Robert

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(não, este capítulo não vai explicar a origem do nome do pai das meninas, é só para situar vocês de algo que ocorreu antes mesmo dele casar com Elinor...)

O jovem Robert Graham Blair não se lembrava de onde tinha deixado sua peruca. Provavelmente esquecera na casa de tolerância daquela madame que se dizia francesa, mas tinha um sotaque tão ruim que ele preferia beber a ouvi-la falar, como se tivesse realmente nascido na França.

"Pelo menos o vinho era fabuloso", pensou ele, trôpego, enquanto caminhava alegremente na direção do elegante sobrado da família em Grosvenor Square. Contava que o pai estivesse dormindo, e não ralhasse com ele ao chegar. "Se bem que o velho reclama até mesmo se eu acordo cedo. Nada do que faço causa uma boa impressão", concluiu Robert, procurando no bolso da calça a chave de casa.

Com bastante dificuldade, abriu a porta e caminhou pé ante pé pelo hall, sem perceber a aparição quase fantasmagórica de Virgil, o sóbrio barão Sedwick, que o aguardava de pé, próximo às escadas.

- Outra vez bêbado e gastando dinheiro com cortesãs!

A voz do pai já não disfarçava mais o cansaço em estar decepcionado com o filho. Esperava algum tipo de responsabilidade do rapaz, mas Robert conhecia apenas a diversão e o ócio.

O herdeiro coçou os longos cabelos loiros, sua maior vaidade, e deu um meio sorriso, zombeteiro:

- A doce rotina de um nobre, meu querido pai. C'est la vie!

- Não! Tens formação de advogado, já poderia se assenhorar de nossas propriedades e cuidar do castelo da família!

- Odeio Leicester!

- Mas é tua herança! O que pensas que fará quando eu me for? Prosseguir com essa vida vadia?

Robert deu de ombros, caminhando na direção da escada a fim de evitar a conversa com o pai. Entretanto, Virgil travou-lhe o braço e parecia irredutível em seu sermão.

- Acabou a farra! Ou você se assenta na vida, ou eu te deserdo!

Em resposta, Virgil recebeu um riso de escárnio, refletido na expressão irônica refletida no brilho cruel dos intrigantes olhos azuis de Robert.

- Deserdar-me? Sou filho único! Doará a fortuna à caridade?

- Não... Assumirei o meu filho. Lembra-te de Arthur? Ele é um militar, tem desempenho excelente, um oficial respeitado-

- Ahh... O bastardo! Queres doar a fortuna para o filho da escrava? Logo quem, o seu queridinho!

- Ao menos ele faz valer as oportunidades dadas, e tu? Sempre tiveste tudo! É isso que farei! Vou oficializar Arthur como um Blair. Ele será o filho mais velho e herdeiro!

- NUNCA! – o grito de Robert foi tão alto e firme que fez algumas velas dos candelabros acesos na sala se apagarem. – Eu sou o único filho, o único herdeiro! Não vou dividir nada com o bastardo!

Virgil cruzou os braços. O rapaz só entendia a língua do dinheiro.

- Então... Se assente. Assuma suas responsabilidades, a começar pelo casamento. Nossa família tem um contrato de casamento com amigos há alguns anos: a moça é filha de um Sir bastante honesto e de boa índole; e a família dela é vasta. Ela é filha única, mas tem muitos primos com vários filhos.

- Alguma caipira... Por Deus! Nem a esposa posso escolher! Poderia dar essa daí para meu irmãozinho querido, que tal?

- Seja respeitoso! Elinor Vaughn é uma donzela educada e culta. Será uma excelente baronesa e gerará o nosso herdeiro. Quero vários netos!

Não tinha como questionar as decisões do pai. Contratos eram contratos, especialmente entre famílias. Restou a Robert ter que assumir aquela responsabilidade para continuar sendo o barão e evitar a perda de seus privilégios.

Subiu as escadas sem ouvir o resto das recriminações de Virgil.

"Vou dormir, a minha ressaca será ainda pior depois dessa notícia pavorosa!"

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