CAPÍTULO III

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Eliza assentiu. Samantha ergueu o olhar, estupefata.

— Como você conseguiu?

Hum, certamente com meu sorriso — a Srta. Hawkins sugeriu.

— Lady Crosby está desesperada para ver o filho casado... — Eliza explicou — tanto que está obrigando-o a participar de todo baile em que eles são convidados. Arrasta-o pelos cantos e o obrigada a dançar com todas as moças disponíveis pela frente. Aaron parece ser um rapaz agradável, mas não tenho certeza se está pronto para um casamento.

O sorriso de Bridget desapareceu no mesmo instante. Samantha voltou-se para os doces novamente. Esses eram os males indispensáveis do oficio de lady Eliza: ela sabia de tudo e de todos. O maior talento de Eliza certamente era escutar. Escutar, escutar e nunca ser notada. Ela apropriava-se do que ouvia para escrever sua coluna, mas outras informações — geralmente comentários casuais sobre a vida pessoal de alguém — não serviam para muita coisa além de seu arquivo interno de maridos em potencial. Lord Crosby foi devidamente descartado.

A Srta. Hawkins não ficou contente com as palavras da amiga. Emburrou-se na cadeira, cruzou os braços e fitou lady Eliza como se ela tivesse cometido um crime. Eliza não deu muita importância. Há anos havia deixado de se preocupar com os dramas dela.

— Em momento algum eu disse que ele tinha interesse em me pedir em casamento, Eliza — Bridget defendeu-se sem necessidade alguma — eu apenas sugeri que ele poderia ter gostado de meu sorriso. Por Deus, sou tão feia assim que a ideia de um homem se atrair por mim causa tanta estranheza?

— Você não é feia, Bridie. — Samantha disse. — Nenhuma de nós é.

Eliza assentiu. Sim, Bridget definitivamente não era feia, apenas não era a beldade de Londres. Ela tinha grandes olhos azuis, bochechas coradas e cheias — o que a conferia um ar mais imaturo do que deveria — e cabelos loiros muito claros. Não era alta, mas com certeza era maior do que Liz. Samantha tinha ainda mais altura do que Bridget. A Srta. Duncan também tinha uma aparência consideravelmente agradável. Cabelo loiro-escuro, olhos esverdeados e apesar de estar alguns quilos acima do peso, Eliza não via isso como um empecilho para a exaltação de sua gracilidade. Em geral Eliza considerava-se a mais excêntrica do trio. Achava-se sardenta demais, considerava seus olhos azuis demais e com certeza bem mais baixa do que deveria ser.

E por que elas não eram populares? Havia várias teorias. A que lady Eliza fielmente acreditava era que havia uma mistura de vários fatores. Tudo havia começado errado. Na primeira temporada Samantha havia assustado metade de Londres com sua falta de talento musical, Bridget havia se mostrado tímida e desastrada em demasia e a única opção que a restou foi tomar chá de cadeira pelo resto do ano, e Eliza... Bem, ela era a Louca dos Cães.

Lady Eliza considerava o apelido completamente injusto, visando o fato de que o acontecimento de Mayfair não tinha sido sua culpa. Primeiro, ela estava andando com Veniamin Stanislav — seu amável poodle — quando por um pequeno descuido ele escapou. Veniamin Stanislav soltou-se das mãos de Eliza e decidiu que correr atrás de um homem a cavalo era uma boa ideia. Eliza, porém, também decidiu que correr atrás do homem de cavalo e do poodle era uma boa ideia. Ambos estavam errados. O cavalo desapareceu, mas Vieniamin percebeu que a liberdade era algo que valia a pena ser desfrutada. O poodle continuou correndo por Mayfair e lady Eliza, sem opção ou ajuda alguma, correu atrás dele.

Tudo isso estava indo consideravelmente ruim, mas Eliza não acreditou que seria capaz de piorar. Ao virar uma esquina Vieniamin Stanislav encontrou-se com mais três cachorros. Não, não apenas um, nem dois, mas sim três. Tudo isso apenas para que lady Eliza se desse conta do quão azarada era. Os três novos caem correram atrás do poodle e Eliza desesperou-se. Apertou o passo para salvar o pobre cãozinho de estimação, porém logo houve uma reviravolta. Eliza e seu espalhafatoso vestido de babados eram o novo alvo. Os cães — inclusive Vieniamin! — começaram a correr atrás dela. Eliza, em total desespero, continuou sua corrida pelas ruas de Mayfair enquanto gritava por ajuda.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt