Prólogo

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Chorosa, Alyssa sentia-se impotente, vendo seu pai no estado que estava.

O homem que antes a carregava junto de sua irmã Amber nos ombros sem maiores problemas, agora estava acamado, cercado por equipamentos e em três anos sua aparência envelheceu quase como se tivesse passado vinte.

Sua leucemia avançava depressa e nem mesmo mais três anos de vida o senhor possuía mais, segundo os médicos.

— Já decidiu o que vai fazer, menina Alyssa? — a enfermeira particular de seu pai a disse em tom calmo.

Como nunca sentiu nada por homem algum, Alyssa optou por estudar e, ao se formar na sua segunda faculdade, decidiu que iria para Espanha, onde recebeu a oportunidade de viver num convento dando aulas de inglês e espanhol as noviças. Dessa forma a mulher seria útil se alguma forma e não seria forçada a satisfazer o último desejo de seu pai. Que era ver uma das suas garotinhas, ela ou Amber, casada com um bom marido.

O combinado com sua irmã foi, ela deixaria de estragar a imagem de Amber agindo como queria, em troca a sua gêmea continuaria com seu bom trabalho sendo a filha exemplar. Ao mesmo tempo, a segunda Kane estaria casada com Cristo.

Sim, Alyssa Katherine Kane, estava mais que avisada, na verdade seu pai já havia deixado bem explícito que a deserdaria, mas nada daquilo importava a ela. Pois no convento não faria nada além de dar aulas e com isso poderia comer e dormir por lá mesmo, não precisando de dinheiro algum pelo resto da sua vida.

Pensamento oposto ao de sua irmã, Amber Katherine Kane, que apesar da igualdade física era oposta em ações a sua irmã quase uma freira. Amber vivia de um namorado para o outro e logo que soube que para herdar o empório farmacêutico precisaria casar, logo arrumou um pretendente e o agarrou com muita força.

Tudo pela oportunidade de herdar sozinha tudo que a família andou construindo ao longo dos anos. Como esperado, movida ao seu amor pelo dinheiro. O que era algo surreal para Alyssa, que mais uma vez ficou com seu pai, após sua irmã desistir de ir cuidar dele por conta de uma reunião com acionistas importantes.

Rendendo a Alyssa mais uma noite no hospital, totalizando três dias que não saia de lá para nada. Pois tinha medo de deixar seu pai sozinho e perdê-lo para a doença maldita que só ganhava mais terreno na luta com os médicos e remédios.

— Mantenho minha decisão. De qualquer forma ele vai casar uma de nós, não vai? — faz pouco caso do olhar reprovador de seu pai usando a máscara de oxigênio.

Seu coração doía por desapontá-lo, mas precisava se manter em sua decisão. Se estivesse possibilitado ele a daria uma surra pela resposta malcriada, mas sabia que vivendo na obra para o Senhor, não precisaria preocupar-se com coisas tão supérfluas quanto dinheiro e heranças. Tinha suas crianças e aquilo bastaria.

— Deveria ao menos desistir da sua ideia absurda, Aly! Tenho certeza que seu pai ficaria muito feliz de ao menos apresentá-lo a alguém...

Indo até o seu pai que a olhava sério por cima da máscara de oxigênio, a mulher encosta a mão sobre a dele, o olha nos olhos e diz com toda sua doçura:

— Você gostaria de conhecer alguém muito especial para mim?

Parecendo assumir um brilho de felicidade em seus olhos, o pai de Alyssa concorda com a cabeça a fazendo sorrir antes de respondê-lo com confiança.

— Aceite Jesus como seu único e suficiente salvador que tudo valerá a pena, pai!

Largando a mão dela, o homem mais velho rosnou furioso e ela se afastou depressa saindo para o corredor do hospital com um sorriso no rosto. Sua esperança para ele redimir-se do seu passado ainda a movia. Enquanto ele respirasse, Aly sempre tentaria salvá-lo do caminho sombrio que seu pai trilhou desde a morte de sua esposa.

Algum dia ele aceitaria ao Senhor, mas infelizmente não seria por ela. Restava a moça apenas orar pela vida de seu progenitor, esperando com toda sua fé que ele não partisse sem sua salvação.

Sem pensar muito no que fazia, ela só fica tensa, deixando seu sorriso morrer quando sua irmã, vestindo suas roupas ousadas com sua maquiagem que junta dava a um terço do seu peso, passou por ela irritada. Não muito disposta a ficar no hospital, o que quase a fez pará-la e perguntar se queria que Alyssa ficasse mais um dia, desistindo no último minuto por conta do olhar furioso que Amber a lançou.

— Olha por onde anda, Alyssa — repreendeu a sua irmã que apenas abaixou a cabeça e a deu mais espaço.

Confusa sobre o que havia feito para a deixar tão brava, Aly desculpou-se constrangida e saiu da vista dela, indo direto a sua ala de trabalho voluntário.

— Olá, querida! Como vai seu pai? — a enfermeira da ala infantil pergunta assim que vê a irmã Kane entrar na sua sala.

— Preciso orar mais por ele... — limitando a responder calma, Aly não entra em maiores detalhes.

A realidade é que estava a matando o fato que seu pai a via como uma grande decepção. Mas se levasse em conta o fato de ter nascido mulher, já havia o desapontado bastante. Algo cruel para uma criança constatar aos seus nove anos de idade, mas o que aconteceu à Alyssa.

Pensamento triste que a fez balançar a cabeça para tirá-lo de lá. Abrindo seu sorriso mais sincero a uma das coisas que mais alegavam seu dia.

Uma pequena turma de pacientes da ala infantil de oncologia, sentada em pufs a aguardando chegar ao meio do círculo com um banco, tendo o livro da leitura daquele dia sobre o lugar.

— Olá! Quem aí está pronto para saber mais sobre a incrível história de Jonas? — saudando as crianças recebe gritos em resposta.

Ao menos cuidando dos pequeninos adoentados da ala infantil era certo que fazia aquilo que mais gostava de fazer:

Cuidar de crianças, além de ensinar sobre o amor de Deus e todas as promessas que ele tinha na vida delas. Sem se afastar muito de seu pai, pois queria estar o máximo de tempo que pudesse ao lado dele. Mesmo quando o tempo de seu progenitor acabasse.

Falsa NoivaWhere stories live. Discover now