Calcanhar de Aquiles ༄

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Em um dia particularmente chuvoso, fazendo todo o apartamento barulhento e nebuloso, Sherlock estava deitado com a cabeça nas coxas de John, enquanto este acariciava os seus cachos da forma mais terna e graciosa que os seus dedos eram capazes de fazer.

O menor dos toques queima, machuca ou arrepia. Assim como uma brisa fria da manhã, suave e reconfortante, ou como um fogo quente e perigoso, ou como uma pressão no pé do estômago que tira o ar dos frágeis pulmões.

Para todos os efeitos, é assim que Sherlock se sente. Arde como um inferno, machuca como uma lança e arrepia como uma tempestade de gotas gélidas. É tudo muito excessivo, pensamentos impróprios e amorosos corroendo sua mente antes mesmo que ele percebesse que estava pensando.

O único que tem esse efeito sobre ele é John. O toque dele é a única coisa que arranca o melhor e o pior de Sherlock. É o toque de John que o faz cair, que o faz abençoar aos deuses por aquelas mãos pálidas e levemente calejadas, mas tão macias quando tocam em sua pele.

Sherlock sempre se considerou como um guerreiro forte e estável. Mas era quando John emaranhava suas mãos nos cachos pretos que o Holmes não tinha medo de levantar a bandeira branca.

— Sherlock? — John perguntou, ainda raspando as unhas no couro cabeludo e fazendo arrepios gostosos percorrerem o seu corpo magro e sonolento.

— Hmm?

— Oh, pensei que estivesse dormindo. — Sherlock franziu o cenho, uma careta descontente em seu rosto com a ideia de estar dormindo, de todas as coisas.

Ele não respondeu mais nada além de um resmungo, pois sentia que estava em paz demais para quebrar o som reconfortante e aveludado que era a voz de John. Quebrar o som do silêncio com a sua cacofonia interior seria uma ultraje.

Alguns segundos depois, Sherlock podia sentir que John o encarava daquela maneira que ele sempre fazia. Olhos azuis cheios de tanta ternura e amor que o Holmes podia se sentir abraçado e acolhido sem ao menos que ele o tocasse.

Oh, bem, ele podia sentir o olhar de John tocar a sua pele. Às vezes, seus olhos percorriam seu corpo esguio, levando um tempo a mais em seu traseiro empianado e redondo. Às vezes, John olhava para seus rosto e procurava memorizar todos os detalhes e guardá-lo na sua tentativa falha de palácio mental — como estava fazendo agora. Em todas as vezes, seus olhos tinham uma devoção tão intensa que fazia parecê-lo um homem bom.

E quando aqueles olhos carregavam mágoa, era como se uma maré alta sufocasse o amor deles e a pele de Sherlock ficasse flácida e enrugada.

Mas não era esse o caso agora, e quando John inclinou-se para beliscar seus lábios suavemente, embalando suas duas bochechas entre as mãos que antes estavam em seus cabelos, tão tão delicadamente, como se Sherlock pudesse quebrar, todos os sentidos caem em um efeito dominó e Sherlock sente-se ficar entorpecido.

Não limitando-se somente nos lábios, Jonh beijou a sua testa, suas bochechas e a ponta de seu nariz, fazendo Sherlock arfar com a sensação dos lábios rosados do seu amante roçando em sua pele. Sem que percebesse, um sorriso envergonhado e minucioso tomava conta dos lábios de Sherlock e, ao se afastar, John sorriu com a visão.

Sherlock abriu os olhos, seu olhar com o mesmo amor e a mesma devoção que John o encarava de volta.

— Eu te amo — murmurou John, enquanto sua não descia para descansar no peito do maior logo ao lado do coração.

Sherlock, sem muito ter o que dizer em troca, porque ele não era de palavras, inclinou-se para frente e reivindicou os lábios de John nos seus novamente, em um beijo quente e que descarregava toda a onda de ternura que Sherlock não era capaz de descarregar sozinho.

Em algum tempo depois, eles estavam esfregando-se em pele com pele, sussurrando aos ouvidos gemidos e palavras desconexas, mais promessas e o quanto John sentia-se bem em quanto Sherlock era apertado e quente. Sherlock se agarrava aos cabelos de John e não tinha nenhuma vergonha de gemer alto quando chegava a um orgasmo, porque os toques de John sempre o faziam se sentir bem.

— O que você- oh, o que você faz comigo- — Sherlock geme uma vez, e sente vergonha por estar tão exposto assim.

Aquilo parece durar para sempre, aquele atrito, esse calor e a visão dos lábios finos de John em sua pele pálida, subindo até os seus lábios carnudos e molhados de saliva.

E sempre que eles se beijavam, Sherlock caia em um entorpecimento e em uma paz de espírito que o fazia feliz em não ser um guerreiro tão forte assim.

Calcanhar de Aquiles ⋅ johnlock ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora