Capítulo 8

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Inglaterra, Liverpool — 09:35

— Séria ruim se eu te dissesse que sou bissexual?

Suas bochechas ficam cada vez mais vermelhas, e ele morde o lábio inferior por estar nervoso. Seus olhos carregam um tom de surpresa.

— Uau, você acabou de ler minha mente!

— Como assim?

— Eu estava pensando se séria ruim se eu te dissesse que sou gay.

Não consegui conter, estou sorrindo agora. Tem um sorriso estampado no meu rosto que não quer sair de jeito nenhum, não importa o que eu faça. Julian é o amor que eu pedi no ano novo?, perguntei para mim mesmo Julian é o amor que eu pedi no ano novo. Eu sou o amor que ele pediu no ano novo.

— Zack.

— Sim?

— Você meio que... já saiu do armário?

Balanço a cabeça positivamente, e meu sorriso some um pouco. Não gosto de me lembrar de tudo que aconteceu.

— E te aceitaram?

— Não. — respondi, mas me sinto na obrigação de contar mais.
Então, tirei meu All Star cor de vinho, deixando o no chão. Cruzei as pernas e me aproximei mais de Julian. Comecei a falar:

— Eu tinha uma família, pai, mãe... éramos felizes e "perfeitos" até eu me assumir bissexual. Minha mãe chorou, de vergonha, pelo próprio filho amar garotos também. Meu pai tentou me bater, mas o Luke impediu. Sendo assim, ele mandou que eu fosse embora, e eu fui. Me abriguei na casa da minha melhor amiga, Anne, por alguns dias. E depois, juntei dinheiro o suficiente para comprar um apartamento, e é aonde eu moro atualmente com Luke.

Não parei pra perceber, mas eu estava com lágrimas nos olhos.
Já faz alguns anos, mas a dor continua sendo a mesma. Quem gosta de ser odiado pela própria família?

— Zack, desculpa, eu não queria fazer você relembrar tudo isso.

— Tudo bem, você não tem culpa, acontece.

Deixei que as lágrimas caíssem. É doloroso, mas o garoto que está na minha frente, agora me abraçou. Julian acaricia meus cabelos.
É um silêncio total, mas um silêncio que faz bem. Afinal, gestos valem mais do que palavras.
Devolvi o abraço a ele, e então estou bem de novo.

— Melhor?

— Sim, obrigado.

— Mas eu não fiz nada.

— Obrigado, Julian. — rebato, ignorando sua fala passada.

— De nada, Zack.

— Mas e você?

— Ninguém sabe.

— Uau, então eu sou o primeiro?

— Sim.

  Alguém bate na porta, umas três vezes, até que a suposta mãe de Julian aparece no quarto.

— Filho, seu amigo não está com fome?

Julian me encara, esperando uma resposta.

— Sim, eu não comi nada até agora.

— Então venham os dois, o café está na mesa!

Ela fechou a porta novamente.
Coloquei meu All Star de volta, e eu e ele descemos para a cozinha.
O cheiro invadia minhas narinas cada vez que eu chegava mais perto, e não me arrependo de ter deixado a comida da cafeteria de lado.

1980Where stories live. Discover now