Contagiante

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Você está rasgada em cada extremidade mas é uma obra-prima.
— Halsey

Olho para baixo mais uma vez, dando um suspiro ao ver o papel dobrado na minha mão. Minha garganta estava seca e a vontade de chorar aumentava; consegui prender as lágrimas durante a aula, mas não sei quanto tempo aguentaria aqui fora. Levantei o rosto, procurando rapidamente um banco afastado e vazio para eu me sentar. Consegui achar um perto de uma pessegueira que tinha no pátio do colégio, com uma sombrinha. Andei mais um pouco e me sentei, colocando a mochila de lado, e jogando o papel no meu colo.

Me curvei na direção dos joelhos, passei uma mão pelo cabelo, jogando para trás, antes de ter coragem para levantar e encarar de novo aquele resultado. Com a mão trêmula, desdobro meu teste e mais uma vez vejo aquele resultado escrito em caneta vermelha na lateral esquerda, bem lá em cima e do lado do meu nome.

2,3.

Sinto uma lágrima escorrer do canto do meu olho para a minha bochecha e enxugo-a com a manga do moletom, antes dela chegar ao meu queixo. Não consigo desviar o olhar para as questões, que por uma rápida olhada, estavam com a resolução correta do professor. Meu rosto ardia e minha cabeça começou a doer, além do ar parecer ficar rarefeito, totalmente envergonhada comigo.

Como eu havia conseguido tirar aquela nota, se eu havia estudado?

O professor, no final da aula, depois de todos saírem, me perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, sorrindo falsamente para impedir as lágrimas que queriam escorrer. Acho que ele não acreditou, mas disse, com uma voz calma e terna, para eu não me corroer com aquilo, pois eu poderia melhorar e que aquela nota não definia quem eu era ou a minha inteligência. Concordei silenciosamente com a cabeça e murmurei um “obrigada”, saindo da sala logo em seguida enquanto me xingava mentalmente de todos os nomes possíveis para insuficiente.

Nada justificaria essa nota, visto as noites que eu passei em claro estudando, fazendo exercícios, indo para as aulas de reforço e usado todo o tempo e até alguns minutos a mais que o professor me cedeu no dia do teste, se não que eu era uma completa fracassada que não conseguia sequer tirar a média. E aquilo doía, porque mesmo fazendo o meu melhor, não havia sido o suficiente para me tirar das provas finais.

Não aguento mais segurar as lágrimas e me permito enfim chorar. Seguro o papel com força entre os dedos da mão esquerda, acabando por amassar ele, enquanto com a direita eu cobria parte da minha testa e meus olhos. Sentia tristeza, frustração, medo e, principalmente, raiva. Meu estômago se revirava e eu sentia vontade de vomitar.

Por mais idiota que parecesse chorar por causa de uma nota, eu me importava. E definitivamente não era idiota para mim, que com um passo em falso poderia reprovar mais uma vez. Não era idiota para mim, que prometi a mim mesma que esse ano seria diferente e minhas notas melhorariam. Mas o ciclo do ano passado parecia se repetir, comigo fracassando mais uma vez.

O choro chega a um ponto em que eu começo a soluçar baixinho, enquanto meu rosto ficava mais molhado pelas lágrimas, por mais que eu as enxugasse vez ou outra com a manga. Minha cabeça doía cada vez mais, mas eu não conseguia parar de chorar.

— Olha, sei que a gente não se fala muito e também sei que eu não tenho o direito de invadir o seu espaço, mas eu não aguento ver alguém chorando, independente de eu conversar com essa pessoa ou não. — Alguém fala e eu sinto o lugar ao meu lado ficar mais pesado. Tento engolir o choro, pelo menos parar de soluçar, e levanto o rosto. E qual não foi a minha surpresa quando vi que quem havia me dito aquilo havia sido Kim Taehyung?

Teste de ConfortoWhere stories live. Discover now