Capítulo 1

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Comecei a despertar e como de costume peguei meu iPhone. Olhar as redes sociais, responder comentários, retribuir likes e ainda ler as mensagens, eram sempre minhas primeiras ações do dia. Era incrível como em apenas algumas horas, tantas notificações eram feitas na web, enquanto eu sonhava. No WhatsApp tinha uma mensagem fofa de Matheus que dizia: "Você virou meu mundo, foi a melhor coisa que me aconteceu. Amo-te!". Respondi com um emoji de carinha com coração, pois nunca sabia o que dizer a ele. Ele sempre tão romântico e eu sem respostas. Aceitei namorar o Matheus faz uns quatro meses, pois parecia à coisa certa a fazer. Estava cansada de sair com as amigas, sendo a única solteira. Matheus sempre foi fofo, me rodeava na universidade, trocava olhares, porém sempre me respeitou. Ficamos conversando durante uns dois meses antes do primeiro beijo e depois que rolou, semanas depois, ele me pediu em namoro com um buquê de flores e uma banda ao fundo tocando Coisa Linda, do Tiago Iorc, canção essa que ele dizia que pensava em mim quando escutava. E com um mês de namoro, ele disse "eu te amo" e eu? Nem o clichê "também" respondi, só sorri e o abracei.

Por mais fofo que meu namorado fosse, eu nunca me sentia como aquelas mocinhas romântica dos filmes que assistia, vibrando com a mensagem recebida. Ou com qualquer outro tipo de declaração. As borboletas não habitavam meu estômago e nesses quatro meses que Matheus estava em minha vida, eu continuava ouvindo diversos eu te amo, enquanto nunca disse nenhum. E isso me dava uma culpa como agora. Vejo tantas meninas reclamando da falta de romantismo masculino ou de como os homens nunca querem nada sério. Mas o meu primeiro namorado era totalmente o oposto da tal grande massa. Seria sorte? Talvez! Destino? Nem sei. Só sei que cada dia que passava, eu achava ainda mais que não merecia o Matheus em minha vida. Quando eu comentava isso com ele, Matheus dizia que ele era a exceção, que toda regra tem. Meus pensamentos foram interrompidos com o apito de uma nova mensagem, era Letícia lembrando que eu estava atrasada para aula. "Bi, não se esqueça de levar o trabalho impresso. E não se atrasa, pois, a aula da professora Martha é no primeiro tempo".

Dei um pulo da cama, pois só teria uma hora para chegar à faculdade. Porém durante o banho, lembrei novamente da minha situação com o Matheus. Isso me afligia nas últimas semanas. Porque, como eu disse, sei que muitas garotas queriam um namorado como ele, que escreve cartas, manda mensagens de bom dia e ainda diz "que bom que você está aqui" durante um abraço. Eu queria entender como isso não mexia comigo, como não causava uma emoção sequer. Não fazia planos, de curto ou longo prazo, com ele ao meu lado. Nunca senti saudades do Matheus antes mesmo de ele partir, como algumas pessoas apaixonadas dizem sentir. Então só pode ser isso, não sou apaixonada pelo Matheus. E foi quando constatei o que estava nítido, meu iPhone começou a tocar.

- Alô? Quem fala? – perguntei, mesmo sabendo quem era.

- Oi meu amor, bom dia! Juliana comentou comigo que vocês têm um trabalho para entregar na primeira aula, então estou passando para buscá-la, assim não corre o risco de se atrasar. – disse Matheus, animado.

- Não precisa se preocupar. Estou terminando de me arrumar e pego um táxi. – falei, pensando em como minhas amigas adoram compartilhar minha vida com ele e também na droga do meu carro, que ainda estava no conserto.

- Nada disso! Faço questão de te levar, chego por aí em cinco minutos. Já estou entrando na sua rua. – falou ele, desligando logo depois que eu apenas disse "okay".

Sai do banho e escolhi um jeans básico e uma blusa qualquer. Coloquei o all star, pois nunca fiz o estilo muito feminino, que vive de sandálias ou salto alto e que abusa dos shorts e minissaias. Prendi os cabelos num rabo de cavalo, peguei minha mochila e ao verificar se o trabalho estava nela, escutei a buzina do carro. Matheus havia chegado e, mais uma vez, eu ia interpretar a namorada atenciosa e legal, entretanto nada encantada.

- Qual o conteúdo do trabalho? – pergunta Matheus, depois de me dar uns cinco beijos seguidos.

- Fizemos uma pesquisa sobre a cobertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff na imprensa. Larissa conseguiu até fazer uma entrevista com o Evaristo Costa. – contei a ele.

- Que massa! Aposto que a professora vai adorar. – vibrou Matheus, como sempre fazia com coisas minhas.

- Tomara. Preciso de ponto nessa disciplina. – disse, sem graça.

Matheus liga o rádio, enquanto eu fico olhando as ondas do mar indo e vindo, pensando em como meus sentimentos são tão incertos quanto essa imensidão, que ora está tão agitado, em outros momentos está calmo e de repente saio do transe, pois começa a tocar a tal canção do Tiago Iorc. Matheus se empolga, aumenta o som, segura minha mão e canta olhando para mim: "Linda, do jeito que é. Da cabeça ao pé e do jeitinho que for. É e só de pensar, sei que já vou estar. Morrendo de amor. De amor". Ainda bem que nesse dia o trânsito carioca resolveu dar uma trégua e estava bom. Alguns minutos depois, chegamos e bem a tempo de eu entrar no primeiro tempo, a professora Martha era pontual. Se chegasse atrasada até poderia assistir aula, mas entregar o trabalho jamais. A primeira coisa que ela fazia, era recolher os trabalhos, caso fosse dia de algum ser entregue. E essa pesquisa ia me ajudar muito, estava com risco de repetir essa matéria de Técnicas de Entrevistas, pois não fui bem na primeira avaliação. Quem dera se tudo na vida pudesse ser resolvido com uma simples pesquisa. 

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