O Triângulo Perfeito

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— Você é uma coisa mesmo, não devia ter irritado ela desse jeito. — Comecei puxando minha cadeira para mais perto de Jack.

Era a troca de aulas e o professor de Inglês, Sr. Campbell, preferia dar aula em duplas, sua sala já estava organizada desta forma, era muito diferente da sala de Dominique, no lugar das persianas uma grande e pálida janela deixava o ar gelado da manhã entrar abraçados com uma luz pálida, fazendo as cadeiras coloridas juntas uma das outras se destacarem em meio as paredes brancas, tudo combinava com as prateleiras repletas de livros diversos, esses que nos rodeavam, e até nos faziam sentir mais aconchegados na sala. Tudo muito convidativo, assim como a personalidade de Calvin Campbell, mas vamos deixar isso para mais tarde.

— Ah! Lembra do dia que ela pegou aquele caderno da Clair? Era de que mesmo? — Jacques cochichou, olhamos diretamente para a menina bem na nossa frente, cabelos curtos ruivos, exatamente a lá mode, roupas com caimento impecáveis até para um Armani, não me impressionaria se fossem da marca mesmo. O casaco era lindo... — Só me lembro que falava mal de metade da sala.

— Foi quando Dominique, leu aquela baboseira pra sala inteira? — Voltei a olhar para Jack, não passou muito tempo desde que ele esperava minha resposta.

— Cara foi épico, ela só jogou a bomba e pronto, deixou que a Clair se virasse. — Sorriu breve e voltou a pegar suas revistas em quadrinhos, essas exalavam um cheiro peculiar de novas.

— Foi muita maldade. — Neguei com a cabeça, refletindo a situação.

— Sério? — Jacques tirou sua atenção da revista. Me olhou incrédulo e ao ver a falta de culpa em meu rosto, voltou a seu afazer rotineiro. — Olha quem só está indo pro lado negro da força. — Me fiz que entendi a referência e dei uma risada cartunesca. Ainda ajeitava minhas coisas e materiais espalhados pela bolsa para poder sentar ao lado dele, Jack agora estava imergido em seu mundo, não iria levantar um dedo se quer para me ajudar ou prestar atenção na minha hipocrisia.

Voltei a pensar, coitado dele, deve ter ficado tão nervoso, muito mais que Clair no ano passado, nem chegava a se comparar...

— Isso não foi quando que ela tinha uma paixonite no Grant... ou era no fundamental?

Uma voz apareceu atrás de nós, estávamos falando tão alto assim? Tomei um susto voltando pra Terra. Ah sim! Esqueçam, eu poderia conhecer aqueles cabelos ruivos em qualquer lugar, o desgraçado do King.

— Ela tinha? — Perguntei confuso, sou tão desinteressante na sala quanto uma ameba, uma grande, alta e magra, não sou o estilo da Queen Bee. Talvez tenha sido um dia, quando eu frequentava a casa dos McQueen.

King riu, rimos juntos, achava que era uma piada.

Os olhos de metade da sala a cercavam, isso passou a ser rotineiro depois do incidente do caderno. A irmã gêmea de King não fazia nada de tão espetacular, ao passo que era seguida por vislumbres e cochichos. Vai ver eles viam algo a mais do que um vazio vestindo Empório Armani, ninguém lembrava com amargura do evento das fofocas, e quem lembrava não gastava seu tempo cultivando intrigas com ela, não poderiam. O caderno foi só motivo para ela subir em seu pódio, tudo aquilo era lembrado por todos como... icônico? Sim essa era a palavra. No mínimo icônico.

— Que pena. — Bufei ajeitando os óculos. — Tudo que eu vejo ali é uma... patricinha. — Falei com convicção, mesmo que baixinho, mentalmente bati em minha boca. Pude ver que Jacques arqueou as sobrancelhas, mesmo não desviando da sua revista. — Infelizmente, parece que é de família.

Os dois riram fraco, King parecia mais interessado no objeto das mãos de Jack, mesmo que parecesse um livro.

Me pus a sentar, observando sem interesse Clair cruzar a sala, em direção a suas serviçais. E lá vai ela.... Nunca viria aqui, na cadeira dos fracassados? Não, mesmo que tivéssemos a carta King em nossas mãos, eles quase não se falavam na escola, acho que menos ainda em casa.

V.O.G.U.E.Where stories live. Discover now