— Você, hum, quer um pouco? Ou quer trocar? — Frederick perguntou, confuso.

Liz negou com a cabeça.

— Quero ver sua reação.

— Você é muito observadora — lord Morley comentou — e eu também quero ver a sua. Não é o justo? Primeiro as damas.

— Eu já experimentei sorvete de baunilha várias vezes, milorde. Duvido muito que sua escolha tenha algum dia sido framboesa...

— De fato não, — ele inclinou a cabeça — mas posso garantir que esse sorvete é diferente. O quiosque é o mais sofisticado de Londres.

Eliza não acreditava que pudesse haver uma enorme diferença entre o sabor de baunilha, porém não falou nada. Ela observou o letreiro acima da tenda com as letras rebuscadas formando Dunton's Ice. Em poucas semanas eles já tirariam o quiosque dali e os novos clientes conquistados teriam que ir até Kensington para consumir mais de suas delicias geladas — e alguns doces.

— Apenas experimente logo, Frederick — Eliza disse ríspida, mas o sorriso que se formou em seu rosto depois impediu que sua ação fosse considerada rude.

Ele levou o talher à boca. O gelo fez com que ele se paralisasse por algum tempo e Frederick teve a impressão de que Eliza estava quase rindo dele. Após se acostumar com a temperatura o marquês analisou o sabor. Era bom. O gosto se assemelhava ao da fruta, mas trazia um tom mais refrescante àquele dia quente de junho.

Frederick assentiu.

— É bom, lady Eliza. Seu gosto não me decepcionou — ele levantou uma sobrancelha — agora veremos o de baunilha.

— O de baunilha sofisticado do Duton's — lady Eliza lembrou — certo...

Liz levou o talher até a boca lentamente. Ela refletiu sobre suas impressões antes de dizer qualquer coisa para o marquês. O gelado derreteu-se em sua boca.

— Talvez seja um pouco diferente dos outros, — ela confessou — porém tenho certeza que devemos isso a Geoffrey Duton que tem um grande talento. Ainda assim é apenas um sorvete.

— Certamente. 

Eliza voltou-se novamente para o recipiente. Havia algumas raspas de chocolate por cima do sorvete o que deixava o sabor ainda mais agradável. Ela não hesitou em levar mais um pedaço à boca, depois outro, depois outro e outro...

Lord Morley abafou um riso. Lady Eliza ergueu o olhar com um pouco de sorvete no canto da boca. Nesse momento ele não aguentou. Fechou os olhos, cerrou o pulso sobre a mesa e fez o possível para não rir muito alto. Ela estreitou os olhos, irritada.

— Algum problema, milorde?

— Você parece ter gostado bastante para considerar apenas um sorvete — ele disse — não é uma ofensa. Longe disso. Fico feliz por saber que você apreciou minha escolha.

— E você não apreciou a minha? — Eliza olhou para o marquês, séria — não vai comer? Está delicioso...

Ele estendeu na direção dela o talher que quase levou a boca. Alguns pedaços de framboesa destacavam-se no mar cremoso. Um sorriso provocativo estampou-se nos lábios dele.

— Quer um pouco? Já que gostou tanto...

Lady Eliza fez questão de abaixar a mão dele antes que alguém visse esse ato inapropriado. O marquês não poderia dar comida na boca de ninguém em público. Quer dizer, poderia caso essa pessoa fosse uma criança de nove meses que ainda não sabe comer sozinha, mas não era o caso de Eliza. Ela se irritou, mas ele continuou achando graça na situação e insistindo com a colher.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Where stories live. Discover now