Brown | Ziam

II - Liam

(Zayn: 15 / Liam: 18)

A escola era um inferno para Zayn. O ensino médio não era tudo aquilo que sempre ouvira de seus pais, era exatamente ou pior do que vira nos filmes e séries.

Mas valia a pena cada dia dentro daquela prisão, quando encontrava na multidão aquele par de olhos castanhos o observando escondido, como se certificasse de que o garoto de pele morena e olhos âmbar estivesse são e salvo.

Sorria sempre que sentia o peso daquele olhar sobre si. Mas agora não era mais a mesma coisa de quando eram crianças. Liam tinha seus próprios amigos, que por acaso não gostavam de Malik. Zayn também tinha amigos, também não sabia se Liam podia ser considerado seu amigo.

A puberdade havia feito com que as coisas entre eles mudassem.

Zayn sempre sentira aquele fermentar em sua barriga, desde o dia em que beijara Liam em sua casa anos atrás, quando ainda eram crianças inocentes e ingênuas, livres de todo mal e crueldade que o mundo os arrastara atualmente.

Agora não sentia apenas o aquele formigar na barriga.

Havia descoberto o desejo pelo melhor amigo, quando estavam bêbados na piscina de sua casa e o beijou descaradamente. Faziam aquilo de vez em quando, mas daquela vez fora diferente. E desde então se encontravam escondidos.

Já estava saindo da escola, caminhando para uma colina a alguns quarteirões de sua casa, próxima a um velho parquinho esquecido. Poucas pessoas ainda iam até aquele lugar, Zayn havia se certificado disso, não podia expô-los.

Escutou os passos apressados que pisava nas folhas secas se aproximarem, já sabendo quem era.

Estava escorado na árvore que deixava cair várias folhas alaranjadas na grama seca de outono. Observou Liam se aproximar com um sorriso tímido nos lábios. A forma como Liam lidava com sua sexualidade não agradava Zayn , assim como a forma como se relacionavam, sempre escondidos.

Liam tinha medo de quem era.

Sentiu o caloroso par de braços se enroscarem em sua cintura, colando seus corpos, trazendo a tona aquele sentimento intenso e melancólico.

Seus olhos observavam cada detalhe dos rosto de Liam, do mais perceptível ao mais escondido. Sempre lembraria de cada sorriso e de cada olhar carinhoso que Liam o lançava em segredo.

Abriu a boca recebendo a língua úmida, o convidando para se entrelaçar a sua. A saliva quente que passava de uma para a outra o excitava, assim como as respirações descompassadas e descontroladas audíveis, as bocas que se encaixavam como um quebra-cabeça. Tudo o deixava desejando por mais.

Mas a forma como sua mão tocava o pescoço de Liam, com medo de machucá-lo ou mesmo de marcá-lo o deixava incerto se fazia o correto.

Quando seu pulmão apertou necessitando de ar, afastou seu corpo, puxando o ar pela boca, tentando controlar sua respiração.

Sentiu os olhos castanhos pousarem sobre os seus. Com leveza encostou a ponta de seu nariz ao de Liam, sentindo a respiração quente tocar seus lábios ainda úmidos, o fazendo tremer por inteiro, aquilo o deixava com medo.

Seria possível dormir um dia sem sentir o toque de Liam em seu corpo? Todos os beijos embaixo daquela grande árvore, naquela colina próxima aquela velho parque, seriam todos esquecidos?

Naquele momento soube que queria Liam para sempre ao seu lado. Mas não queria que fossem apenas amigos para sempre.

Afastou os pensamentos sobre seu futuro quando sentiu novamente os lábios serem tomados com voracidade.

Passaram alguns minutos como sempre faziam após as aulas.

Antes de Liam descer a colina, o agarrou pelo pulso, puxando o corpo do garoto ao seu. Respirou fundo e o abraçou, inalando o cheiro suave do perfume de Liam e fechou os olhos com tristeza.

Sabia que aquilo era uma despedida.

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(Zayn: 25 / Liam: 28)

Chovia forte e os clientes não paravam de chegar na cafeteria em que Zayn trabalhava. Não podia estar mais irritado pelo céu cinzento e clima chuvoso lá fora.

Gostava do céu azul da primavera e do calor do verão, não do céu cinzento com nuvens sobrecarregadas e o vento frio do inverno.

Ouviu o sino da porta anunciando mais um cliente que adentrava o local. A fila estava enorme, eram pedidos cafés, cappuccinos, achocolatados e algumas guloseimas. Zayn estava sempre atento ao que lhe era pedido, dependia do emprego para pagar sua faculdade e suas contas.

Anotou o pedido de uma senhora baixinha - que achara muito fofa por acaso e o lembrava de sua falecida avó - ajeitou o óculos que usava e chamou o próximo cliente. Suas pernas tremeram por um instante e sua garganta secou.

Era Liam.

Seus olhos não falharam em dar uma bela olhada para o rapaz em sua frente. Continuava lindo como sempre. Os olhos castanhos brilhantes, os quais sempre amara e jamais havia esquecido.

Coçou levemente o braço desconcertado e passou a língua sobre os lábios rachados, os umedecendo rapidamente.

- Oi - foi tudo o que o rapaz alto disse, parecia desconfortável.

- Oi - respondeu Zayn mais desconfortável ainda.

A presença dele o fazia corar e transpirar fora do normal, seus batimentos cardíacos estava acelerados e esfregava suas mãos com força.

Vê-lo ali, em sua frente, fazia com que milhares de porquês surgissem, uma pergunta atrás da outra.

- O que vai querer? - pensava em perguntar o que ele fazia ali, mas estava em horário de trabalho e dependia do mísero salário.

Liam havia feito seu pedido - um tanto desconfortável e sem jeito - e se dirigira a uma mesa no canto da cafeteria, estava sozinho.

Havia se passado uma hora desde que seu ex-melhor-amigo estava sentado no mesmo lugar, parecia esperar por alguém. Zayn não conseguia desviar dos olhares que recebia do mesmo, sempre abaixando a cabeça quando percebia os olhos âmbar sobre si.

O local já não estava tão cheio e o expediente de Zayn havia chegado ao fim.

Se dirigiu até os fundos, pegando sua bolsa com os cadernos e apostilas da faculdade, se despediu de seus colegas e partiu em direção a universidade.

Não conseguiu partir sem antes observar o local em busca do rapaz de olhos castanhos, que já não estava mais ali.

...

Desde que saíra do estabelecimento onde trabalhava 8 horas por dia, sentia se desnorteado.

Ver Liam pessoalmente só confirmara que seus sentimentos por ele permaneciam intactos.

E saber disso só o deixava irritado consigo mesmo.

As aulas se pareciam se arrastar. Aqueles olhos castanhos não saíam de sua mente, sempre o encarando, trazendo a tona os momentos que passaram juntos e que jamais esquecera.

O mesmo marrom da árvore que o deixou lembranças.

Saiu do devaneio nostálgico quando finalmente ouviu o sinal tocar, anunciando o término das aulas. Apressadamente saiu. Cobriu a cabeça com o capuz da blusa evitando pegar uma gripe, mas mesmo assim se molhou um pouco por conta da chuva fraca que caía na cidade, dando um ar triste as ruas agitadas.

Chegando ao apartamento, que antes pertencera a sua mãe, abriu a porta apressado, logo tirando o pesado casaco que vestia e suas botas, respirando fundo. Sentiu algo macio se esfregando em suas pernas e sorriu ao ver o cachorrinho sentado o mirando atencioso. Loki esperou até que Zayn se agachasse e deitou de barriga pra cima, como sempre fazia para receber carinho.

Outra lembrança de Liam.

Quando Liam aparecera em sua porta antes de partir, lhe entregando Loki no colo, Zayn ficara tão feliz a ponto de quase sufocar o pequeno de tanto abraçá-lo.

Sua mente estava completamente confusa e tudo que sentia era raiva. Anos sem ter notícias de Liam e agora ele aparecia, assim, como se nada tivesse acontecido.

Tudo que queria fazer era socar a cara de Liam. Se sentiria muito melhor se o fizesse.

Fechou os olhos e respirou fundo soltando o ar dos pulmões lentamente, tentando controlar a raiva que começava a fluir em seu corpo.

Foi até o banheiro enchendo a banheira com água quente e se despiu. Encarou se no espelho e percebeu o quão magro estava. A falta que sentira de Liam por anos o fizera se rejeitar por longos meses quando adolescente, desde aquela despedida não fora mais o mesmo. Não comia, não bebia, sequer fazia esforço para continuar vivendo.

Liam fora alguém de extrema importância para Zayn, mas ele parecia não se dar conta do que significava.

Lembrar se de que quase desistira da própria vida por causa de outra pessoa, só afirmava que não valia a pena amar.

Deitou na banheira, encarando o teto. Sem perceber sorriu ao se lembrar dos olhos castanhos. Ainda eram os mesmo, cheios de compaixão e dúvidas.

Sabia, bem lá no fundo, mesmo que rejeitasse e tentasse se convencer de que não.

Ainda era apaixonado por Liam.