Capítulo 33 - O Cheiro do Medo

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Wolfgang

Por: Sandy Azevedo

— Você?! – espanto-me levantando sôfrego, pelas queimaduras. — Não é possível! Eu vi seu corpo sem vida sendo velado em uma caixa de madeira – finalizo incrédulo.

Diante de mim a melhor e a pior visão de todas. O meu mundo se transformando de novo. Durante esses dias, especialmente desde que visualizei naquele maldito quadrado chamado celular, meu pai sendo duramente torturado, eu passei a me torturar internamente.

Eu sou um fracassado.

Não tinha minha tribo, foi me tirado meu pedaço de chão, minha família e a única mulher que amei eu mesmo havia acabado com ela, ao menos pensei.

Kira foi a curva fora da estrada de retidão da minha vida.

Eu sentia saudades do meu cavalo Hans, da vaca Leona e até da velha árvore Acer da cidade. Triberg, nunca imaginei que sentiria tanta falta da monotonia e olhares curiosos da pequena cidade alemã. Desde de que o maldito Dmitri havia me capturado em meu refúgio, minha vida havia virado ao avesso.

Eu queria o aconchego da minha cabana. Poder comer com as mãos uma caça feita por mim, colher minhas próprias ervas para chá, acordar cedo e fazer meu queijo. Até mesmo vender meus produtos para o senhor Alfons eu sentia falta.

Imaginar um lobisomem solitário pode parecer tedioso, mas para mim simbolizava a paz. Eu tinha a liberdade de correr, me transformar, tomar banho de rio e mesmo que me julgassem, raramente alguém se aventurava a me enfrentar.

Na Fortaleza Vermelha eu era apenas mais um e totalmente inadequado. Claro que não foi ruim de tudo. Eu havia aprendido a lutar e o principal: sabia que não era mais o único da minha alcateia. Meu pai, aquele que me deu a vida e, ainda que breve, me ensinou lições de crescimento.

Como não se encher de esperança diante a notícia da possível vida de quem você ama? Acreditei que isso estava fadado ao meu pai, mas o destino é cretino e impiedoso. Não era ele exatamente diante de mim agora.

Kira era uma caixa de surpresa. Linda, altiva e compenetrada. Era a perfeição em meio a podridão. Sua beleza ruiva, magreza e elegância despontavam-na em meio a multidão. Seu pai bem podia ser o líder, mas isso estava em seu gene. Tudo bem que, se tratando de gene, eu também era um líder puro e meu pai também, mas olha que irônico... Eu estava sendo seu subalterno e meu pai, por décadas, foi de seu pai.

Os vampiros derrotaram os lobisomens e diante de mim eu podia constatar isso mais uma vez. A calça jeans a qual usava, e que agora sabia o nome, bem como a blusa de tecido forte, gola e poucos botões, estavam me sufocando nessa caixa andante – agora estagnada – chamada elevador.

Não era apenas o espaço apertado, Kira em descontrole ao meu lado, minhas mãos em carne viva cicatrizando lentamente ou ainda a fila dupla de servos ajoelhados em reverência a sua líder. Nada disso era o motivo central da minha garganta estar se fechando, meus olhos lacrimejando, meu coração palpitando forte e meu instinto a ponto de se rebelar.

Não!

Meu descontrole tinha nome e apelido. A chamavam de Ed, mas para mim, sempre foi Edelina. Há décadas atrás em descontrole, eu a matei. Novamente estava em descontrole, mas pelo oposto: sua vida.

— Wolfgang? – proferiu com a boca aberta, perdendo um pouco a compostura.

— Desde quando você conhece esse ser inferior? – perguntou Nikolai e uivei alto.

Eu estava pouco me importando com quem pudesse me ouvir. As perguntas atropelavam a minha mente. Eu parecia uma presa enjaulada – literalmente – e não sabia o que fazer, falar, perguntar. Uma delas se destacava em minha cabeça: o que Edelina faz aqui, viva?

A Fortaleza VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora