Capítulo 13

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Acabada. Esse é o sentimento. Mais uma vez volto para casa sem progresso algum. Preciso recuperar o ritmo ou Ishtar vai começar a me punir. Como fazia antes.

Aqueles dois sabem dar um coro em alguém... Não estava acostumada à isso. Acho que passou o tempo em que as pessoas daqui eram idiotinhas de merda. Preciso me preparar melhor para as próximas missões.

Vou até o banheiro e limpo as feridas que mal cicatrizaram e já estão abertas novamente. Tenho hematomas por todo o corpo.

– É, isso vai doer depois.

Quando termino, desço até o porão e começo a andar inquieta. Eu deveria me reportar sempre que descobrisse alguma novidade. Mas como não tenho me saído muito bem esses dias, Ishtar não está sendo muito agradável comigo. Decido fazer outra coisa. Olho para as runas no chão. Os materiais estão todos aqui.

– Acho que posso dormir sem um esporro ho– uma terrível dor me pega de surpresa.

O que está acontecendo? Nunca senti isso antes. É como se... como se...

– Uma mão apertasse suas entranhas? – ouço claramente sua voz.

O que? Ele está aqui. Apareceu aqui. Como isso é possível? Achava que ele precisava do– ouço sua voz tão próxima ao meu ouvido que até fecho os olhos com o susto.

– Do ritual? – escarneia ele – Acredito que passamos dessa fase minha jovem.

– O que faz aqui? – pergunto encolhida no chão.

– O que eu faço aqui? O QUE EU FAÇO AQUI? – ele vocifera – Um ketagasth me contou que você tinha algo para me dizer.

– Olha, – digo tentando me levantar – eu não sei o que é isso... mas o que mais ele te contou?

A dor fica tão intensa que eu grito em agonia.

– Natália, Natália... Você não era mal-educada assim. Será que se eu te chamar de Jules você volta a se comportar?

O som desse nome ecoou algo dentro mim.

– O que... o que o senhor quer dizer com isso? – digo me encostando na parede.

– Ah, assim está melhor.

A dor para subitamente. Tento respirar fundo, mas ainda sinto dores.

– Senhor, – tento dizer da maneira mais respeitosa possível – quem é Jules?

– Ah, que falta de consideração a minha. Você se esqueceu de quase tudo não é mesmo? Venha comigo. – ele estende a mão.

Encaro a mão dele por alguns segundos. Não sei o que ele vai fazer. E agora mais essa, ele pode vir quando bem entender e talvez possa ler minha mente também.

– Fique tranquila, eu só quero te mostrar uma coisa. – ele diz com um sorriso obscuro no rosto.

Seguro sua mão e vamos em direção a porta. Acompanho-o sem entender. Quando ele abre a porta, a escada que leva para o corredor não está mais lá. Estamos numa rua com casas, animais e crianças brincando.

– Sabe onde estamos?

Vasculho cada canto em minha cabeça, mas não consigo lembrar. Algo lá no fundo me incomoda como se eu devesse saber onde estou.

– Por aqui. – ele diz gentilmente.

Viramos uma rua e então eu a vejo. Meus olhos começam a lacrimejar no mesmo instante. A menina sai correndo de casa alegre e gritando. Seus amigos na rua gritam de volta enquanto ela corre em nossa direção e nos atravessa se juntando a eles. Dali, eles correm um atrás do outro como se brincassem de ordem e caos.

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