O ÚLTIMO SOBREVIVENTE

Parte 1 - O Início

Os passos silenciosos de Eddie eram o único som que naquela madrugada se ouvia. Andando pelo extenso e angustiante corredor, este olhava pelas pequenas janelas que se encontravam nas portas blindadas, tentando encontrar diferenças entre ele e todos aqueles homens que durante o dia se contorciam e gritavam até serem sedados, vestidos com uma espécie de casaco, onde os braços não tinham possibilidade de sair do lugar, e levados para uma pequena sala, completamente acolchoada.

Eddie estava neste edifício há pouco mais de cinco meses, teria sido internado pela sua tia Judy, que após os seus pais terem morrido num brutal acidente rodoviário, ficou responsável pelo seu sobrinho mais novo. Judy, uma desequilibrada mulher de 53 anos, achou que o mais adequado seria internar o jovem que estava ao seu encargo num hospital psiquiátrico, pois aí poderia recuperar mais depressa a perda dos seus pais.

Continuando o seu passeio nocturno pelo que seria agora a sua nova casa, Eddie recorda o seu primeiro dia ali.

No dia 16 de Julho enquanto Judy assinava pilhas de papéis, Eddie olhava para todos os lados, imaginando como seria todo. A tia Judy chamou-o ;

- Pronto, já está tudo, está na hora de ires.

Distante e ainda sem saber porque é que teria de viver num hospital, pegou nas suas malas e despediu-se da tia, com um abraço arrogante, e sem qualquer demonstração de sentimentos.

Ao entrar no corredor que passeava hoje, Eddie ia vendo todo o tipo de pessoas que nunca pensou um dia partilhar morada. Suicidas, psicopatas, sociopatas, loucos, tudo o que se pode ver num filme de terror. Ao chegar ao fim do corredor encontrou o seu quarto, número 23. Quando entrou deparou-se com uma pequena cama com lençóis quase de papel azuis, uma pequena mesa com detalhes azuis, um armário igual à mesa e uma pequena janela com grades verdes ferrugentas. Deitou-se na cama, e a olhar para o tecto branco já não pensava no porquê dele estar ali, mas sim no porquê de quem ali estava, estar ali. Afinal de contas eles tinham todas as características se um ser humano. Pele, cabelo, sangue, carne.- Que estás aqui a fazer a estas horas rapaz?

Chin interrompe o flashback de Eddie, e pede-lhe que retorne ao seu quarto. - "A partir das duas da manhã nada bom pode acontecer".

diz Chin enquanto acompanho o jovem ao quarto. Chin era o único amigo de Eddie, tinham-se conhecido no seu primeiro dia. Chin era um ex-combatente do Vietnam com 83 anos, e estava ali por isso mesmo, após ter saído do Vietnam ganhou Stress Pós Traumático e os familiares acabaram por o internar ali. Este era como um avó para Eddie, era com ele que partilhava todos os dias, era com ele que jogava xadrez na pequena sala de convivio que existia no terceiro corredor.

De volta ao seu quarto, Eddie deitou-se e acabou por adormecer.