Capítulo 2- Pai de Família.

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Seu corpo parece estar alcoolizado, é nítido, é uma auto convicção preliminar quando seus pés pisam em um lugar que não lhe corresponde a lembrança alguma. Não são suas ideias fluindo em seu cérebro, não é o seu espaço, porém não lhe ocorre em nenhum momento sair dali, seu corpo se reserva ao ato de somente observar, buscar alguma referência, nada mais. Sua subconsciência o convence a acomodar-se ali e procrastinar atitudes simples que no momento lhe parecem pesadas e exaustivas.

Ozírio está na sala violeta, repleta de ar pesado, fumaça de cor e aroma agradável. Ele tem espasmos, mas sabe que já passou por isso, na verdade lembra que é um efeito colateral comum da sua cápsula ra23, a sua favorita e que já lhe é familiar. Abre os olhos, em devaneios, pensa estar nu e sua pele sente pinicar, vislumbra pelo de urso por cima de seu corpo magro.

Uma voz sussurra em seu ouvido, está difícil respirar, seu corpo ainda está dormente, é um pós-orgasmo que não lhe deixa raciocinar. Ele passa as mãos sobre o rosto, mas nada sente. A imagem das três granadas estalando os gatilhos, sons metálicos congelam o seu raciocínio, mamilos rosados, uma batida rítmica e musical, o gruir de instrumentos eletrônicos misturados e uma explosão abafada. Uma voz feminina agoniza palavras incompreensíveis ao longe. O impacto o faz saltar.

Tenta se mexer em vão, seus sentidos então aos poucos voltando ao normal e alguns minutos depois já percebe que está em casa, quarto 33 certamente.

_ Вот дерьмо! Ele resmunga e se levanta cambaleante.

"*Eu preciso trabalhar no pós efeito disso*". Pensa ele consigo mesmo. Enquanto caminha em direção a porta ele se recompõe.

Karpov sai da sala, está vestindo nada além de um pijama infantilmente estampado. O ex-General caminha se sentindo ainda em êxtase pelo corredor, aquele tapete de estampas vermelhas parece não ter fim , seus joelhos estão bambos e seu óculos desliza no nariz afim de desengonçadamente ser aprumado em sua face.

O som de pegadas em ritmo acelerado batendo nas paredes desperta sua audição, no mesmo momento um impacto o derruba ao chão. O som agudo do zunido de uma flecha rasgando o ar atravessando o vazio do corredor gela sua espinha.

_Eu estava prevendo isso, ela nunca imagina que vai provocar um acidente aqui. Diz Alastor sentado sobre o peito de Karpov.

_Sua esposa está caçando um de seus gatos senhor. Completa o pequeno marsupial.

_Qual deles Alastor? diz Karpov agarrando o pelo ruivo do animal com uma das mãos e o tirando de cima de si.

_Ele ainda não tinha nome, ao que tudo indica, não foi aceito. Diz Alastor.

Ozírio balança a cabeça com desaprovação.

_É por isso que eu me apaixonei por ela. Aquela bela criatura tem uma insanidade elegante, mesmo estando sóbria. Suspira ele a caminhar.

Alastor é o seu primeiro e único "registrador", um hibrido assexuado criado com o objetivo de harmonizar e registrar os acontecimentos no interior daquela grande construção de pedra e concreto que Ozírio a alguns poucos anos chama de casa. O animal é um verdadeiro banco de dados ambulante e possui uma estrutura biológica que lhe concede alguns privilégios.

Já na sala, a luz do sol que sai pela janela o ofusca a medida que se aproxima da cozinha. Uma grande mesa de madeira maciça o aguarda, apenas três cadeiras vazias a rodeiam nessa manhã. Uma mulher de longos cabelos negros e silhuetas latinas avantajadas está debruçada na pia, ela veste apenas um avental e curtas roupas de verão quando Ozírio se senta a mesa.

O telefone toca e Alastor salta por cima do ombro de Karpov, entrega o pequeno aparelho e com pomposa delicadeza usa suas garras para desembaçar o comprido pelo ruivo.

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⏰ Last updated: Aug 27, 2020 ⏰

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O Cubo de Karpov.Where stories live. Discover now