02. SAVANNAH

Beginne am Anfang
                                    

Respirou devagar, tentando controlar o ritmo em que o ar saía e entrava por seus pulmões, seu coração continuava disparado, a mão direita tremia em descontrole, enquanto o vibranium da esquerda parecia doer, mesmo que não houvesse lógica naquela dor, afinal era apenas uma prótese.

Aquele tipo de sonho quase macabro era constante, exceto que não era apenas um sonho, eram lembranças vívidas das atrocidades que tinha comedido e das torturas que havia sofrido. Eram episódios constantes, nem sempre com as mesmas cenas, mas sempre deixavam aquele gosto amargo de impotência, se sentia violado, seu corpo usado como instrumento, sua mente corrompida.

Sem privacidade, sem livre-arbítrio, uma sombra de si mesmo.

Em inúmeras ocasiões tinha pensado que a morte teria sido mil vezes melhor.

Acima do sangue, do gelo e das mortes, os piores pesadelos sempre tinham aquela mulher, não que houvesse de fato alguma informação neles, eram sempre as unhas bem cuidadas tocando seu braço e o sorriso quase diabólico, era tudo que Bucky via dela, sempre. Não sabia quem era, não se lembrava de fato, porém a desconhecida trazia consigo uma sensação que era pior que todas as outras, era mais aterrorizante do que ver a morte de todas as vítimas do Soldado Invernal em looping, era pior do que recordar das torturas e sentir a dor de todas elas ainda muito vívidas, ela fazia a criogenia parecer um alento...

Com a mulher de toque gelado vinha algo que Bucky não compreendia totalmente, era um terror diferente, uma sensação de impotência maior, um enjoo visceral que muitas vezes o fazia acordar e vomitar tudo que tinha no estômago.

Talvez se lembrasse de mais pudesse entender aquelas sensações horríveis, no entanto, não tinha certeza se queria mesmo lembrar de tudo. Às vezes a ignorância podia ser uma benção...

Todavia, naquela noite foi diferente, Bucky não acordou pelo impacto do pesadelo, foi o som de algo diferente que o fez despertar...

Ainda estava ecoando pelo apartamento na verdade, a batida ritmada de graves pesados vinha acompanhada de estraladas de dedos e de uma voz feminina que cantava com pausas quase irritantes.

As músicas modernas podiam ser muito confusas...

Levantou-se em busca de um copo de água e assim reparou que o som vinha do apartamento da frente. Pelo visto o vizinho estava de volta.

A luz estava acesa e a bagunça parecia ainda pior, um violão vermelho se destacava no caos de roupas espalhadas. Bucky negou algumas vezes em desaprovação e lavou o copo em que tinha bebido água, guardando tudo antes de voltar para o quarto.

Se deitou novamente e passou a mão no rosto para alinhar os fios rebeldes, as sombras dançavam no teto, mas em um ritmo diferente da música que ainda tocava, Bucky se pegou prestando atenção na letra:

"Então, você é um cara durão?
Um cara que gosta de pegada bruta?
Daqueles que não se satisfazem?
O cara com o peito sempre estufado?
Eu sou do tipo malvada
O tipo que deixa sua mãe triste
O tipo que deixa sua namorada louca
O tipo que talvez seduza seu pai
Eu sou a vilã, dã!"

Ele riu sem qualquer humor, porque a música era ousada demais, o tipo que nunca se ouviria nos anos 40... Se deu conta que não lembrava da última vez que tinha ouvido música, ouvir de verdade, escolher aquilo que queria e então desfrutar da canção.

Antes de tudo, antes do gelo e do sangue, Bucky gostava de música, gostava de convidar belas senhoritas para dançar... Mas aquilo fazia muito, muito tempo.

INVERNO ARDENTE | Bucky Barnes ✓Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt