Na casa de campo eles cavalgavam, tomavam chá com as bonecas, pescavam um pouco á beira do lago e jogavam conversa fora. Apesar de ser uma criança, Lord Gunning adorava conversar com a filha, por mais banais que as conversas podiam ser — principalmente com alguém de seis anos.

— Papai! — Eliza exclamou certo dia. Eles estavam pescando á beira do lago na companhia de duas bonecas da garotinha. — Quem você acha que vai conseguir pescar um peixe primeiro? Marigold, Rose ou eu?

Gustave levou as mãos até o queixo, fingindo estar pensativo. Ele adorava interagir dessa forma com a filha.

— Eu aposto em Marigold. Ela está bem concentrada. Você concorda comigo? — Indagou em uma provocação.

Eliza negou com a cabeça.

— Não, não! Marigold não sabe nem pescar.

Ela atirou a boneca ao lago sem cerimônia alguma. Como uma pedra o brinquedo afundou.

— E agora papai? Quem você acha que vai conseguir pescar um peixe primeiro? Rose ou eu?

Ele riu. Ela iria eliminar todas as concorrentes até que sobrasse apenas ela?

— Devo dizer que agora que Marigold está nadando um pouquinho e por isso lady Eliza é a melhor por aqui. Na verdade ela sempre foi, mas... — Ele cochichou no ouvidinho dela — Eu não queria deixar Mari triste. Pobrezinha, ela nunca pescou peixe algum.

— Talvez ela consiga capturar um em seu mergulho — Eliza sorriu, satisfeita. Ela nem se importou muito com o fato de que nunca mais veria Marigold.

Os dois eram inseparáveis, mesmo sendo constantemente separados. Como um homem poderoso e que deveria estar constantemente tratando de seus negócios era inevitável que em alguns momentos da vida de lady Eliza seus cuidados fossem conferidos a uma governanta ou a algum familiar próximo. Eventualmente ela passava alguns dias em sua propriedade com os empregados e recebendo visitas recorrentes de Titia Daisy, uma das irmãs viúvas de Gustave. Pobres Gunnings, diziam por Londres que a família era amaldiçoada. Todos os três irmãos haviam se casado, porém hoje eram viúvos. Eliza achava a lenda engraçada.

Além de Daisy também havia Julian Stanley. Diferente da mulher ele não tinha parentesco algum com a família, porém um longo e duradouro laço de amizade com o conde. Eles haviam se conhecido em Cambridge, há muito anos, e continuaram mantendo contato até os dias atuais. Julian não tinha nenhum titulo de nobreza, apesar de ser proveniente de uma família abastada. Sua renda girava em torno de um jornal que levava seu sobrenome no título o famoso por toda Londres, Stanley.

O Sr. Stanley não tinha trelas na língua e isso permitiu que ele criasse inúmeras inimizades durante todos os seus anos de trabalho. Ele escrevia colunas sobre a sociedade, sobre economia e sobre politica, sempre deixando explicito seu ponto de vista e abrindo espaço para novos rumores na aristocracia. Enquanto Stanley não falasse sobre você, ele era um dos melhores editoriais da Inglaterra, mas depois que o nome de sua família fosse manchado o desejo seria de ter a cabeça dele na ponta de uma espada.

Ele sempre esteve com a pequena Eliza. Ele não era casado e não tinha nenhum filho, então tinha tempo de sobra para mimar a pequena Gunning filha de seu melhor amigo. Eles eram tão próximos que Eliza recusava-se a vê-lo apenas como um amigo. Stanley era como um membro da família e ele teve um papel crucial para seu desenvolvimento logo quando ela tinha apenas dezesseis anos.

Infelizmente lady Eliza Gunning não fazia muito sucesso com os rapazes. Além de ser nova, a moça era também desajeitada e uma velha conhecida das fofocas da sociedade. Há alguns meses ela havia sido perseguida por alguns cães pelas ruas de Mayfair e em partes sua reputação já estava manchada, sendo ela conhecida como a Louca dos Cães. Além de que 1825 era um ano cheio de beldades e ela não era exatamente uma garota atraente. Sua beleza era exótica não era admirada por todos. Eliza ainda era uma flor que precisava desabrochar.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Where stories live. Discover now