Segurei o cabo da arma em minha cintura. A garota parecia uma alma penada de tão branca que era. Eu nunca tinha sido o tipo de garoto que sentia medo de fantasmas, não que eu já tivesse visto algum, no entanto, algo na expressão dela me fez ter um arrepio na espinha.

- Boa noite, jovem rapaz tristonho. – Ela cumprimentou com uma voz cadenciada e doce. Aparentava ser pouca coisa mais velha que eu.

- Boa noite. – Respondi parando. – Posso ajudá-la?

- Sim, pode sim. – Ela disse entrelaçando as mãos e soltando um sorriso cintilante. – Você poderia me dizer para que lado fica Santa Cruz das Flores? Acho que eu estou perdida.

- Fica ao norte. Você está seguindo o caminho errado senhorita. – Falei. Observei seus traços delicados e a pele macia. Eu nunca tinha visto uma garota tão bonita. – Eu vou seguir o mesmo caminho, não quer que eu te acompanhe? – Nem sei por que eu perguntei aquilo, o cavalheirismo tinha simplesmente surgido de algum lugar profundo. Quando ela sorriu foi como se de repente eu estivesse hipnotizado e não tivesse vontade nenhuma de questionar seu nome, suas roupas molhadas ou qualquer coisa que envolvesse algo comprometedor.

- Seria muita bondade da sua parte, obrigada. – Olhei para a areia e percebi que ela estava descalça. – Acho que se eu voltar sozinha eu não acharei o caminho.

- Eu também me perdia quando criança. – Não era mentira. – Nunca te vi, você é nova aqui?

- Pode-se dizer que sim. – Ela falou sorridente, se distraindo com uma mexa do cabelo. – Estou em uma missão, assim que terminar irei embora. – Ela disse rindo.

- Não está com frio? – Perguntei.

- Não, não. Estou ótima. – Ela disse, mas eu já havia tirado a casaca para lhe cobrir. Nesse gesto sem querer toquei na pele de seu ombro. Estava fria, como gelo. Literalmente. Ela levantou os olhos, esbugalhados e assustados, e disfarçou a expressão com outro sorriso.

- Obrigada. – A garota disse e o encanto voltou.

- Você disse uma missão?

- Sim, procuro por uma pessoa. – Ela comentou. – Seu nome é Elizabeth Drummond, você a conhece? – A visão de um par de olhos azuis claros tomou conta da minha mente. A pequena Ellie que sempre esteve por perto, a garota que para quase todos os efeitos era minha irmã.

- Conheço uma Elizabeth, mas ela não tem esse sobrenome. – Falei.

- Que pena. – A moça soltou um muxoxo. – O cabelo dela é ruivo? – Perguntou com esperanças contidas. Como fogo. Pensei, todavia, não respondi, porque de repente um sentimento de desconfiança aflorou, quebrando brevemente o sentimento de submissão que havia se instalado em mim desde que ela havia aberto a boca. O que ela queria com Ellie? A minha Ellie?

- Por que a está procurando?

- Minha patroa me enviou.

- E o que ela quer com a garota?

- Eu não sei. Assuntos pessoais. – Ela respondeu. – Fale-me sobre você. – Ela sorriu me capturando de novo. – Por que estás triste? – O rosto bondoso dela me fez querer contar o que acontecia e eu contei.

- Meu pai quer que eu me case.

- Ah! Mas, tão jovem? – Ela murmurou.

- Pois é, e ainda serei despachado de casa para estudar em Londres.

- Londres?

- Sim, já esteve lá?

- É a melhor cidade de todas! – Ela disse entusiasmada. – Você vai gostar!

Coração PirataOnde as histórias ganham vida. Descobre agora