1

14 1 0
                                    

"olhos brancos"

eu não parava de andar por aquela casa, que a cada passo que dava parecia mais escura. aquele longo corredor interminável. 

estava ofegante, podia sentir meu coração socar meu peito. ouvia barulhos atrás de mim e eles estavam cada vez mais perto. não conseguia sentir meu corpo, só sentia como se estivesse desaparecendo aos poucos, algo estava me consumindo.

de repente tudo ficou preto, não enxergava nada e não conseguia mais me mover. ouvia alguns sussurros que não diziam coisas compreensíveis, senti um frio na espinha e o ar me faltou. meu pescoço foi envolvido por algo extremamente gelado que se assemelhava a uma mão com dedos muito pontudos, que estavam prestes a serem enfiados em minha nuca.

do escuro surge uma figura alta, com um aspecto morto, seus olhos eram profundos e bem brancos. seu corpo era feito de ossos escuros, como se estivessem sujos. tinha uma boca enorme e bem escura, os extremos pareciam ser costurados com uma lã bem grossa, ela estava em um formato triste. a criatura tinha cabelos espessos, grandes e bem escuros. ela fazia alguns sons agonizantes, como se uma alma desesperada estivesse presa lá.

seus dedos finos e com ossos bem demarcados, começaram a pressionar meu pescoço cada vez mais e comecei a sentir meu pulmão entrar em colapso.

acordei sem ar e transpirando, ainda era noite, minha janela havia permanecido aberta como eu tinha deixado, trazendo um ar quente para dentro do quarto, e minhas cobertas estavam todas no chão. aparentemente tudo tinha sido um sonho, mas eu ainda sentia aquela mão gelada em mim. pareceu muito real.

tentei dormir mais uma vez, meus olhos estavam bem pesados mas minha mente estava bem ligada. não quis pegar as cobertas do chão, aliás estava bem calor.

quando acordei na manhã seguinte estava bem frio, parecia até que estava nevando lá fora, o que me pareceu tremendamente esquisito num dia de verão. eu estava tremendo, decidi fechar a janela, pelo menos eu tinha cobertas em cima de mim, devia ter colocado durante a noite e não lembrava. deixei passar.

assim que me levantei vi algumas manchas pretas no chão, como se fossem pegadas pequenas, mas sem dedos. meus pensamentos foram direto ao Whiskha, meu gato de estimação, ele devia ter andado lá fora e sujado as patas com algum tipo de líquido escuro. sai do meu quarto a sua procura.

o chão fazia barulho de velho, e estava tão frio que era quase como andar em uma superfície de gelo. senti um cheiro horrível de algo estragado, parecia uma mistura de lixo sem coleta e comida queimada. assim que eu me aproximava da sala, ele se intensificava.

o cômodo aparentava estar normal, apesar de todo sujo daquele líquido preto. as paredes estavam sujas, o chão tinha manchas agora gigantes e eu não poderia imaginar o que diabos seria isso.

chamei por Whiskha, e nada. ele sempre vinha rápido quando alguém chamava, estranhei. acreditei que ele poderia estar dormindo depois de fazer besteira ontem a noite. decidi fazer minha coisas, tirar o lixo e depois limpar aquela sujeira.

assim que abri a lata de lixo para tirar o saco de lá, eu vi a coisa mais bizarra que já tinha visto. meu coração se quebrou em mil pedaços e minha mente se encheu de dúvidas, eu não podia acreditar no que estava vendo. uma grande poça de sangue envolvia meu tão querido gato branco, sua cara esboçava medo, seu tórax estava dilacerado. não conseguia me mexer. o que poderia ter acontecido?

senti um frio na espinha e lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. o chão começava a fazer barulho de novo, eu observei alguém chegando do corredor. uma menina de cabelos escuros, olhos verdes e... sou eu?

tudo fica preto, sinto um peso em cima de mim e logo abro os olhos. estou na minha cama de novo, Whiskha estava dormindo em minha barriga. foi um sonho? que porra estava acontecendo?

ainda era de noite, chequei meu celular e ele marcava duas e meia da madrugada. o quarto estava muito quente, mas ainda existia resquícios do frio no meu corpo. me sentia como uma criança que tem um pesadelo sobre algo sem sentido algum e acorda com muito medo, me sentia insegura.

decidi levantar e assistir um pouco de televisão, talvez me acalmasse e eu pudesse descansar para o dia longo de amanhã. peguei um suco de laranja na geladeira, que é um dos meus preferidos desde que me conheço por gente, abri a tampa e dei um longo gole daquela bebida gelada. sentei de volta no sofá e tentei prestar atenção no que estava passando, era um seriado qualquer dos anos 80, parecia interessante mas tinha muita informação para pouco tempo. fui trocando de canal até chegar em um que passasse algo que me agradasse, achei um de culinária, então ali fiquei vidrada em receitas que nunca faria por pura preguiça de sair de casa e arriscar algo novo na cozinha.

vi algo vindo da sombra até o sofá, era o meu gato, o que me deu uma pequena alegria, mas ele parecia assustado. veio do meu lado e não parava de miar e olhar para o teto, eu não estava entendendo. deixei quieto já que ele fazia isso de vez em quando.

senti algo gelado em minha cabeça, parecia se espalhar por todo o topo dela. olhei para cima e podia quase sentir meu coração saltar para fora do meu peito. era a figura de antes, mas agora muito mais visível, ela tinha pés assustadoramente pequenos e estava toda retorcida no teto com a boca agora num formato bem alegre. sua mão estava sobre minha cabeça e novamente, nem reação eu tive.

fechei os olhos e jurei estar sonhando. meu corpo estava deitado e pensei que obviamente estaria na cama, senti aquele peso em minha barriga de novo, que logo veio para o meu peito. abri os olhos e me deparei com o rosto daquela criatura, o abismo de seus olhos brancos parecia me encarar e devorar minha alma. lágrimas de desespero corriam pelo meu rosto, meu corpo ardia de ansiedade e era indescritível o que estava sentindo. ela colocou suas mãos no meu pescoço, tomei um tipo de choque térmico por conta das duas temperaturas diferentes, e eu estava muito acelerada. minha visão embaçava e meu ar estava ficando rarefeito.

seus grunidos me chamavam, me sentia leve como se um grande peso tivesse saído de dentro de mim. como em uma história repetitiva, eu abro os olhos de novo e me deparo com meu quarto. sonhei, tudo de novo.

agora não conseguia me mexer na cama, sentia algo me encarando mas não conseguia olhar. as cobertas foram lentamente puxadas de mim e o frio me invadiu completamente. ouvi o barulho do chão e gemidos extremamente desconfortáveis de alguém com muita dor, aquilo me dava um aperto no peito e estava prestes a chorar.

as luzes acenderam e eu pude escutar uma voz bem diferente da voz humana dizendo "você não precisa temer, eu vim aqui para pegar sua alma" e algum grunido falando algo como "não confie nos seus sentidos, todos mentem".

senti uma dor imensa e logo uma ardência, me sentia tonta de tanta dor. via sangue passando perto do meu olho. cheiro de pele morta. eu gritei o mais alto que pude e senti todas as minhas veias colapsarem. a pele do meu rosto tinha sido arrancada e retirada de mim com uma força extrema.

acordo. de novo. já não aguento mais. isso não parece real, me sinto presa numa repetição. decido tomar um banho para livrar minha cabeça de tantos pensamentos e pesadelos horrendos. entro no banheiro e me olho no espelho.

não tinha sido.... não tinha sido um sonho. meu rosto estava todo em carne viva, juntamente com o resto do meu corpo. eu gritei de novo e chorei de desespero, a porta se abriu e eu consegui ver uma figura acolhedora. uma menina de cabelos escuros.... olhos claros.... eu.
(...)





You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Mar 22, 2020 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

creepypastaWhere stories live. Discover now