Na verdade "Steve Rogers" era um nome que tentava a todo custo evitar, porque, por mais que James gostasse de falar de seu passado com o amigo, isso sempre o deixava um tanto cabisbaixo depois, e Savannah odiava vê-lo daquele jeito...

Queria que James falasse mais sobre si mesmo apenas, mas isso raramente acontecia... Pelo menos, depois da verdade ter ficado às claras, tudo se tornou mais simples, principalmente no quesito "atualizações sobre o último século".

Noites de filme no apartamento de Savannah, junto com o pessoal, eram frequentes. Ela já sabia, por exemplo, que James não gostava de filmes de ação com tiros ou esse tipo de coisa. Ele gostava bastante de ficção cientifica ou comédias bobas, o que tinha feito com que elegesse "De volta para o futuro" o melhor filme de todos.

Ele também não tinha nada contra romances, embora ficasse muito analítico sobre isso. Em Titanic ele teve a audácia de dizer que entendia o Jack, e que não havia outra coisa que ele podia ter feito a não ser ter dado a vida pela Rose. O que, é claro, fez com que Savannah desse uma aula didática sobre os dois caberem muito bem no maldito pedaço de madeira, enquanto Abby tentou convencer todo mundo que Jack era na verdade uma ilusão da mente de Rose, que a personagem criou por se sentir presa demais a família de merda que tinha, obviamente TJ descordou totalmente da prima e acusou que ela estava estragando a melhor história de amor de todos os tempos. A discussão só acabou quando Gus intercedeu dizendo "vocês sabem que isso é só um filme, certo?".

Pelo menos rendeu algumas boas risadas.

E Savannah sempre ficava feliz quando James ria. Não só porque ele tinha um sorriso absurdamente lindo, mas porque gostava de ver a tristeza, sempre presente, dissipar dos olhos azuis.

Ele estava fazendo progresso, tinha começado a ir nas reuniões do grupo de veteranos do Sam. Savannah descobriu que antes James ficava apenas na porta, mas o incentivou a entrar pelo menos uma vez e esse foi outro habito que ele acabou criando. Agora ia sempre, mesmo que Savannah soubesse que James ainda não estava pronto para falar de si mesmo lá dentro.

Mas progresso lento, ainda é progresso.

E assim os dias iam seguindo: James na terapia em grupo, Savannah no serviço novo, noites de filme com os amigos nas folgas, mensagens de texto o dia todo, Yoga e café pela manhã... Ele tinha mudado um pouco o apartamento, comprou o tapete e os puffs, trocou a mesa velha de madeira por uma nova e tinha repaginado totalmente a cozinha, finalmente aceitando testar um micro-ondas. O eletrodoméstico tinha ganhado um lugar no espaço, mas James ainda o odiava, porque "a comida ficava ruim", em contrapartida ele tinha se entendido muito bem com o multiprocessador.

A verdade é que Savannah amava ver os pequenos progressos dele, sentia muito orgulho cada vez que James se integrava um pouco mais com o presente e bem lá no fundo sabia que não conseguia mais imaginar a vida sem ele...

Abriu os olhos devagar, no intuito de se levantar, mas notou que algo pesava em sua cabeça, só então, depois de um movimento sutil, ela conseguiu ver o "peso": Alpine estava deitada confortavelmente sobre os fios ruivos espalhados no tapete, como se o cabelo de Savannah de repente tivesse se tornado a melhor das camas.

— James, olha só a sua filha... — Ela meio resmungou meio riu, evitando se mexer demais para não acordar a gata.

— Ela provavelmente gosta do perfume do seu cabelo. — Conseguiu ver James olhar por cima da bancada...

Os fios castanhos estavam presos, como ele mantinha sempre enquanto cozinhava; um sorriso leve aparecendo por debaixo da barba cheia; o brilho da manhã no azul límpido de seus olhos; e os ombros largos parcialmente expostos por causa da regata branca que trajava.

INVERNO ARDENTE | Bucky Barnes ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora