Ela sabia o que a esperava

24 5 4
                                    

Sabe o que é mais engraçado? Ela sabia o que a esperava.

Não vou dizer que sou controladora, porém eu gosto de ter as coisas feitas de uma certa maneira. Acho que ela estava cansada disso. Mas desde quando começamos a sair e eu percebi que a amava, listei todos os pontos negativos sobre minha personalidade e ela escolheu ficar comigo mesmo assim.

Mônica era a mulher da minha vida, e eu gosto de dizer que eu fui a mulher da vida dela. Quando nos beijamos pela primeira vez, ela me confessou que eu era a primeira garota que ela beijara. Me senti importante. A primeira garota a gente nunca esquece.

Então vivemos a nossa história de amor. Ajudei Mônica a encontrar um trabalho melhor, a se vestir melhor, a pintar os cabelos da cor certa. Como eu falei, eu gostava de ter as coisas feitas da maneira correta - da minha maneira.

Quando Mônica finalmente se mudou para a minha casa, eu expliquei algumas pequenas regras de organização. Pensando na nossa convivência, sabe?

Só que para ela isso era difícil. Por que era tão difícil guardar os copos do jeito que eu pedi? Ou arrumar a cama depois de acordar? Ou lavar a louça assim que ela terminava de comer? Eu gosto de manter a casa organizada, isso é um pecado? Uma casa limpa e organizada é um lar feliz, era o que minha mãe dizia. Então por que a Mônica não conseguia fazer isso? Por que ela não entendia que era para nossa felicidade?

Houve incontáveis brigas, noites em claro, discussões que nos deixavam com olheiras e tiravam o nosso apetite. E eu não conseguia fazer ela cooperar.

Então Mônica tomou uma decisão: ela iria embora. Estava cansada de mim e da minha mania de querer tudo do meu jeito, essas foram suas palavras. Ela virou as costas e foi arrumar suas coisas, sem dizer que ainda me amava, apesar de tudo.

Eu fiquei brava. Passamos quase um ano da nossa vida juntas e ela estava partindo porque não conseguia me aceitar. Cheguei a duvidar se um dia ela me amou de verdade. Talvez eu tenha sido algum prêmio de consolação depois de ter terminado com seu antigo namorado.

Mas se eu fui culpada de alguma coisa, foi por amá-la demais.

Não tive culpa da raiva que começou a crescer dentro do meu âmago. Não tive culpa de pedir para ela dizer que, apesar de tudo, ela verdadeiramente me amava. Não tive culpa de ordenar que ela ficasse, pois sabia que podíamos resolver isso.

Estávamos no quarto, no andar de cima da minha casa. Gritei com ela, não me orgulho disso, mas gritei. Mônica estava saindo sem dizer nada, por Deus! Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia permitir que ela me deixasse.

Fui atrás dela, decidida a implorar para ela ficar. Encontrei com ela no topo da escada. Ainda não escutei ela dizendo que me amava, Mônica apenas gritava que eu não podia controlar tudo, especialmente ela. Falou alguma coisa sobre não ter mais vida própria, mas eu não me lembro muito bem.

Eu estava tão irritada que não conseguia enxergar direito. Dei alguns passos para frente. Algo aconteceu e ao invés de puxá-la, Mônica caiu.

Fiquei duas horas observando seu corpo inerte. E tudo que eu conseguia pensar era: ela sabia o que a esperava antes de se relacionar comigo.

Não Fui EuWhere stories live. Discover now