Aquarium of the Pacific

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Nossa próxima parada é no Tropical Pacific Gallery, o maior dos aquários. Any sorri em contentamento enquanto observa os peixes, os tubarões e as tartarugas marinhas, suas favoritas. Mal consigo me atentar aos animais a minha frente, pois estou ocupado demais absorvendo cada detalhe das expressões no rosto dela. Nesse momento, posso sentir que está feliz. Uma série de lembranças, ao lado da mãe e da irmã, flutuam em sua mente. É bom vê-la assim, porém decido intervir antes que a nostalgia dê lugar a dor da perda.

— Não quer tirar algumas fotos?

— Ah, claro. — ela tira o celular do bolso e volta sua atenção a mim. — Venha. Faça uma pose!

Me aproximo um pouco dela, abro um sorriso e direciono meu olhar a câmera frontal da garota. Any inclina levemente a cabeça, mostrando a língua numa careta divertida e bate nossa foto, com o enorme aquário ao fundo. Depois tiramos fotos individuais, todas pelo celular dela. Utilizo isso como outro pretexto para puxar conversa mais tarde.

— Ficaram ótimas. — Any comenta, analisando nossas fotos, enquanto aguardamos nossos pedidos na lanchonete em que paramos antes de voltar para casa.

— Posso ver? — me inclino um pouco em sua direção. Ela assente e oferece o aparelho. Sorrio ao ver nossas imagens, registradas na tela. — Realmente, ficaram ótimas. Você é bem fotogênica.

— Tá brincando? — ela me encara com o cenho franzido, depois volta a encarar a tela. — Eu posso até ser fotogênica, mas olha só você. Seus olhos tem o mesmo tom das águas. São incríveis.

O elogio vindo dela me deixa ligeiramente desconcertado. Sinto uma onda de calor se espalhar pelo meu rosto, ainda que tenha gostado do que acabo de ouvir, e por alguns segundos, fico sem saber o que dizer ou como agir. Impressionante como humanos possuem reações estranhas em situações tão simplórias. Eu não sentiria nada se estivesse em minha verdadeira forma.

— Me desculpa. — Any pede ao notar meu estado. — Eu não quis te deixar constrangido. Só... Seus olhos são realmente lindos. Pensei que ouvisse coisas assim o tempo todo. — ela soa simpática.

— Na verdade, não ouço. — digo, ao me recompor. — Mas obrigado.

— O hambúrguer e o milkshake de morango da moça. — a garçonete diz ao se aproximar, deixando os lanches em nossa mesa. — E o refrigerante e as batatas fritas do rapaz. Aproveitem. — ela sorri e se afasta.

— E então, Josh... — Any acomoda seu hambúrguer em mãos. — Por que se mudou para LA?

— Hm... Adquirir novas experiências, eu acho. — digo a primeira coisa que vem a minha mente, o que não deixa de ser verdade. É a primeira vez que mudo minha forma em nome de uma missão

Não posso mentir, porque anjos não mentem, mas por outro lado, também não posso dizer toda a verdade, então preciso de um meio termo. Decido que meias verdades são a melhor saída.

— Que tipo de experiências? — ela dá uma grande mordida em seu sanduíche.

— Daquelas que só tem a acrescentar na vida das pessoas. Pra ser sincero, ainda estou descobrindo, mas é algo nessa linha.

— Enigmático, hm. Gostei. — a cacheada pontua, me fazendo sorrir. — De onde veio?

Droga! Essa eu realmente não posso responder. O que eu diria? Algo parecido com "veja bem, Any, eu vim do Céu. Mas não é como o Céu que vocês, humanos, imaginam. Não é para onde as boas almas vão depois da passagem. É um lugar chamado Caelum, onde apenas os anjos habitam."? Ela vai pensar que sou maluco, sem sombra de dúvida. Mas sei que preciso dizer algo para não parecer estranho. Todos vêm de algum lugar, afinal. Dessa vez não tenho saída. Preciso mentir. Que o Senhor me perdoe!

Touching Paradise • BeauanyWhere stories live. Discover now