Calmaria e Tormenta

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O rei caído podia sentir os flocos gélidos de neve, carregados pelo vento sul, aderirem a sua pele incessantemente, e derreterem ante o calor produzido pelo fogueira que ardia contra a escuridão da noite.

Afagou os pêlos rígidos de sua companheira, que relinchou em protesto contra o frio.

— Calma Féfi — Disse o bárbaro referindo-se a égua de pelos cor de mel, Fefnir, sua mais antiga companheira, talvez a ultima que lhe tenha restado. — A noite não se irá se demorar a findar, e a neve não pode cair para sempre, até mesmo aos cruéis deuses do inverno deve restar um pouco de misericórdia.

Argumentou o guerreiro, a égua, no entanto, não respondeu, como era de se esperar. 

Nilf'hid então sentou-se mais perto do fogo e tirou de sua bolsa um pedaço da carne seca e salgada chamada de charque pelos farrar, e começou a mordiscar sua superfície dura, travando uma árdua batalha contra a refeição fibrosa.

Enquanto ele mordia a carne podia sentir os ventos frígidos mordendo a sua pele como se a natureza visasse vingar seu companheiro caído, que agora servia de alimento para o guerreiro. O vento continuava a cantar sua ululante canção que ecoava na planície congelada e derrubava os ramos menores dos pinheiros, fornecendo uma constante fonte de combustível para a fogueira do bárbaro. 

Continuou a comer sua refeição e o silêncio melancólico da noite o irritava, em meio a nevasca não se podia ouvir os sons de nenhuma animal com exceção de Fefnir. Deixando o bárbaro sozinho com seus pensamentos. E essa era a ultima coisa que pretenso rei dos bárbaros desejava. Seus pensamentos o atormentavam e açoitavam sua mente, como o chicote de um cruel carrasco. As lembranças o passado continuavam a voltar a sua mente, nomes em meio a um turbilhão de pensamentos perturbadores.

"Helga, Nissandra, Thordelion, Dritz "

Cada um deles era como mais uma adaga cravada no peito do bárbaro.

"Não, eu é que fui uma adaga no peito de cada um deles" Corrigiu o rei mentalmente, sentindo uma unica lágrima escorrer pelo seu rosto.

Após terminar sua refeição deitou-se com a cabeça contra as pelagens que estavam cobrindo o tronco caído de um velho pinheiro. Sentiu o flocos de neve que haviam se acumulado ali derreterem, fazendo seu rosto aderir de forma desagradável aos espessos pelos cinzentos do lobo. 

Permitiu-se fechar os olhos, porém não sem antes pousar a mão sobre ruína do gigante, a espada que herdara de seu pai, era larga e pesada de tal forma que a maioria dos homens mal conseguiria empunhá-la propriamente com duas mãos, mas no sul, costumava dizer o pai de Nilf'hid, os homens eram feitos de matéria mais dura. E o próprio Nilf'hid era capaz de empunhar o lamento do gigante com uma única mão, assim como seu pai fizera antes dele. Contudo as semelhanças entre eles acabavam aí. Fora do campo de batalha não poderiam ser mais diferentes. Bilgnor fora um grande líder para seu povo, paciente e sábio, enquanto seu filho trouxe apenas desgraça daqueles que confiaram na sua liderança.

Espantou esses pensamentos terríveis de sua mente, apenas para mergulhar, horas depois em um redemoinho de sonhos inquietantes, e novamente viu os rostos de sua familia surgirem em sua mente em meio a névoa dos sonhos. Mas isso não durou muito tempo 

Mal havia começado a pegar no sono quando ouviu. O som de trotel tomou de assalto o ambiente, acabando com a tão suave melodia noturna, que logo foi substituída por gritos estridentes em uma língua estranha, e pelo som de dezenas cascos se aproximando furiosamente,  Fefnir relinchou e se pôs em posição esperando pelo comando de seu mestre.

Os dedos do bárbaro se fecharam em torno do punho da espada larga e tão rápido como ele abriu os olhos ele se pôs de pé, já com a espada em punho. O rei bárbaro olhou em volta e procurando por seus inimigos, mas eram apenas sombras em meio a nevasca que corriam por através das árvores na orla da floresta.

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⏰ Last updated: Mar 24, 2020 ⏰

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Os reis do invernoWhere stories live. Discover now