Quando meus olhos bateram em uma menina de cabelos castanhos e curtos, meu coração disparou. Corri até ela e toquei seus ombros. Meu peito se encheu de felicidade, porém, a mesma morreu rapidamente quando a garota se virou para mim. No lugar de eu encontrar os tão desejados castanhos com chamas, encontrei um par de olhos azuis carinhosos.

Dei passos para trás me sentindo um completo idiota. Pedi desculpa com o rosto queimando, e de maneira rápida, me afastei daquela garota.

Idiota, patético, fraco.

Falei para mim mesmo que iria esquecé-la, porém, ela não sai da minha cabeça, de meus pensamentos. Já fazem a merda de quatro meses, por que estou tão preso a ela? Por que quero tanto vê-la? Por que isso dói tanto?

Puxei o ar com força, meu músculos tremiam. Eu preciso socar algo, gritar ou chorar. Chorar talvez seja uma boa opção, só dessa vez, só essa noite.

Encarei o lugar pálido sem interesse. A mesma coisa que qualquer hospital, pessoas tentando se livrar da morte ou apenas morrendo. Igualmente o papai. Papai morreu, chegou morto ao hospital.

Com a vista embaçada e o coração em uma sinfonia de dor, observei o menino ruivo que andava com fones de ouvidos pelos corredores. Ele balançava a cabeça no ritmo da música, e isso acabou sendo bem engraçado, porque ele corou quando nossos olhos se encontraram. Não pude evitar de rir.

Seu rosto se transformou em uma expressão indecifrável. Boca aberta e olhos arregalados. Ele se aproximou com rapidez de mim, me surpreendendo.

— Não ria de pessoas cantando – Pediu apontando para mim. Espremi os lábios para segurar minha vontade de rir.
Ele estava cantando?

— Ok. – Molhei os lábios, o fitando. Ele possuía uma cor muita forte de ruivo e olhos incrivelmente verdes. — Mas você não estava cantando – Ri alto com sua expressão incrédula. As pessoas ao nosso redor nós encararam, mas não me importei.

Ele, diferente de mim, ficou da cor de seu cabelo.

— Stephan! – Uma voz grossa gritou pelos corredores, me assuntando. O menino a minha frente arregalou os olhos e segurou meu braço, me puxando pelo hospital.

Puxei o ar com força quando chegamos a um quarto. Olhei ao redor com a respiração irregular. — Você é doido? Por que saiu me puxando? – Indaguei sem ar. Ele bateu a porta com cuidado, fazendo sinal de silêncio. Juntei as sobrancelhas, fazendo o que foi pedido.

Examinei o lugar. Era um quarto bem colorido, cheio de desenhos e pinturas. Não esperava ver algo assim em um hospital.

— É a Adelaide, minha enfermeira. – Sussurrou. — Ela não pode saber que sai do quarto. – Dei de ombros, me aproximando de alguns livros que tinham alí. Eu nunca mais li nada, muito menos escrevi.

— O que é isso? – Apontei para um caderno de capa dura na mesinha. O garoto se aproximou e então riu, como se eu estivesse fazendo uma pergunta idiota.

— Um caderno de desenho. – Revelou rindo. — Coloco meus sentimentos aqui. Um diário de ilustrações. – Encarei sua pele clara, achando isso legal.

— É uma boa ideia. – Falei comigo mesmo. Nunca pensei em fazer algo parecido. — Posso ver? – Ele assentiu lentamente, parecendo um pouco indeciso. Peguei o objeto, folheando as folhas. Pisquei, não acreditando que ele tinha feito aquilo. — Isso são anjos? – Observei as gravuras bonitas, com asas brancas e peles escuras.

Ele sorriu e assentiu. Seus olhos brilhavam. — Gostou? – Confirmei com um aceno. Eu não iria falar para ele que aquele foi o desenho mais lindo que vi em toda minha vida. — As pessoas costumam imaginar os anjos com pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, porém, eu não acho isso. Para mim, eles são assim. – Ele apontou para a pintura na folha. — As pessoas costumam acreditar muito em um padrão, tipo que uma pessoa doente é triste. Eu também não concordo com isso. – Só então, com suas palavras sinceras, vim perceber que ele era um paciente de lá.

Nós Crescemos [✓]Where stories live. Discover now