1o| O REMORSO DE THEODORE ODDY SPECK

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"Em meu coração, não faça um som. Não me deixe decepcionado, não se separe do meu coração." Jake Bugg (It's True)

Algumas gotas de água começam a bater na janela e provocam um som abafado e distante

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Algumas gotas de água começam a bater na janela e provocam um som abafado e distante. Olho para a jarra de água sobre o móvel de madeira velha ao lado da cama, e percebo que mais uma vez ela congelou por causa do frio. Minha garganta está seca e sei que para pegar mais água terei que descer, e não quero encontrar com um irritado Stanley Sullivan logo pela manhã. 

O colchão range quando me viro para o lado e começo a observar as primeiras gotas de uma chuva que carrega um semblante nostálgico. Ajeito o velho cobertor branco sobre os ombros e tento voltar a dormir naquele início de manhã cinzenta, mas as lembranças me assolam como uma tempestade furiosa.

Hoje seria o aniversário de oito anos de Matthew, se ele estivesse vivo.

As memórias ainda frescas do fatídico dia dilaceram meu coração apertado. Por mais que tente fugir, elas sempre estarão em meu encalço.

Enfio a mão embaixo do travesseiro e retiro uma fotografia de Matthew. Ele estava feliz, havia pescado seu primeiro peixe e se sentia orgulhoso. Nós passamos muito tempo fora de casa naquele dia e Stanley jamais imaginou que o filho não retornaria.

***

 — Mat-t-tthew. Adentro nos limites da floresta, afastando alguns galhos que dificultam a passagem. M-M-Mat-t...

Matthew prefere me ignorar e continuar escondido. Temos pouco tempo para voltar para casa antes que o Sol se ponha e nossa mãe ficará uma fera se não voltarmos a tempo do jantar.

Algumas folhas e galhos estalam enquanto tento me equilibrar entre o emaranhado de cipós que crescem desordenados para todos os lados e o som apenas me denuncia para Matthew. Alguns minutos se passam até que me sinto cansado de rodar em círculos e não achar nenhuma pista de onde ele possa estar. Vagueio entre a relva, depois entre o parque das grutas e mais além, no descampado dos Warren. Não o vejo em lugar algum e logo um sentimento de preocupação me invade.

O Sol já está se pondo no horizonte, formando uma fina linha alaranjada entre as nuvens carregadas de tons avermelhados e azul-anil. Decido retornar à clareira, repensando em todos os lugares possíveis que meu irmão poderia estar e, para minha surpresa, vejo o pirralho tomando banho no lago. Quando me aproximo, ele solta uma risada estrondosa ao ver meu semblante cansado, exibindo seus lábios azuis por conta das longas horas de banho. Matthew volta a mergulhar e emerge minutos depois, me deixando preocupado com a sua brincadeira nada saudável.

S-saia do lago ag-agora resmungo, me aproximando da margem para tentar agarrá-lo, mas o pirralho nada para longe, indo parar no meio do lago, onde uma correnteza começa a se formar. Mat-t-t-thew! S-saia ag-g-gora!

SUA TERRA É MINHAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora