I - O sonho de um Deamorte.

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Numa realidade alternativa, a terra está se destruindo em níveis exacerbados, não restando muita coisa nela. Boa parte dos animais, já está extinta e a natureza mesmo ainda resistindo, mostra-se à beira de um iminente colapso.

Temperaturas chegam a atingir os 60 graus Celsius a nível mundial, Antártica se tornou uma lenda, pois já não resta sequer um cubo de gelo lá. Vulcões antes adormecidos, tornaram a entrar em erupção, e alguns dos maiores rios, simplesmente desapareceram.

Mas, mesmo com essa crescente destruição causada pelos Homens, eles tendem a piorar dia após dia. Hospitais são atacados, a força policial quase que não existe, e vezes sem conta, dirigentes iniciam guerras, para poder explorar da parte vencida, os recursos que ainda lhes restam.

- Vendo o cenário em que vivemos, você quer mesmo tentar mudar o mundo? - Vídife Deamorte, um homem musculoso alto, de pele branca, perguntou ao seu filho, pegando o ombro dele.

- Sim pai. Se o mundo continuar assim, em pouco tempo ele irá morrer. - Zinn Deamorte, um homem musculoso alto, de pele negra, respondeu olhando de forma intensa ao pai.

- Você com essa conversa novamente? Você lembra que nós somos imortais nem? - Lanna Deamorte, uma mulher magra alta, de pele branca, perguntou olhando para o seu irmão.

- Nós não somos imortais, só morremos mediante uma condição. Não esqueça que há uma maneira simples de sermos mortos. - Zinn falou, fixando seus olhos vermelhos na irmã, que entrava na enorme sala de estar.

A sala era enorme, repleta de lustres azuis, um enorme sofá preto, uma TV de 40 polegadas, uma mesa de centro com algumas revistas, um grande tapete feito com a pele de ursos, e muitas fotografias famíliares dispostas nas paredes.

- Que seja. O facto é que ninguém de fora pode nos matar, por isso, mesmo que o mundo morra, nós sobreviveremos. E o mundo já deu o que tinha que dar. Será melhor assim. - falou com uma frieza que se notava nos seus olhos azuis escuros.

- Já te falei inúmeras vezes para deixar de ser egoísta Lanna.

- Falou o papai. - Lanna falou saindo da sala com ódio nos olhos.

- Vocês têm de parar com essa distância. São pai e filha, deveriam ter alguma proximidade e confiança um no outro. É por causa de discórdias, que o mundo está na situação em que se encontra.

- Você é o meu filho mais velho, mas também o mais ingénuo. O mundo está como está, porque a humanidade não deixa de ser gananciosa, e egoísta. Todos querem ter riqueza, e não poupam esforços para a conseguir, mesmo que isso signifique destruir a natureza, e os outros seres. - Vídife falou levantando do sofá, jogando seus longos cabelos pretos lisos para trás.

- Se sou ingénuo, me ajude a reconstruir este mundo decadente.

- Zinn, eu já fiz tudo o que devia, para ajudar esse mundo, mas depois do que fizeram a tua mãe, prometí nunca mais me intrometer nos assuntos dos Homens. E pretendo cumprir o que me prometí. Mas você é quem toma decisões sobre o que quer fazer. Já sabes o que terás de enfrentar para mudar o mundo. Se destruíres o núcleo talvez tenhas sucesso. Mas isso é só suposição. Não podemos culpar só aos influenciadores, os humanos também têm sua participação. Mas não me meterei, preciso conseguir resistir até poder ter quem amo. - Vídife falou de costas para o seu filho, derramando uma lágrima, fazendo seus olhos vermelhos brilharem, enquanto saía da sala.

"Não quero te perder também filho. Mas não tenho como te parar. Só não morra." - Vídife pensou com um ar de tristeza, enquanto limpava as lágrimas que escorriam sem que ele pudesse impedir, parado na porta da sala, olhando para o seu filho que estava cabisbaixo.

Horas depois...

- Irmão, o que está pensando aí? - Savvina Deamorte, uma mulher magra alta, de pele negra, perguntou com uma maçã na mão, entrando na sala de estar.

- O que mais seria? - perguntou tirando da face, os seus longos cabelos castanhos encaracolados, que bloqueavam a sua visão.

- Zinn, Zinn, Zinn. Ele negou não é mesmo?

- É. Enquanto ele seria de grande ajuda para trazer de volta o mundo...

- O mundo ideal. O mundo que os nossos pais tiveram o prazer de ver. Um mundo que você viveu, e que eu me lembro tão pouco. Mas que ainda assim sei que era belo. - Savvina falou dando uma grande mordida na maçã, acomodando-se no sofá.

- Com a ajuda dele, tudo voltaria a ser como antes: um mundo onde não existiam pobres, a natureza seguia seu curso natural sem problemas, e os animais não sofriam. - Zinn falou olhando para frente, como se visse esse mundo.

- Você sabe que depois do que aconteceu a nossa mãe, ele não poderia te ajudar, já que isso iria contra a promessa que ele se fez.

- Pior que ele me disse isso Savvina. Mas e você? Há tempos que venho pedindo isso: aceita me ajudar?

- Olha se não são os dois maninhos conversando.

- O que você quer aqui Lanna?

- Ah Savvina, por que tão rude comigo? Aposto que o Zinn deve estar te enchendo com os choramingos dele. - Lanna aproximou-se e foi sentar num canto distante do sofá.

- Não são choramingos. Ao contrário de muitos aqui, ele quer salvar esse mundo.

- O único problema, é você querer salvar um mundo que não quer ser salvo. - Lanna falou olhando para Zinn. - E entendam os dois: o mundo vai colapsar e nós seremos os únicos sobreviventes. - Lanna sorriu ligando a TV via comando de voz.

- Há pessoas que clamam por socorro, e eu quero alentar essas pessoas. E se ninguém mais quiser ajudar, eu irei tentar fazê-lo sozinho, mesmo que isso leve a vida toda. Ouça bem Lanna Deamorte: eu farei de tudo para que o mundo de ontem (o mundo ideal) se torne o mundo de amanhã. Um mundo sem sofrimento, sem fome, sem dor e sem guerras. - Zinn falou olhando para Lanna que começou a rir.

- Mundo ideal? Você deve estar brincando. Você está mesmo dizendo que quer transformar o mundo actual naquele que costumava ser: cheio de fartura e paz? Eu acho isso uma grande patetice, porque os humanos jamais voltarão a ser o que eram (homens sem egoísmo). Não viva nas sombras do passado irmão. Quem vive do ontem, não vê o hoje, e não terá um amanhã brilhante. - Lanna sorriu após falar.

- Você deve achar isso uma patetice já que quando nasceu, o mundo já estava diferente. O egoísmo já tinha se apoderado dos humanos. - Savvina falou terminando de comer a maçã. - Conte comigo Zinn. Vamos salvar a humanidade e provar a Lanna que o mundo pode mudar.

- Olha os sonhadores. Eu não conhecí esse mundo mesmo, já que sou a mais nova, mas tenho certeza que ele não retornará. Ele só existirá nas vossas lembranças. O único lugar onde existe um mundo sem guerras e sem sofrimento, é na imaginação das pessoas. - Lanna falou desligando a TV por estar aborrecida e saiu da sala.

- Obrigado por finalmente aceitar me ajudar. - Zinn sorriu para Savvina que piscou para ele.

- Agora seria bom ter mais auxílio. - Savvina falou olhando para Zinn que parou de sorrir.
- Não há mais ninguém aqui em casa que irá ajudar.

- Faz algumas horas que eu queria aceitar a proposta que já vinhas me fazendo há algum tempo. Por isso tomei a liberdade de procurar pessoas que talvez possam nos ajudar.

- E encontrou? - Zinn perguntou esperando uma resposta positiva.

- Encontrei um que talvez ajude. Ele vive dentro de um vulcão inactivo e se encaixa no perfil das pessoas para essa missão. O nome dele é Hillolo Cargui.

- Cargui? Essa não é a família que...

- É. É sim. - Savvina respondeu olhando para Zinn que tinha um semblante de preocupação.
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O que será que há por detrás da família Cargui? Algum palpite?

Bom, até o próximo capítulo.

Sombras do passado [Concluído]Where stories live. Discover now