Vinte e Quatro

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Olá, lindxs! Como está o domingo de vocês? Hoje é dia de capítulo do Nick e Kickoff. Boa leitura e até terça :)

Paris, França, 16 horas antes

Sentado junto ao bar de um pub local, bastante reservado, fito o copo de uísque escocês que está entre as minhas mãos. Se alguém estivesse me observando, poderia até dizer que de alguma forma eu queria levitar o tal copo só com a força da mente, de tamanha a minha concentração na bebida cor de âmbar. A realidade é um pouco mais sem graça, e até deprimente para mim.

Sentado junto ao bar estava um cara que tinha uma boa carreira, dinheiro, e uma merda de vida pessoal, que o faz estar enchendo a cara as 9 horas da manhã de uma terça-feira. Minha família fode a minha vida sempre que pode, me envolvendo nos seus negócios que eu luto para ficar longe, e a chatice é que eu não tenho voz ativa para tudo o que está acontecendo; não quando o meu pai é que é, e não posso fazer muita coisa quanto a isso. Afinal, quem escolhe a família que vai nascer?

Se tivessem me perguntado, eu não teria escolhido viver com a estigma de ser um herdeiro do Pazinatto, e estar envolvido em chantagem, sequestros, tráfico e até mesmo mortes. Não literalmente envolvido, veja bem, basta ser eu e automaticamente isso também tem a ver comigo. É assim que funciona com a máfia, não importa o quanto você fuja, uma hora acaba no meio de um conflito entre dois capos, mais precisamente, acaba virando peão nas disputas deles.

O foda de tudo isso é que eles se envolveram de uma tal forma que acabou por afetar as pessoas que são importantes para mim, e principalmente meu relacionamento com a Valentina, que cá entre nós, por si só já era complicado. A francesa havia dado espaço na vida dela não só para um idiota –lê-se eu- como também para a porra da máfia! E detalhe: ela nem mesmo sabe.

Sinto a raiva por toda essa situação dominar o meu corpo, e numa ação impulsiva pego o copo de uísque e tomo o conteúdo num único gole. A bebida desce rasgando pela minha garganta, meus olhos ardem com lágrimas não derramadas, e sinto o meu rosto ardendo. Porém, logo em seguida vem uma certa calmaria, que aquece a minha barriga e sinto meu corpo relaxar um pouco mais.

Primeiro a tempestade, depois a calmaria.

- Há um motivo para as pessoas servirem uísque numa quantidade pequena. – Uma voz fala ao meu lado.

Viro para encontrar um homem sentado no banco a minha direita, ele estava vestindo casualmente com jeans e camiseta branca. Seu rosto aparentava algum indicio de sinais da idade, o que me levava a crer que ele deveria ter os seus quarenta anos, talvez um pouco menos. Mas os seus cabelos escuros com alguns fios de prata fortaleciam que talvez ele estivesse na faixa dos quarenta anos mesmo.

- O preço da garrafa? – Retruquei, voltando a encarar o meu copo, agora vazio.

- Também, mas o motivo real é que se trata de uma bebida forte, que se deve beber aos poucos.

- Obrigada pela informação. – Disse com sarcasmo.

- Duas dozes do seu escocês, por favor. – O desconhecido pediu ao barman, que prontamente colocou dois copos e os encheu com mais uísque. – Com gelo ou sem? – O estranho dirigiu a pergunta a mim.

- Estou parando por aqui.

- E negará a um velho homem uma companhia?

Suspirei.

- Sem gelo. – Respondi, não era como se eu tivesse muito o que fazer.

- Boa escolha, meu jovem. – Disse e empurrou um copo na minha direção, eu o peguei sem virar para encará-lo. Meu foco sempre no balcão do bar, a minha frente. – O que leva um rapaz como você a um pub a essa hora do dia?

- Nada, pensei que seria uma boa ideia encher a cara ao raiar do dia. – Respondi secamente, e tomei um pequeno gole da minha bebida.

O homem soltou uma risada.

- Ela deve ter feito picadinho do seu coração.

- Hum. – Foi tudo o que disse.

- Sem comentários? Tudo bem. Ela é uma bela moça, posso entender o porquê desse seu estado.

Isso fez com que a minha atenção voltasse para o desconhecido.

- O que você disse?

- Ótimo, agora tenho a sua atenção. – Ele abriu um leve sorriso. – Acredito que recebeu o bilhete.

- Foi você que enviou a ameaça?

- Não, mas trabalho para a pessoa que a enviou.

- O que você quer?

- Fazer negócios, claro. Você pode chegar perto de Ezio quantas vezes você quiser, afinal você é o filho dele.

- Meu pai e eu não somos próximos, não sei nada sobre os negócios dele e nem quero.

- Infelizmente, rapaz, no nosso ramo não existe essa coisa de querer ou não estar envolvido, principalmente que se é filho de um capo.

- Eu. Não. Estou. Envolvido.

- Vamos falar da garota? Bonita, tatuada, tem um apartamento no 51.

- Deixe ela fora disso. – Rosnei, e notei que comecei a suar.

- Então, você irá colaborar?

- O que você quer?

- Quero informações sobre um carregamento que chegará a Ezio, muito dinheiro envolvido, muito mesmo. Você dará um jeito de conseguir tais informações, dia, hora, quantos guardas, esquemas de segurança.

- Impossível. – Disse incrédulo.

- Está sentido, não? O calor, talvez um pouco zonzo?

- O que você colocou na minha bebida?

- Foi uma pequena dose, quando passar será como uma grande ressaca. Mas, uma dose grande e pronto! Jovem loira encontrada no seu apartamento, overdose. – O homem fez um cara triste. – Tão nova, um futuro inteiro pela frente.

Fiquei de pé, sentindo meu coração agitar. Passei pelo homem e fui em direção a porta, mas não antes de receber mais um aviso do desconhecido.

- Faça a sua parte, e nada acontecerá. Entraremos em contato em breve.

Saí andando meio cambaleante pelos paralelepípedos, tentando colocar os meus pensamentos em ordem. Uma mão pousou no meu ombro, fazendo-me dar um salto. Alec, o meu segurança olhava para mim preocupado.

- Tudo bem, senhor?

Senhor? Eu sou possivelmente 8 anos mais novo que ele.

- Sim. – Ele me olhou com suspeita, sei que eu aparentava estar bêbado igual um pirata. – Estou beeem.

Alec franziu a testa, e estava prestes a pegar o celular, sei para quem ele iria ligar e eu não precisava do Zach agora e suas lições de moral. Não, o que eu precisava era resolver a merda dessa situação, eu precisava de um plano. E foi justamente isso o que eu tive.

- Alec, pegue o carro, temos um lugar para ir.

NickOnde as histórias ganham vida. Descobre agora