Ten se via sem palavras. Sabia mais ou menos por cima tudo o que havia acontecido, mas não sabia que era tão triste. Perder o pai, se abandonado pela mãe... Pelo menos em parte ele conhecia a sensação.

E apesar de tudo, ele ainda sorria e fazia brincadeiras, apesar de algumas serem de muito mal gosto. Apesar de tudo, ele gostava de Ten, e fazia de tudo para estar do seu lado.

Era como se o peso da culpa de quatro anos atrás voltasse com tudo, e o atingisse em cheio. Estava tudo resolvido, mas ele não podia deixar de se culpar por ser tão babaca e magoar quem mais precisava de cuidados e carinhos.

— E nesses anos todos, quem ficou cuidando da empresa? Como você manteu contato com ele quando ele esteve fora?

— A empresa quem cuida hoje em dia é o tio dele, que também cuida dele e não o deixa sem nada, porém é um homem dos negócios, e mal o vê. Eu continuei aqui, cuidando de tudo agora que meus pais estão aposentados e vivendo a vida deles, falava com Tae por telefone, e as vezes ele me mandava algum presente. Eu o amo como um irmão mais novo, nossa relação é tão boa que ele também não me considera uma simples empregada.

— É muito bom saber disso — disse Ten, sorrindo. — Sabe, antes do Taeyong viajar, no final do ensino médio, eu o magoei demais, e me arrependo tanto por isso. Por mais que hoje em dia tudo tenha passado, eu sei que ele ainda fica triste com isso. Se não fosse por isso, ele nem teria ido embora, nós, sabe...

Algumas lágrimas começaram a escorrer, e Ten tentou as conter rapidamente, mas não pode evitar, eram muitos sentimentos para esconder. Jiwoo se aproximou, pegou um guardanapo da mesa e secou o rosto de Ten, que agradeceu.

— Sei da história de vocês, Tae me contava todos os dias sobre o quanto ele gostava de te ver, ele realmente gostava de você. Taeyong tem um coração muito bom, mas ele também sabe como ser rancoroso. Se as coisas entre vocês estão boas, sugiro que as mantenha assim.

— Você tem razão, nós dois sofremos demais com isso... Desculpe por isso — disse rindo, se referindo as lágrimas.

— Imagina, todos nós precisamos desabafar um pouco de vez em quando — Jiwoo respondeu, se levantando. — Então, quer aprender alguns truques de cozinha?

Os dois passaram duas horas cozinhando e conversando. Jiwoo contou mais sobre sua vida como cozinheira, queria ser uma grande chef, mas acabou por cuidar de Tae e abandonar o sonho. Contou também sobre seu namorado, iriam se casar no final do ano, numa cerimônia simples de quintal, porém linda. Taeyong, claro, seria o padrinho. Ela tinha apenas 42 anos, mas era uma mulher cheia de vida e muito jovem.

— Posso saber que cheiro delicioso é esse? — perguntou Taeyong, entrando na cozinha, com o cabelo bagunçado e os olhos inchados de sono.

— Bom dia flor do dia — disse Jiwoo, indo dar um beijo no topo da cabeça de Taeyong, que ficou vermelho. — Ten estava me fazendo companhia enquanto fazia o café.

— Nunca vi alguém fazer uma torrada tão deliciosa, e é apenas torrada! — disse Ten, mordendo mais um pedaço de torrada.

— Ela é maravilhosa mesmo, minha irmã linda e cozinheira de mão cheia — Taeyong a abraçou, dando um beijo em sua bochecha. — Está melhor, Ten?

— Não vamos falar disso agora, vamos apenas comer — disse Ten, com um leve sorriso no rosto.

Taeyong convidou Jiwoo a se sentar na mesa, mas a mesma alegou já ter comido, e ficou apenas para discutir sobre o preparo do almoço. Ten não sabia se ficaria tanto tempo assim, mas Taeyong pediu sua opinião sobre o prato a ser feito. Comeram tranquilamente, e assim que terminaram a refeição, Ten fez questão de ajudar a lavar a louça, e Taeyong o ajudou a limpar tudo. 

Passaram uma manhã relativamente agradável, assistindo um filme qualquer no quarto de Taeyong, tudo para distraí-los da dor que sentiam. Mas infelizmente, não podiam evitar aquilo para sempre. Assim que o filme terminou, Taeyong se virou para Ten, com a expressão séria no rosto. 

— Onde você acha que eles estão agora?

Não era a melhor pergunta, mas pelo menos deu início ao assunto de forma direta e simples.

— Não sei, acho que ainda estão na minha casa, ou sei lá. Não me importo mais — respondeu Ten, encarando o lençol.

— Mas eu sim, eles não podiam ter feito isso com a gente, e isso não vai ficar assim.

— Se está pensando em se vingar deles me usando pode esquecer que eu não caio nessa.

— Caralho, Ten — respondeu Taeyong, erguendo a voz. — Por que você acha que eu sou tão horrível assim?

— Desculpe, foi força do hábito.

Ten suspirou, tampando o rosto com um travesseiro. Estava muito confuso.

— Não te acho horrível — disse, tirando o travesseiro do rosto e o encarando. — É que eu não esperava tudo isso, não do Johnny...

— Bom, pois eu esperava — respondeu Taeyong, ríspido. — Jaehyun nunca esqueceu do Johnny, ele as vezes falava o nome dele dormindo, ou sempre dizia "Johnny gostava disso" ou "Johnny era assim", sempre ele na mente, quase nunca eu. Droga, por que todo mundo que eu gosto tem que me magoar?

Taeyong começou a cair no choro, e Ten ficou espantado. Ele tinha mostrado muito autocontrole nas últimas horas, mas a fase tinha acabado. Agora, o garoto era só lágrimas e tristeza.

No instinto, Ten o abraçou, contendo suas próprias lágrimas. Taeyong se agarrou em seus braços, soluçando, e se aninhou em seu peito, ouvindo as batidas de seu coração. Naquele momento, eram apenas dois garotos com seus corações partidos, tentando encontrar conforto e carinho um no outro. E, no meio daquele turbilhão de sentimentos e pensamentos, Ten puxou Taeyong para um beijo repleto de amor. O beijo que, nos contos de fada, seria o beijo do verdadeiro amor.

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