Ela insistiu outras vezes. Bolou soluções mirabolantes como sempre. Porém nada — de forma alguma — era suficiente para colocar sua segurança em risco. Lord Whitby havia sido claro em suas palavras e Julian Stanley conhecia suficientemente homens ambiciosos para saber que eles cumpriam com suas promessas de ódio e vingança. Ele não deixaria que nada acontecesse com Eliza. Ela era sua menina. Sempre. 

— Humpf, — ela resmungou apoiando-se na parede ao lado da porta — não precisa se irritar também. Estamos apenas conversando.

— Certamente que sim.

A porta do hall se abriu. O mordomo não havia sido chamado, mas ainda assim a porta de entrada rangeu pelo assoalho, chocando-se contra a parede e trazendo para a propriedade a brisa noturna da rua. Liz se inclinou para frente, querendo observar melhor quem tinha tido a ousadia de escancarar a porta dessa forma, mesmo que no fundo não fosse preciso. Ela sabia muito bem quem era.

— Vovó, — murmurou — desse jeito teremos que comprar um trinco novo.

— Ou a porta inteira... — Stanley sugeriu com um sorriso.

Lady Margareth entrou resmungando. Ela sorriu para a neta.

— Podemos comprar uma fábrica de trincos se esse for o problema, Liz.

E então os olhos caíram sobre Julian Stanley. A senhora suspirou, com o sorriso desaparecendo e a bengala batendo no piso, bem próxima ao pé do homem. Ele fez uma careta.

— Ah, você... — ela resmungou — Stanley.

O homem se curvou de maneira cortês.

— A esplendorosa lady Margareth. Um prazer.

— Você está aqui. Que surpresa maravilhosa — ela disse sarcasticamente, caminhando pelo hall de entrada e olhando para os lados, vasculhando o ambiente — onde está seu pai?

Hum, tenho certeza que lord Gunning não é meu pai... — Julian disse, claramente se divertindo com a condessa-viúva. Os olhos dela o fuzilaram.

— Eliza, você sabe que apesar dos mais de vinte anos de convivência nunca é tarde para expulsá-lo daqui, não sabe?

A mais nova riu, apenas porque não tinha nada a fazer além de rir. Seria uma surpresa se os dois passassem mais de dez minutos sem implicarem um com o outro. Stanley se divertia vendo a irritação de lady Margareth e lady Margareth não se divertia nada vendo Stanley em sua frente. Não havia nada o que Eliza pudesse fazer. Algumas coisas nunca mudariam.

— Papai está mais uma vez no dilema azul-verde, vovó.

Margareth acenou no ar.

— Oras, que bobagem. Ele deve saber que a resposta sempre será azul. Combina com os olhos deles e as viúvas londrinas adoram... — E ela estreitou novamente os olhos para Stanley que sorriu — Não que uma mulher faça questão de se aproximar de seu pai enquanto essa garça fica rondando ele.

Julian olhou para Eliza.

— Ele me chamou de garça ou é impressão minha? 

Liz deu de ombros. Ela não compreendia metade das coisas que a avó falava.

— Então está rolando um aquecimento para o baile no hall? — lord Gunning perguntou do topo da escada. Ele desceu os degraus em uma perfeita sequencia de passos — Vocês deveriam ao menos ter me esperado.

Margareth bateu com a bengala no chão. Gustave estreitou os olhos para o objeto da mãe, mas não questionou. Desde que ela alcançou idade suficiente para usar uma bengala em ser julgada ela fazia uso frequente em bailes. Lady Margareth definitivamente não precisava de ajuda para andar. Eliza se lembrava bem que no começo do ano ela havia corrido atrás de uma criança que havia agarrado seu chapéu no Regent's Park enquanto elas alimentavam os patos. A questão era que com uma bengala Margareth sempre poderia usar a desculpa para sair de uma conversa para ir descansar, poderia espremer os dedos de alguma pessoa indelicada ou até mesmo fazer com que um lorde inoportuno caísse no meio do salão — o que sim, já havia acontecido.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Where stories live. Discover now