CAPÍTULO XXII

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À medida que o navio a vapor deslizava a caminho de New Orleans, talvez eu não estivesse satisfeito — talvez não houvesse nenhuma dificuldade em me controlar para não sair dançando pelo convés —, talvez eu não me sentisse grato ao homem que viajara tantos quilômetros por minha causa —, talvez eu não acendesse seu cachimbo nem esperasse para ver qual seria sua palavra nem corresse ao menor sinal de sua parte. Se eu não o fizesse — bem, não haveria nenhum problema.

Ficamos em New Orleans dois dias. Durante esse tempo mostrei onde ficava a casa de escravos de Freeman e a sala na qual Ford me comprara. Calhou de encontrarmos Theophilus na rua, mas achei que não valia a pena retomar meus laços com ele. Junto a cidadãos respeitáveis nos informamos de que ele se tornara um pobre e miserável desordeiro — um fracassado, um homem de má fama.

Também visitamos o notário, sr. Genois, a quem a carta do senador Soule fora dirigida, e o achamos um homem muito merecedor da honrosa reputação que o precede. De forma muito generosa ele nos forneceu uma espécie de salvo-conduto, com sua assinatura e selo do escritório, e, já que contém sua descrição de minha aparência física, talvez não seja impróprio inseri-lo aqui. O que segue é uma transcrição:

Estado da Louisiana — cidade de New Orleans

Escritório do notário, segundo distrito

A todos aqueles a quem os cidadãos aqui presentes possam chegar,

Certifico que Henry B. Northup, cavalheiro do condado de Washington, Nova York, me apresentou provas plausíveis da liberdade de Solomon, um homem mulato, de cerca de quarenta e dois anos de idade, um metro e setenta e um centímetros, cabelo lanoso e olhos castanho-claros, natural do estado de Nova York. Que estando o referido Northup prestes a levar o dito Solomon à sua cidade Natal pelas estradas do Sul, as autoridades civis são solicitadas a deixar o mencionado homem de cor Solomon passar sem ser molestado, se ele se comportar bem e de forma adequada.

Atestado por meu punho e pelo selo da cidade de New Orleans, aos sete dias de janeiro de 1853.

[L. S.] TH. GENOIS, notário

No dia 8 chegamos a Lake Pontchartrain, pela ferrovia, e, no tempo devido, seguindo pela estrada de sempre, chegamos a Charleston. Depois de embarcar no navio a vapor e de pagar nossa passagem por essa cidade, o sr. Northup foi chamado por um oficial da aduana para explicar por que não havia registrado seu serviçal. Ele respondeu que não tinha nenhum serviçal — que, como agente de Nova York, estava acompanhando um cidadão livre daquele estado, da escravidão à liberdade, e não desejava nem pretendia fazer nenhum registro. Depreendi dessa conversa e dos gestos, embora possa estar inteiramente enganado, que não seriam necessários grandes esforços para contornar qualquer dificuldade que as autoridades de Charleston julgassem adequado criar. Ao fim e ao cabo nos foi permitido prosseguir e, atravessando Richmond, onde vi de relance a casa de escravos de Goodin, chegamos a Washington no dia 17 de janeiro de 1853.

Certificamo-nos de que tanto Burch quanto Radburn ainda residiam naquela cidade. Imediatamente uma queixa foi registrada com um magistrado da polícia de Washington contra James H. Burch, por me sequestrar e me vender como escravo. Ele foi preso mediante um mandado do juiz Goddard e apresentou-se diante do juiz Mansel. Sua fiança foi fixada em três mil dólares. Ao ser preso, Burch ficou muito alarmado, demonstrando grande medo e nervosismo. Antes de chegar ao escritório do juiz na avenida Louisiana e antes de saber a exata natureza da queixa, implorou que a polícia lhe permitisse consultar Benjamin O. Shekels, um comerciante de escravos na profissão há dezessete anos e seu antigo sócio. Esse homem se tornou seu fiador.

Às dez horas, no dia 18 de janeiro, ambas as partes se apresentaram diante do magistrado. O senador Chase, de Ohio, o excelentíssimo Orville Clark, de Sandy Hill, e o sr. Northup atuaram como auxiliares da promotoria, e Joseph H. Bradley, da defesa.

Doze anos de Escravidão (1853)Where stories live. Discover now