Capítulo 03 - O Meu Eu

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Enquanto abraça o marido Cindy vê o anjo entrando no banheiro.

-Precisamos ir - diz o anjo calmamente se aproximando de Cindy.

-Eu não posso ir pra lugar nenhum, eu tenho que ficar com ele.

-Ele vai ficar bem, agora precisamos cuidar de você.

-Aonde você vai me levar? eu não tô pronta partir.

-e não vai - diz o anjo com um leve sorriso de certeza. Cindy sentiu confiança naquele sorriso, mas ela não queria de forma alguma sair do lado do marido que agora chora como uma criança que acabará de cair e se machucar.

-Ok... tudo bem... eu preciso mesmo saber o que de fato está acontecendo comigo porque até agora eu não entendi nada. Na verdade eu acho que sofri uma pancada muito forte na cabeça na hora do acidente e agora tô delirando com tudo isso.

-Não, você não está delirando, tudo isso aqui é real, nada do que aconteceu foi em vão, você está tendo uma nova oportunidade de ver a vida com outros olhos através dos seus próprios olhos.

Cindy abaixa a cabeça e fica olhando seu marido enxugando as lágrimas, ela ainda está abraçada a ele, após alguns segundo ela volta seu olhar sério encarando o anjo que está de pé perto da porta do banheiro.

-Mas do que é que você tá falando?

-Vem comigo - ele dá alguns passos a frente e estende a mão e mesmo receosa Cindy a segura levantando-se em seguida e olha novamente para o marido que ainda está desolado ao chão. Em seguida Cindy e o anjo caminham por uma rua um pouco movimentada alí próximo. Já está de manhã.

-Nós já estamos andando já a algum tempo e você está calado até então, e aí, vai me dizer o motivo disso tudo estar acontecendo comigo ou não? - diz Cindy, indignada acelerando o passo tentando acompanhar o anjo.

ele sorri - Quando eu fui designado para essa missão eu já sabia exatamente com quem eu estava lidando.

-Como assim?

-Você é uma boa pessoa Cindy, eu posso não ser seu anjo da guarda, mas eu sei muita coisa sobre você e também sei que você não deveria estar passando por isso, mas é necessário para curar o seu interior e o de várias pessoas.

Eu realmente não estou entendendo nada. Eu te faço uma pergunta e você não consegue me responder coisa com coisa, assim fica difícil.

Mais uma vez o anjo sorri e diminui a intensidade da caminhada - Cindy, sofrer uma perda é doloroso, passar por problemas é difícil, mesmo sendo problemas fáceis de serem resolvidos ou aqueles bem grandes sempre é complicado, mas o que faz da gente seres humanos, é a humildade. Você perdeu um filho, viu a empresa que você tanto lutou para manter de pé caindo como um castelo de areia, você passou por tantas coisas e não aprendeu o mais importante delas, sair com um aprendizado, sair de cabeça erguida e disposta a melhorar a própria vida e as vidas das pessoas que estão ao seu redor.

Cindy para de caminhar e aborrecida enfrenta o anjo - Calma, calma, deixa eu ver se entendi, quer dizer que esse acidente e tudo isso que está acontecendo comigo é culpa minha? é um tipo de karma? tudo que vai volta?

-Não foi isso que eu quis dizer.

-Mas é o que você tá dizendo! você que se diz anjo que poderia estar me ajudando de alguma forma a voltar pro meu corpo e acabar com tudo isso que está acontecendo, resolveu andar comigo e falar que é culpa minha?

-Cindy, você está confundindo as coisas.

-Eu não estou não - uma pausa, Cindy respira fundo e em seguida ela retorna a fala calmamente querendo não perder o controle - eu e o Brad fizemos o possível pra salvar do nosso filho, eu daria a minha vida pela vida do meu filho, nós gastamos uma fortuna pra ajudar nosso filho, eu rezei tantas vezes, me humilhei aos pés de Deus, quase a minha empresa vai falência, a minha vida se tornou um inferno, eu perdi o meu filho, perdi meu casamento e agora eu tô aqui, fora do meu corpo entre a vida e a morte conversando com um suposto anjo que aproveitou a situação pra me dar lição de moral. Se eu me tornei uma pessoa tão ruim como você tá querendo dizer, então por que você está aqui comigo? por que eu estou aqui? eu deveria estar no inferno ou nem o diabo me quer lá, eu sou tão desprezível assim?

-Deus não abandona ninguém, são as pessoas que abandonam Deus, você já parou pra pensar quanto tempo fazia que você não falava com ele? anos. Você só tentou se reaproximar de Deus na hora da dor, na do sofrimento, você precisou ver seu filho morrendo pra pedir clemência a deus? Deus não matou seu filho.

-Então por que ele o levou?

-Porque todos nós temos um propósito.

-Deus, matou uma humanidade inteira afogada em um dilúvio, ele queria se livrar das pessoas más e ele resolveu levar as boas junto, se Deus fez tudo isso por que não seria diferente com o meu filho? por que o final do meu filho foi tão doloroso? por que Deus cria um propósito de vida e leva a pessoa tão cedo? que tipo de criador é esse?

-Deus é não é perfeito, ele cometeu um ato achando que estivesse fazendo a coisa certa e depois que viu as consequências se redimiu, se arrependeu. Você faz parecido, age achando que está acertando mas na verdade comete um erro atrás do outro. Você tem um vazio tão grande e tenta a todo instante preencher esse vazio agindo como se você fosse forte. Cindy por mais que você seja independente de si mesma, os seus atos podem desencadear uma série de consequências, nada diferente de Deus no dilúvio.

-Isso pode até fazer sentido em algumas coisas, mas e nas mulheres que se diziam minhas amigas e que tramaram contra mim, você estava e ouviu tudo também, quer dizer que só por que eu não iria emprestar dinheiro elas tentaram me matar, é isso? quer dizer que eu colaborei para minha própria tentativa de assassinato?

-Não, você foi uma vítima, o que aconteceu com você poderia ter acontecido com qualquer pessoa. A humanidade está cercada de pessoas más. O que aconteceu com você não foi karma, não foi a vida lhe cobrando algo, embora muitas das nossas ações se refletem lá na frente para o bem ou para o mau. Cindy, essa é a sua chance de se redimir, uma hora ou outra você teria esse momento, mas como você sofreu um acidente, esse momento foi o ideal para você ser ajudada.

-Mas eu nao entendo, pra que tudo isso? o que foi que eu fiz assim de tão ruim? me explica!

-Tudo no seu tempo, eu vou acompanhar você a todo instante, mas você precisa se olhar, a maior mudança vem de você. Nesse momento uma névoa branca engole Cindy e o anjo, ela as mãos sob o rosto. Em seguida ela sente a névoa se distanciando, ela olha ao redor e do outro lado da rua, vê uma mulher na porta de um restaurante, aquele rosto era familiar, Cindy tenta focar mais em tentar reconhecer o rosto daquela mulher que está vestida com farrapos, suja, pedindo ajuda a quem entra e sai do restaurante e a quem está passando pela rua. Cindy atravessa a rua lentamente se aproximando mais ainda daquela mulher, em seguida, ela a reconhece, a mulher se chama Nancy e era uma de suas funcionárias. Em um dejavu, Cindy se recorda de ter a demitido por Nancy não ter fechado a garrafa de café e a tê-la deixado na mesa de Cindy que por um descuido encostou na garrafa e o café jorrou sob seu notebook e documentos importantes da empresa, mas mais do que isso, um desenho feito pelo filho em uma folha de caderno enquanto esperavam a sessão de quimioterapia, o desenho feito de bonecos de palito mostravam Cindy, Brad e ele na frente da tão sonhada casa em São Francisco. Cindy humilhou e demitiu Nancy que é orfã e tinha acabado de chegar na cidade. Após se recordar de tudo, Cindy abre os olhos que estão cheios de lágrimas, elas os fecha novamente e respira fundo. Um.... dois...

(PLAY MUSIC) SIA - I'M STILL HERE

Cindy caminha pelo corredor do hospital, ela entra no quarto onde está internada, naquele momento somente a sua mãe estava ali, sentada na poltrona virada para cama da filha fazendo a única coisa que podia naquele momento, orar pela vida dela. Cindy abre um leve sorriso. Em seguida, o anjo surge ao lado mãe dela, ele caminha lentamente até sua direção - Vamos? - ele estende a mão.

-Sim, me olhar com meus próprios olhos - diz ela sorrindo.

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⏰ Last updated: Jan 27, 2020 ⏰

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