Capítulo VI - Passeio no Parque

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— O que vão fazer hoje, meninas? – perguntou Philippa, entrando no quarto de Anne num sábado à tarde. — Nós vamos dar uma caminhada no parque – respondeu Anne. — Deveria ficar aqui e terminar minha blusa, mas não conseguiria costurar num dia como este. Há algo no ar que corre por minhas veias e enche minha alma de glória. Meus dedos se recusariam a costurar e ficaria tudo torto. Então vamos ao parque e aos pinheiros!

— Este "nós" inclui mais alguém além de você e Priscilla?

— Sim, inclui Gilbert e Charlie, e ficaremos muito contentes se incluir você também.

— Mas, se eu for, terei que ficar segurando vela, e esta será uma nova experiência para Philippa Gordon – argumentou, queixosa.

— Bem, novas experiências servem para crescimento. Venha conosco e você será capaz de simpatizar com todas as pobres almas que têm que segurar vela com frequência. Mas onde estão todas as suas vítimas?

— Oh, estava tão cansada de todos que simplesmente não consigo aturar a nenhum deles hoje! Além disso, estou me sentindo um pouco triste... bem pouco, só um pouquinho. Não é sério o suficiente para me deprimir. Escrevi para Alec e Alonzo na semana passada. Coloquei as cartas nos envelopes e os enderecei, mas não fechei nenhum deles. Algo divertido aconteceu naquela noite, isto é, algo que Alec teria achado engraçado, mas não Alonzo. Eu estava com pressa, então tirei a carta de Alec de dentro do envelope – ou a que pensei ser a dele – e escrevi um epílogo. Após, levei ambas ao correio. Recebi a resposta de Alonzo esta manhã. Meninas, escrevi o epílogo na carta dele e ele ficou furioso. É claro que ele vai superar isso – e não me importo se não superar –, mas estragou meu dia. Então pensei em vir até vocês, queridas, para me animar. Depois que começar a temporada de futebol, não terei nenhum sábado livre. Eu adoro futebol! Tenho o gorro mais fantástico e um suéter listrado com as cores de Redmond para vestir nos jogos. Para falar a verdade, fui um pouco longe demais e vou parecer uma luminária de barbeiro ambulante. Sabia que aquele seu Gilbert foi eleito Capitão do Time de Futebol dos calouros?

— Sim, ele nos contou ontem à tarde – disse Priscilla, percebendo que a indignada Anne não iria responder. — Ele e Charlie estiveram aqui. Como sabíamos que estavam vindo, nós cuidadosamente tiramos de vista ou do alcance todas as almofadas de Miss Ada. Aquela bem elaborada, com o bordado em relevo, eu escondi num canto, atrás de uma cadeira. Pensei que estaria segura ali. Mas, pode acreditar? Charlie Sloane foi em direção àquela cadeira, encontrou a almofada atrás, juntou-a e sentou-se em cima dela solenemente durante toda a tarde! Que desastre para a almofada! A pobre Miss Ada perguntou-me hoje pela manhã, ainda sorrindo, mas oh, com certo tom de reprovação, por que eu tinha permitido que se sentassem em cima da almofada. Respondi-lhe que eu não tinha permitido; que foi um caso de predestinação unido a uma inveterada "Sloanação", e que eu não pude lidar com as duas coisas combinadas.

— As almofadas de Miss Ada estão me deixando realmente nervosa – comentou Anne. — Ela terminou mais duas na semana passada, abarrotadas e bordadas em cada milímetro. Como já não há absolutamente nenhum outro lugar livre de almofadas para colocá-las, ela deixou-as ao pé da escada, contra a parede. Ficam caídas na metade do tempo, e se subirmos ou descermos dos quartos no escuro, tropeçamos nelas! Domingo passado, enquanto o Dr. Davis orava por aqueles expostos aos perigos no mar, acrescentei em pensamento: "e por todos aqueles que vivem em casas onde as almofadas reinam!" Ora! Estamos prontas, e vejo os rapazes chegando ao Old St. John. Vai tentar a sorte e ir conosco, Phil?

— Eu vou, se puder caminhar com Priscilla e Charlie. Esse será um nível suportável de "seguramento de vela". Esse seu Gilbert é um encanto, Anne, mas por que ele está sempre andando com o "Olhos Saltados"?

Anne da Ilha | Série Anne de Green Gables III (1915)Where stories live. Discover now