Capítulo 2 - Thomas

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Uma semana se passou desde a leitura do testamento. Uma semana em que ainda não consigo ir até a empresa pela qual sou apaixonado. Uma semana em que não canso de reler essa maldita carta.

Por que brigamos tanto, pai?

Por que se foi antes de sermos os melhores amigos que um dia eu achei que pudéssemos ser?

Mais uma vez pego o papel já marcado de tanto ser dobrado e releio a parte que como um idiota marquei.

"Querido Thomas, nossos embates tiveram uma única finalidade, te fazer correr atrás do que realmente vale a pena. Permita travar uma última batalha com você."

— Não é uma batalha se não estar aqui para lutar comigo, pai. Como vou vencer se estou sozinho? Me deixou. Nunca me preparou para sua perda. Me fez ver a que não fomos uma família. Sabe o quanto doeu? O quanto dói agora ver o quanto fui e sou burro? Te amo e te detesto, pai. E sinto culpa por isso.

Amasso a carta e jogo para longe de mim.

Estou em casa após solicitar folgas de emergência. Meu chefe me ama tanto que ele me daria o mundo se eu pedisse. E quando digo o mundo eu não estou exagerando. Se eu quisesse a mulher dele por uma noite inteira ele mesmo a levaria e a buscaria na minha casa. E pelo olhar que ela me dá sempre que entra em minha sala, ela adoraria. E ele faria. Por todo o dinheiro que eu trago para sua empresa. O que dinheiro não faz.

Ele sabe que outro igual a mim não encontrará tão cedo. E para não me perder, ele faria qualquer coisa.

Continuo sentado no sofá do meu apartamento gigante, olhando o papel amassado ao longe. Ele parece zombar de mim. Parece gritar que estou sendo um idiota, que estou com medo e pior, parece me desafiar.

Ouço alguém bater em minha porta e sem coragem me levanto.

Danielle entra em disparada sem me cumprimentar.

— Algo aconteceu? — fecho a porta e a sigo preocupado pelo corredor. Ela entra em meu quarto e continuo seguindo-a até que ela entra no banheiro e bate à porta.

— Aconteceu sim. Uma emergência feminina. — ouço o chuveiro ser ligado. — Seu apartamento é mais próximo que o meu. Ainda tem alguma peça de roupa minha por aqui ou você já doou para alguma sem vergonha?

Sorrio.

— No meu closet.

Volto para a sala, pego o celular e peço almoço. Demora um pouco e ela aparece na sala de banho tomado.

— Sinto muito e obrigada. Você me salvou.

Dou de ombros. Danielle morre de medo de tomar contraceptivos e ter reações, já disse que ela vai se ferrar fazendo tabelas sendo que nem entende de tabelas.

Acaba sendo surpreendida. Já não lembro quantas vezes ela apareceu aqui por cólicas e emergências "femininas" como chama.

Senta-se ao meu lado no sofá enquanto esperamos o almoço chegar.

— Já se decidiu?

— Não.

— Ainda está nessa de precisar de um tempo?

— Eu preciso de um tempo. Estou pensando. Analisando.

— E a que conclusão está chegando?

— Que sou um idiota. Que aquela carta me desafia. Ele me desafia.

— Posso ver a carta? Você nunca me mostrou. Estou curiosa.

— Sinta-se à vontade. — aponto para o pequeno papel amassado.

— Sério? Você amassou a última carta do seu pai? Quantos anos você tem? Doze?

— Apenas me irritei.

— O que ela te fez? — pergunta quando volta a sentar-se ao meu lado.

— Ela existe. Ele devia estar aqui, mas não. Deixou uma maldita carta.

Vejo Danielle ler concentrada. Ela enxuga uma lágrima que escorre por seu rosto e me olha.

— Desculpa, a TPM está me matando. Não pode jogar essa carta, Thomas. É a última do seu pai. Ele te chamou de querido. Acho que ele se arrependeu de tudo o que te fez. De como foi duro com você.

— Acho que ele sempre me desafiou.

— Ou você a ele. Ele queria te ensinar algo, Thomas. Só você não ver. Seu pai queria ensinar algo aos filhos. De uma maneira esquisita, conturbada, mas queria.

— Queria nos ensinar a não confiar nele.

— Não, seu idiota. Ele queria dizer que as melhores coisas da vida vêm de forma difícil. Sempre quis a Damasco, mas o que fazia para tê-la?

— Eu apresentava todas as ideias a ele.

— Aceitou qualquer estágio ou emprego na empresa?

— Por que eu iria estagiar na empresa que seria minha?

— Viu? É isso. Arrogância. Só porque a empresa é sua queria chegar como o presidente? Sabe muito bem que administrar uma empresa não é apenas assinar contratos e ter lucros. Lutou por ela, Thomas?

— Lutei.

— Acho que esbravejou. Gritava tanto que a queria, mas quantas vezes foi até ela? Quantas vezes pesquisou sobre seu posicionamento no mercado? Nas redes? Quantas vezes você perguntou se as finanças iam bem?

— Quer jogar em mim a culpa do meu pai não me querer lá. Eu fui lá, eu falei com ele, eu tracei metas e planos. Eu sonhei com ela.

— Sonhos se não saem do papel, são apenas sonhos. Não pode chegar lá gritando que é o dono. Precisa conhecer a essência dela. Suas fraquezas, suas pontos fortes no mercado. Eu sei que quer essa empresa, Tho, mas não te vejo indo atrás dela.

A olho bravo.

— Sim, porque agora a culpa é minha. Eu que quis tudo fácil. Ele queria me ensinar algo, ele foi o pai exemplar e eu o filho desgarrado, não é assim, Dani? Não é isso que quer que acredite?

— Não. Só, quero que veja que há mil possibilidades.

— Não parece. Parece que agora ele é santo e eu o vilão. O que preciso fazer para ter sua aprovação? Morrer como ele morreu? — grito e a vejo se levantar brava.

Danielle caminha pegando suas coisas e segue em direção a porta.

— Sinto muito, Dani. Eu não queria gritar, não queria falar isso.

— Você é um idiota.

A puxo pelo braço e a faço me olhar.

— Fica. Pedi almoço. O que você gosta. — falo e a sinto puxar o braço.

— Não ficaria por mil nhoques. Coma sozinho, Thomas. Aproveita e se engasga com a comida, quem sabe assim não morre e eu passo a te ver como o mocinho e a comida a vilã? — diz e sai batendo a porta.

Volto a me jogar no sofá. Pego a carta e volto a amassá-la. Quase trinta minutos depois, a pego e tento salvá-la. O almoço finalmente chega e como sozinho.

Odeio estar sozinho.

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Lis_Santos02
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DeniliaCarneiro

Thomas - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora