Capítulo 3 - Essa transferência de calor não foi causada por Lítio

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Sebastian veio logo cedo pela manhã do domingo e para minha infelicidade não foi para me levar a outro parque de diversões, e sim buscar minha mala.

Eu ainda tenho no máximo 8 horas para bolar uma fuga no estilo Julia Roberts, já que esse casamento sem pé nem cabeça será às 18h30min.

Apesar de ter dito "Que venha o amanhã" ou alguma baboseira dessas, estou freneticamente apavorada. E as únicas coisas que consegui fazer até agora foram: comer, reclamar, comer, lastimar, comer, ficar entediada, comer e olhar para o vestido branco na cruzeta pendurada no armário vazio.

Assim as horas foram passando, e eu ficando ainda mais ansiosa e me sentindo cada vez mais sozinha no meu apartamentinho adorável.

Estava para me desfazer em um contraste de tédio e ansiedade, quando batidas na porta me deram um pouco de ânimo. Quando abri, uma mulher muito bonita, de cabelos pretos, compridos e ondulados, sorriu para mim, mostrando todos os dentes e curvando o canto dos olhos azuis escuros. Ela era jovem, e se parecia muito com — argh — Mark, aparentando ser apenas alguns anos mais velha do que ele.

A mulher — provável irmã do meu noivo — estava deslumbrante, usando um vestido de mangas compridas, alaranjado e justo, um pouco acima dos joelhos, que realçava suas curvas perfeitamente desenhadas e revelava suas pernas longas e bronzeadas.

— Kate! — Ela deu uma "corridinha" amistosa em seu salto preto, bastante alto, para me abraçar.

Seu ato me surpreendeu, mas retribuí o abraço, dando batinhas leves em suas costas e tocando o seu cabelo excepcionalmente macio e brilhoso.

Quando ela entra no meu quarto — teoricamente sem permissão —, já sai vasculhando o lugar pequeno com o olhar curioso, parecendo ter a mesma expressão de Dillan no dia anterior. E, assim como o mordomo demônio, ela fica sem dizer nada por um longo momento — pra variar, também não se apresentou.

— Desculpe, mas poderia me dizer quem você é? — Ela é tão bonita que me nego a ser rude.

— Oh, mil perdões. Onde estou com a cabeça? Sei tanto sobre você, então supus que você também sabia sobre mim. — Ela faz uma pausa e me dá um sorriso amigável. — Sou Melissa Campbell, sua nova irmã mais velha.

Como eu suspeitava.

— Oh! Ah... Certo... Ahn... — Estou fazendo esses sons que nem são palavras como se não soubesse me comunicar como uma humana. Ela me desconcertou. — Ok.

Melissa continua sorrindo e me encarando com olhos arredondados e bochechas iluminadas.

— Ótimo. Já que nós seremos melhores amigas a partir de agora, vim te ajudar a não ficar nervosa. O dia do nosso casamento tem que ser especial, mas não sei se isso aplica... — Ela continuou tagarelando, mas as palavras dela já não faziam mais sentido. Eu parei de ouvir no "casamento" e todo o meu drama interno aflorou imediatamente outra vez.

Ela para de falar de repente. Melissa, apesar de ser linda, é definitivamente estranha — mas quem não é, no fim das contas?

— Certo... — repito, e eu aparentemente esqueci como pronunciar palavras com mais de duas sílabas.

— Ele não fez uma má escolha. Você não acha? — ela dispara, e eu me sobressalto, pensando que está falando sobre mim. Mas quando Melissa desfila em direção ao vestido pendurado, meu coração desacelera. Não faço ideia do porquê achei que ela estaria se referindo a ele ter me escolhido. — Você vem comigo. E deveria pegar tudo o que realmente acha importante. Acredito que não vai voltar para cá depois.

Desisto de — pensar em — resistir. Procuro minha bolsa carteiro e começo a colocar nela objetos aleatórios. Celular, apostilas, livros, documentos, dinheiro, remédios. Já levaram todas as minhas roupas mesmo. Vou ao banheiro e pego escova de cabelo e de dentes, shampoo e condicionador, perfume e desodorante.

[DEGUSTAÇÃO] Propriedades de um Amor (não convencional)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora