A LUA ME DISSE

Branco

Branco.

Estava tudo bem aqui
Meu povo era feliz, era livre
A gente cantava, dançava e vivia assim
Livre.
Aí eles chegaram
Vieram em grandes barcos
Usavam roupas estranhas
Tinham as caras pintadas. Era engraçado.
Meu pai confiou muito neles não
Surgiram das águas
Gente que nunca vimos
Eram diferentes
A pele deles era diferente da nossa
Parecia um papel branco e pálido
Disseram pra nós que iam dar trabalho
Eles mentiram. O homem branco mentiu.

Primeiro pegaram minha irmã
Tiraram a inocência dela
Era uma menina tão boa
Depois pegaram minha mãe
E obrigavam meus irmãos e eu a trabalhar pra eles
Botaram correntes nas nossas mãos
Nos nossos pés
Disseram pra fazer uma fila
E a gente entrou em um navio
Mas não é porque a gente quis não
Eles tinham armas
Eles matava quem dissesse não
Tiraram a gente de nosso país
Tiraram o que a gente tinha de mais valioso
Tiraram a nossa liberdade, a nossa fé
Botaram a gente pra trabalhar duro
Isso não era problema não
O problema era as marcas que deixaram nas costas
Nosso suor ardia
Nossa ferida sangrava, moço.
Eles tratava a gente como bicho. Pior que lixo.

Cê vê essa cicatriz aqui?
Doeu. Doeu tanto, homem.
A gente tentou fugir. Tentou ser livre.
A gente nasceu pra ser livre. Deus fez a gente assim.
A gente morreu, homem.
Nosso sangue vale nada, não.
Quanto tormento.
Se me perguntar que cor o mal tem
Eu digo: o mal é branco.