No dia seguinte, Thomas acordou exatamente às 8:00 da manhã. Ele se assustou por acordar tão tarde, mesmo sendo domingo. Olhou para todas as camas e havia apenas uma pessoa além dele ali: Vitor, ainda dormindo. No entanto, Marco já não estava lá. "Se ele estivesse realmente curioso, teria nos acordado assim que se levantou!", pensou Thomas.

- Também está achando estranho? - disse Vitor, já acordado - Tenho certeza de que ele, Gabriel e Alby estavam escondendo que já sabiam dos monstros lá fora. Pelo menos, quero acreditar nisso. Isso nos pouparia muito tempo de explicação, mas as coisas ainda não se encaixam completamente!

Thomas lembrou-se do momento em que saiu do dormitório e viu a diretora junto com os professores levando Hanry para aquelas criaturas. Quando voltou, Marco já estava acordado, como se estivesse o esperando. Também se lembrou de que Marco sussurrou para ele que a diretora sabia que alguém tinha ido até o portão. Quanto a Gabriel, ele fez com que Vitor confiasse em Thomas para planejar uma fuga. Alby também mencionou que poderia fazer uma corda capaz de ajudar todos a escalar o muro. Fazia sentido pensar que os três já sabiam e que precisavam da ajuda indireta de Thomas e Vitor para planejar uma fuga com o máximo de pessoas possível.

Com esses pensamentos, Thomas e Vitor tomaram um banho, escovaram os dentes e saíram para tomar café. Nos corredores, agiam como de costume: Vitor tentava ignorar todo mundo e flertar com metade da escola, enquanto Thomas tentava convencer Madu de que aquela escola era ruim, porém sem sucesso. Antes do meio-dia, foram até o jardim, mas não viram Marco em nenhum momento. Parecia que ele tinha desaparecido.

Ao chegarem ao jardim da escola, Brenda e Eva já estavam esperando.

- Achei que não iriam chegar! - falou Brenda - E onde está o Marco?

- Não o vimos a manhã toda, ele sumiu! - respondeu Thomas - Ele saiu da cama antes de acordarmos!

- Ah, não! O meu Marco não! - exclamou Eva, assustada.

- Não é possível! - retrucou Vitor - Sabemos que o próximo a desaparecer será o Steve, e só amanhã. Afinal, eles só são levados a cada três dias!

Naquele momento, Thomas e Vitor decidiram contar tudo o que suspeitavam de Marco, incluindo suas desconfianças em relação a Alby e Gabriel e que, se eles sabiam, estavam apenas usando-os para a fuga.

- Vocês estão praticamente certos! - disse Marco, surgindo de um canto - Eu sabia sim de tudo. Eu manipulei o Alby para que ele pensasse em criar uma corda, e quanto ao Gabriel, foi apenas coincidência ele fazer o Vitor acreditar no Thomas. Na noite em que você, novato, saiu do dormitório, eu te segui e também vi o Hanry sendo estilhaçado e morto por aquelas criaturas. Mas resolvi não contar para ninguém até perceber que você contou para o Vitor e que planejavam me levar na fuga. Agora, vamos conversar!

Todos ficaram em silêncio por um longo período. Finalmente, Thomas o quebrou.

- Está certo! Como você sabe que a diretora desconfia que alguém viu aquelas coisas? - perguntou ele.

- Eu espirrei e ela ouviu, então corri para o quarto! - respondeu Marco - Quando você entrou no dormitório, foi correndo para o banheiro e não percebeu que eu não estava na cama. Eu até pretendia conversar com você sobre o que vimos, mas você não me deu brecha e ficou falando que não viu nada e que não tinha nada lá fora. Então, já que você não confiava em mim, não adiantava confiar em você.

- Entendo! - disse Vitor - E esta noite? Por acaso você nos seguiu?

- Não! - respondeu Marco - Eu sabia que o único propósito daquela saída era mostrar pra você aquelas criaturas, mas eu não contava com duas intromissões! - ele disse, se referindo a Eva e Brenda.

- Está me chamando de intrometida, amor? - falou Eva com uma cara triste.

- Claro que não! - respondeu Marco, beijando Eva e deixando Thomas sem graça.

Outro minuto de silêncio pairou no ar enquanto todos pensavam sobre o próximo passo para escapar do internato, agora com a ajuda de Marco.

- Então, nós só vamos convencer o Alby a fazer essa corda e fugir na quinta-feira? - perguntou Brenda, rompendo o silêncio.

- Precisamos de alguém para ir até os portões amanhã à noite e descobrir quem será o próximo a ser levado! - falou Vitor com seriedade.

- Ai, gente, pra quê isso? - perguntou Eva com tom irônico - Como vocês devem saber, a escola é dividida entre oito alas. As alas sete e oito são os dormitórios dos meninos e das meninas. A ala um é de esportes, onde tem quadras e piscinas, e é onde o Michael e a Milla estavam. Coincidentemente, o Marco está lá também. Os primeiros desaparecidos estavam na ala um. Depois, temos a ala dois, que é de conhecimentos gerais, onde o Hanry estava, e é onde o Steve, que será o próximo a desaparecer, está. Ou seja, os próximos devem ser da ala três, a ala de ciências humanas. E creio que temos a Dora e a Sabrina como as melhores. Depois, temos a ala quatro, de Artes, onde os melhores são Natan e Bia. E em seguida, a ala cinco, de tecnologia, onde estão o Alby, a Sonya, a Brenda e o Vitor. Essa ala oferece mais riscos para nós. Tendo isso em mente, a última ala é a de ciências exatas, onde estão o Gabriel, a Nina, a Madu, o Thomas e eu.

- Se a sua teoria estiver certa! - indagou Vitor - o que corre menos riscos entre todos nós é o Marco, pois os melhores da ala dele já se foram!

- Exato! - retrucou Eva - Até chegarem na ala cinco, deve demorar dezesseis dias para que eles sequestrem um de vocês!

- Mas isso é muito estranho. Eu sou e sempre serei o melhor da ala um. Por que será que levaram os outros? - perguntava Marco - Além disso, os alunos já desapareciam, mas em um intervalo de tempo maior. Isso deve significar que eles mudaram recentemente a sequência de vítimas. E mesmo se a Eva estiver certa, eles podem mudar a sequência mais uma vez...

- Com isso, a data da fuga deve ser repensada! - falou Thomas, dirigindo-se a Vitor - Com certeza, a líder daquelas coisas tem um fator de escolha que desconhecemos. Temos que ter isso em mente!

- Nove dias! - respondeu Vitor - Daqui a nove dias, vamos fugir com o máximo de pessoas que pudermos levar. Nossa fuga será no dia 24 de abril!

Todos se alegraram com a decisão de Vitor, exceto Marco, que não demonstrou emoção alguma.

- Nove dias é muito pouco, não acham? Ainda mais para quem vai fugir com a escola toda! - indagou Marco.

- Se algo der errado, teremos muito mais tempo para repensar o plano! - exclamou Vitor - Além disso, com certeza existem desafios que ainda não conhecemos...

- Certo, mas amanhã teremos aula de educação física. Eu proponho brincarmos! - falou Marco - Seria uma brincadeira, mas ao mesmo tempo um treinamento para eles. Apenas os melhores ficarão por último. Será um pega-pega!

"Pega-pega???", todos ficaram surpresos com a decisão de Marco.

- Sim! O tempo limite é de uma hora. Durante esse tempo, todos os alunos da escola irão tentar fugir de mim. Os alunos que eu conseguir pegar durante esse tempo não irão conosco! - propôs Marco.

- Certo! - concordou Thomas - Mas não quero que você não vá atrás de nós só porque estamos planejando a fuga. Com certeza, eu sou muito melhor do que você. É só usar a cabeça!

- Tudo bem, veremos isso amanhã! - retrucou Marco.

- Uma hora! - falou Vitor com uma expressão não muito boa - Da última vez que brincamos, você pegou 250 pessoas em vinte minutos. Acha mesmo que não queremos levar ninguém conosco? Você é o mais rápido da escola!

Marco concordou e garantiu que pretende deixar 700 pessoas para trás. Vitor dirigiu-se à saída do jardim e parou, como se estivesse pensando em algo sombrio...

- Sei que você quer deixar tantas pessoas para trás, tanto pelo grande número lá fora quanto pelo fato de não conseguirmos nos esconder adequadamente na floresta da escola em grande número, mas saiba que a única pessoa que pode nos impedir aqui dentro é a diretora. E se ela tentar... - falou Vitor, fazendo um sinal de arma com a mão e apontando para Marco, indicando que talvez seja necessário matar a diretora. - Pelo menos, eu não me importaria de ter tal honra!

O mundo não prometidoWhere stories live. Discover now