C A P I T U L O _ 2.8

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• T R E S A N O S A T R A S •

Com o desespero e a emoção travando uma guerra ferrada dentro da minha cabeça, dirigi feito uma louca por toda cidade até enfim parar no meu lugar favorito em toda aquela grande cidade.

A praia.

Com a pequena criança ainda resmungando dentro de seu cesto enquanto dormia, eu parei o carro na calçada e desci levando o cesto junto comigo.

O que eu faria com aquela criança?_ Esse ainda era um grande mistério.

Eu poderia tê-la entregado na delegacia, ou a deixado na porta de um Orfanato qualquer assim como fizeram comigo, mas eu simplesmente não conseguia, pensar em todas as terríveis possibilidades me deixava em total agonia.

Olhando o mar revolto com suas grandes ondas se quebrando a cada vez que o vento soprava com força, analisei o horizonte tão distante.

O que eu deveria fazer?_ Pensei comigo novamente antes de colocar o cesto no chão admirando mais uma vez aquele pequeno monstrinho tão tranquilo ali dentro.

Ela não merecia um fim como aquele. Ela merecia mais, merecia algo bem melhor do que ter que viver perdida pelo mundo sem sequer saber sobre sua própria origem, assim como eu.

Me sentei na areia ao seu lado e acariciei sua mãozinha tão quente apesar do clima gelado sentindo seus dedos se fecharem ao redor do meu.

Eu queria ter conhecido meus pais, ou ao menos saber o motivo deles não me quererem, queria saber algo sobre eles, sobre mim.

Um leve sorriso me escapou por meus pensamentos.

Acho que tinhamos algumas coisas em comum.

Por um instante me levantei e dei alguns passos a frete, enchi os meus pulmões com o ar gelado da noite e me repreendi após sentir algumas lágrimas escaparem por meus olhos.

Então era isso? Eu deveria ficar com ela e acreditar que ter atropelado aquela mulher não havia sido apenas uma coincidência ?

Eu não saberia dizer ao certo o que eu estava sentindo naquele momento, só queria que tudo passasse, queria poder ajudar aquela garotinha assim como ninguém nunca fez por mim, eu queria que a vida não fosse tão complicada ao menos daquela vez.

Limpando as lágrimas do meu rosto, me virei na direção de onde havia deixado o cesto, e foi quando senti meu coração errar uma batida com a cena que se passava a minha frente.

Uma velha senhora, estava levando o cesto.

Ela estava levando a minha criança pra longe de mim, e por mais que eu tivesse desejado me livrar dela, eu não conseguia me sentir nada bem em vê-la partir, não daquele jeito.

• A T U A L M E N T E •

Após acordar e fazer toda minha higiene, preparei o café e segui até o quarto de Lili, onde ela ainda dormia calmamente abraçada a suas pelúcias favoritas.

Encostada no batente da porta, suspirei aliviada em tê-la bem ali, no meu alcance.

Me agachei ao lado de sua cama e tirei o cabelo de seu rosto, fazendo um leve carinho até alcançar sua bochecha onde afundei meu dedo como o de costume.

_ Hora de acordar._ Cantarolei baixinho vendo ela esfregar os olhos e sorrir antes de segurar meu rosto.

_ Bom dia mamãe._ Disse em seu tom meigo estendendo os braços pra mim me fazendo sorrir.

_ Bom dia meu monstrinho._ Falei antes de depositar um beijo em sua testa aproveitando do seu abraço para puxa-la pra fora da cama.

O que me fazia questionar a mim mesma, como eu pude um dia desejar me desfazer dela.

O meu maior tesouro.

Pouco após seguirmos até a cozinha, pegamos todo o café da manhã e levamos pra sala afim de aproveitar aquele momento juntas, como já fazia um tempo que não fazíamos.

_ Vai me buscar hoje na escola mamãe?_ Perguntou se acomodando no sofá enquanto eu procurava um canal de desenhos.

_ Hoje eu não posso garantir nada, mas se eu não for seu tio Guto vai, e sei que você gosta do mesmo jeito._ Comentei vendo seu sorriso espertinho.

Me sentei ao seu lado após achar o canal perfeito, e me preparei para colocar a primeira rosquinha na boca quando a campanha tocou atrapalhando meu momento.

_ Me espere aqui, e não coma os biscoitos todo._ Impliquei cutucando a barriga de Lili antes de deixá-la no sofá e seguir resmungando até a porta.

Aquelas vizinhas adoravam aparecer pra pedir coisas emprestadas no momento errado.

Eu só não contava que dessa vez não fosse nenhuma delas, o que me fazia considerar que talvez tivesse sido bem melhor se fossem.

_ O que faz aqui?_ Perguntei assim que abri a porta dando de cara com um idiota completamente distraído com o celular encostado na parede em frente a minha porta.

_ Bom dia pastel._ Disse Gustavo com o seu melhor sorriso implicante após guarda o celular.

Cruzei o braço em frente ao corpo ainda não acreditando que aquele abusado estava em frente a minha porta, praticamente de madrugada, agindo como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

_ Ainda não disse o que está..._ Antes que eu podesse terminar de repetir minha frase, Lili veio correndo puxando minhas pernas.

_ Vem logo mamãe, já vai começar o Clube das Win..._ Ela parou uns instantes analisando quem era minha companhia, até um largo sorriso surgir em seu rosto.

Ignorando totalmente minha presença alí, Guto se agachou e esticou os braços apenas para receber um abraço da pequena garota ainda completamente descabelada.

_ Bom Dia Títio, entla, vai começar o desenho favorito da mamãe, não podemos perder._ Disse Lili pegando na mão dele na tentativa de conseguir arrasta-lo.

E sem oferecer a menor resistência ele se deixou guiar pela criança, não sem antes soltar uma careta ao passar por mim, enquanto eu me mantinha com os braços cruzados e os olhos cerrados  em sua direção, como se tentasse deixar claro que eu ainda cobraria uma satisfação.

Mas por hora, eu resolvi me conformar em fechar a porta e terminar o meu café da manhã na ilustre presença de tal indivíduo.

_ Desenho favorito da mamãe é?_ Comentou com Lili na intenção de me atingir pouco antes de sorrir pra mim e enfiar uma rosquinha na boca.

Lili em sua inocência apenas assentiu junto a um largo sorriso enquanto eu torcia fortemente para que aquele folgado se engasgasse com aquela rosquinha pra parar de ser implicante, mas com o olhar de Lili sobre mim me limitei apenas a forçar um amigável sorriso.

Deveria pedir aos céus por paciência por saber que o dia estava apenas começando.

Minha Melhor DecisãoWhere stories live. Discover now