Seja rico, poderoso e mate o Drácula part. 4

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Fôra 1968, quando tinha 14 anos. Após o assassinato inesperado - de Augusta, eu tive de fugir do orfanato com meu namorado e pai de Gina, André. No início vagavamos pelas cidades rurais de São Paulo, alimentando-se de pequenos frutos - perdão furtos, banhavamos em rios, andávamos a noite e dormiamos em moitas e arbustos durante o dia. 
Quando chegamos na cidade de Santo André, como era de praxe,  André estava no centro furtando carteiras, eu dava golpes. Um bom vampiro sempre deve ter alguns golpes na manga para momentos de necessidade de sangue ou dinheiro. E eu o deixarei escrito alguns já que não poderei ensiná-lo face a face.
Golpe da boa samaritana, consiste em encontrar um bom lugar com pessoas que  pareçam facilmente  manipuláveis, normalmente são os homens que usam calções. Monte um palanque , pegue uma bíblia ou qualquer livros preto, a maior parte das pessoas só acreditam no que dizem a elas sem fazer questionamentos, principalmente na América Latina dos doces anos 60. Então pegue algo sobre a salvação, fazendo todos ficarem com medo de serem condenados a um lugar imaginário onde o fogo nunca acaba - o que seria impossível, para tanto seria preciso um combustível eterno, e este não existe.
    Então cite com confiança : João 3:18 , não te apresentes a mim de tesouros escondidos, antes limpa-te da ambição dando esmolas aos órfãos e viúvas.
     Era a década de 60, de um lado tinha o fato da maior parte da população ser semi-analfabeta. Doutro apesar dos heróicos militares terem tirado os comunistas do poder e posto Castelo Branco no lugar, o povo passava dificuldades e sofria os males do desemprego.
    Além dos pobres, egoístas, ateus e inteligentes também darão as costas. Para evitar o efeito manada - cujo faz com que idiotas apenas imitem os outros - dê a carta final: E muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos. Obedece a meu chamado para que eu não negue-te ao meu pai, Samuel 14:21.
    Estenda um chapéu no chão e diga estar arrecadando dinheiro para um orfanato. Eu recolhi quase 60 mil cruzeiros naquele dia.
Golpe da tia amaldiçoada é simples, desde que você tenha sorte. Consiste em tentar adivinhar nomes. Em um local com pouca circulação esbarre em alguém sozinho de preferência com um olhar triste. Então finja convulsão, revire os olhos e diga "Paulo é você?". A primeiro momento você deve achar mais seguro nomes como José ou João, mas estes são muito óbvios, além de raramente serem os primeiros nomes. Se ele responder ou se assustar como se perguntando "como ela sabe?", continue: "eu estou com saudade... Sou eu, sua tia Ana". 
Espere ver se funciona: Tia Ana Teresa, irmã da mãe de minha esposa?
Sim, sou eu rapaz. E diga coisas óbvias, como: "Não acredito que estão tendo problemas no casamento", "tenho visto o quanto você não é reconhecido no trabalho", "as dívidas estão impossíveis de serem pagas"... 
"Querido, preciso dizê-lo. Você nunca será feliz" complete com “você tem estado longe de Deus”, isso sempre chama a atenção dos sugestionáveis, ou, “você tem estado longe de sua família”, este é o local que todos querem mantê-la. "A alma dessa pobre criança já quer voltar" evite falar muito, até o mais retardados vão perceber em algum momento. "Toda nossa família vive amaldiçoada" como todos os brasileiros "apenas  você pode ajudar, já que é o mais imaculado da família. Filho, eu morri antes de pagar as minhas promessas com Nossa Senhora Imaculada". 
Oh, Santa Misericórdia! E o que devo fazer?
"Vá agora mesmo na igreja mais próxima e deixe no altar 50 mil cruzeiros. Não conte a ninguém e reze o terço inteiro sem abrir os olhos nenhuma vez" volte ao normal como se fosse apenas uma  pessoa que esbarrou "desculpe senhor. O senhor está bem?". Quando ele for a igreja siga e pegue o dinheiro no altar.
Golpe mais fácil de todos, fique em um lugar silencioso e pouco movimentado com uma caixa grande e pesada. Finja que não consegue carregá-la. Quando um homem se oferecer para carregar por você. Ofereça de carregar as coisas dele e saia correndo.

O manual do vampirismoWhere stories live. Discover now