1. O FUSCA AZUL CALCINHA

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"Ufs! Finalmente livre das aulas da universidade até segunda-feira! Hoje foi barra... muitas aulas seguidas, professores exigentes... Pena que não posso simplesmente ir para casa..."

Queixou-se Lídia, ao sair do edifício da universidade e alcançar o estacionamento. Preferia mil vezes ficar em casa ouvindo o novo LP do Chico Buarque ou dos Secos e Molhados que comprara na discoteca. Mas, lá no estacionamento, estaria seu noivo para levá-la para almoçar no clube onde era sócio. Um clube frequentado pela high society da cidade onde ele fazia questão de almoçar todas as sextas-feiras.

Lídia achava esses almoços extremamente entediantes, mas... fazer o quê? O noivo fazia questão de sua presença, gostava de exibi-la para os amigos, chamava-a de sua bonequinha. Dizia que sua "noiva" deveria acompanhá-lo nos eventos sociais. A família de Lídia reforçava o seu discurso. O pai era entusiasta do noivo e considerava-o um bom partido porque trabalhava no Congresso, por isso incutia-lhe a ideia de que era uma obrigação de noiva.

Nesses dias, para piorar, tinha que se vestir com mais "classe", conforme instruíra o noivo. Sentia-se deslocada com aquela roupa social em meio aos estudantes vestidos com suas calças jeans desbotadas.

"Ele já deve estar no estacionamento e não gosta de esperar...", agoniou-se ela, acelerando os passos nas sapatilhas delicadas.

Afobada, andando às pressas, Lídia se lançou na pista do estacionamento, esquecendo-se de verificar se vinha algum automóvel. Foi quando ouviu um screeech, seguido de um bi-bi.

"Céus! Quase fui atropelada por um automóvel... Quer dizer... O que é aquilo? Um fusca azul calcinha?

Seu cálculo não foi bom... o fusca freou bruscamente... De dentro do carro horrendo, uma cabeleira ruiva saiu pela janela e gritou:

— Ei, gostosa, se não quer virar tapete de asfalto, tome mais cuidado!

O cabeça cor de Fanta Laranja soltou uma gargalhada, retomou o movimento do carro, desviando-se da moça e seguiu seu caminho.

Lídia o achou debochado e muito impertinente. Isso lá era forma de chamá-la? "Gostosa? Que coisa mais sem classe, grosseira".

Passado o susto e a indignação, Lídia seguiu para o carro do noivo, um Puma GTB, carro ostentação da moda. O carro combinava com a personalidade exibicionista do noivo que gostava de bancar o playboy, para desgosto da Lídia.

O noivo, de dentro do carro mesmo, abriu a porta do motorista para que ela entrasse.

— Vamos, vamos! Chegaremos atrasados. Quero chegar logo, ouvi dizer que o deputado Tancredo Neves estará lá. Será ótimo se eu conseguir trocar umas palavras com ele — disse o noivo, apressando-a.

— Calma, Rodolfo, o Iate Clube é aqui perto. Estaremos lá em poucos minutos — alegou Lídia já dentro do veículo.

Rodolfo arrancou com o carro e seguiu rápido para a saída do estacionamento. Mas teve que parar o carro atrás de um fusca azul que estava parado, atravancando a saída. O mesmo rapaz de cabeleira flamejante estava com a cabeça e o braço para fora do fusca, falando com uma bela garota parada na calçada. A moça sorria e balançava a cabeça em negativa. Mas, em dado momento, ela assentiu algo. O rapaz voltou-se para dentro do carro e voltou com uma caneta com a qual começou a anotar algo na palma da própria mão.

"Ele estava flertando com a garota e anotando e telefone dela", constatou Lídia, indignada com a cara de pau e a folga do rapaz.

Rodolfo impacientou-se e pôs a mão na buzina com toda força. Biiiiiiiiiiii! O som fez o cabelo flamejante virar-se para trás e fazer um gesto clássico, indicando que ele passasse por cima. Rodolfo, ainda mais irascível buzinou novamente. O ruivo então despediu-se da garota com um sorriso maroto e uma piscadela, fez sinal de OK para o carro de trás e acelerou o carro para colocá-lo em movimento.

Mas o carro, que ocupava toda a pista de mão única da saída do estacionamento, andava lentamente, vagueando como se estivesse em um passeio. Rodolfo passava as mãos nos cabelos e bufava, demonstrando sua exaltação. Lídia achou engraçada a pequena pirraça que o cabelo de fogo estava fazendo e teve vontade de rir do noivo. Mas segurou seu sorriso e virou-se para o outro lado da janela para que Rodolfo não percebesse.

Finalmente, o fusca azul saiu para a pista larga em torno do campus da universidade, onde Rodolfo pode finalmente ultrapassá-lo com uma grande rosnada do motor do seu Puma: rooommm roooommm. "Meninos e seus brinquedos", pensou Lídia.

O almoço no clube foi o mesmo tédio de sempre, e seu noivo passara todo o tempo tentando se aproximar do deputado para um "beija-mão". Quando finalmente conseguira, o deputado apenas batera em seu ombro, esquivara-se e pedira desculpas, pois precisava sair para outro compromisso. O desapontamento ficou evidente na face do noivo.



Este conto será lançado na Amazon, mas os capítulos serão postados também aqui em dias alternados e permanecerá completo por uma semana. Fiquem atentos e divirtam-se!

A vida nua e crua (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now