dormir séculos à sua espera,
não me é problema.
uma vez que já morri por dentro ao me afastar,
posso me assegurar de desta vez,
ficar em paz.
te esperar dormindo...
não soa tranquilo?
e acordar com seu carinho?
tão viciante quanto aquele mingau dos ursos.
acordar com sua voz?
tão doce quanto aquela da moça de cabelos negros e lábios vermelhos como sangue. a tal da pele branca como a neve e, você sabe, a coisa de encantar animais com o canto.
acordar com seu calor?
mais intenso que qualquer fogo de uma madrasta dada à dragão.
acordar com sua presença..?
mais cruel que qualquer bruxaria, maldição. qualquer maçã envenenada ou qualquer trança cortada.
afinal, eu posso ser pra ti um mingau viciante. ou um animal encantado pelo teu canto. ou até mesmo princesa excitada pelo teu calor. de joelhos pela tua presença, implorando por mais.
cruel presença, essa. que me faz despertar num pulo sem teu beijo.
que me faz cair na realidade.
que cria em mim, juízo.
a sanidade.
tirando de mim,
minha liberdade.
minhas vontades...
mas eu sei que você virá.
no conto de fadas, ao menos.
afinal, sou a aurora.
como acordar sem um príncipe? sem um beijo do meu amado?
como ter o desfecho feliz, sem meu tão desejado namorado?
como ter você, o príncipe encantado?
devo esperar mil anos até que você me encontre,
e me desperte.
e tire-me do meu transe,
de dormir afim de te esperar.
desejando um você, que nunca virá.
mas só até o tempo passar.
só até a minha hora chegar.
e na esperança, me aninho.
sonhando no meu sono de mil anos,
com o príncipe que todas as vezes,
modifica-me ao todo,
me pinta de roxo,
me chama de aurora.
o que me tira o ar.
me faz transbordar.
ironicamente juntos no propósito de me afogar.
até acordar com um beijo seu,
e fazer dele, eu.
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aurora
Poetry"sonhando no meu sono de mil anos, com o príncipe que todas as vezes, modifica-me ao todo, me pinta de roxo, me chama de aurora."
