minutos atrás.

Dou espaço para ele entrar mas continua parado no mesmo lugar.

— Sou Jane. — Digo.

Ele assente com a cabeça enquanto comprime os lábios.

— Daryl Dixon.

— Daryl! Estamos indo!

Olho para um pequeno grupo de pessoas que estão um pouco longe de nós e perto do portão cinza e apenas uma delas ainda está dentro do pequeno bairro.

Daryl apenas vira para o garoto com olhos puxados. — Estou indo!

— Bom, fique a vontade, Jay.

Ele dá as costas para mim mas percebo que o grupo vai caçar, já que carregam muitas armas nas mãos.

— Estão indo caçar?

— Sim. — Ele responde sem me olhar e continua andando.

Decido ir atrás deles e assim o faço.

Dixon só percebe que estou ali quando algumas pessoas me encaram.

— O que está fazendo? — Ele franze o cenho.

— E-eu... Eu sei caçar. Queria ajudá-los.

Algumas pessoas já tinham caminhado para onde pretendiam ir e Daryl apenas dá de ombros, me entregando uma arma segundos depois.

— Sasha, — Ele olha para uma mulher negra que tem uma arma enorme e que parece pesada, nas mãos. — Se Rick perguntar, Jay foi caçar com o resto.

O homem sai andando e eu olho para a mulher.

— Meu nome é Jane. — Rio fraco e ela também, assentindo com a cabeça.

Sinto uma leve ardência no calcanhar mas corro para acompanhar o resto do grupo.

𝙋𝘼𝙉𝘿𝙀𝙈𝙄𝘾 // 𝘾𝙖𝙧𝙡 𝙂𝙧𝙞𝙢𝙚𝙨Onde as histórias ganham vida. Descobre agora