OUTUBRO

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Estou afundando gradativamente
Em águas escuras, frias, densas
Tijolos estão amarrados em meus pés
Acelerando ainda mais meu afogamento
A pressão da água me empurra para baixo
O ar de meus pulmões está acabando
Não consigo mais segurar minha respiração
E para ser sincero, nem sei mais se quero segurar.

Estou vendo lá longe uma pequena luz brilhar
É, talvez, a luz do sol ou do luar
Bolhas de ar saem de minha boca
Meu ar sai de minha boca
Mas vida permanece em mim
Eu estou morto, mas ainda não morri 

Ainda consigo ouvir as vozes deles
Distorcidas, baixas, quase que inaudíveis
Eu poderia jurar que são risadas
Eles não querem, não, eles não querem
Se divertem ao me ver afogar
Eu disse, disse que não sabia nadar
Mas eles me jogaram aqui.
E agora não consigo subir.
E, talvez, eu nem queira.

O mundo lá fora é cruel
É podre. As pessoas, elas são ruins.
Elas dizem, estão sempre dizendo o que é certo
E o que é errado
Estão sempre apontando os erros alheios
Elas não se enxergam.
A vida dos outros é mais importante que a delas próprias.

Coitadas daquelas que pra se sentirem melhor consigo mesmas precisam fazer os outros se sentirem ruins.

A minha mente, ela me aprisiona
É como uma areia movediça
Que te suga, que te puxa para baixo
Cada vez que você se mexe.
A minha mente, ela é uma cadeia
Ao mesmo tempo que sou prisioneiro
Sou carcereiro, sou vigia de mim mesmo
E que péssimo trabalho estou fazendo.

Ei, você aí, não se acanhe
Pode me tirar daqui? Não?
Eu imaginei. A vida das pessoas só te interessam quando é para julgar, quando é para apontar
Mas na hora de ajudar você some
Se faz de sonso. Hipócrita!
Lá no altar você fala do amor incondicional
Do amor ao próximo
Lá no partido político você fala de igualdade
De direito do cidadão
Mas e agora, onde está o seu amor?
Onde estão os meus direitos?
Eu não sou igual a você?
Eu não mereço o seu amor?

Quero mais é que você se dane com sua compaixão
Sai pra lá com seus discursos baratos
Sua fala sobre ética e tradicionalismo
Você me enoja
É como uma barata, um animal asqueroso
Que não agrega em nada.
Não preciso de mais ninguém dizendo o que faço de errado, de que não sou capaz
Pra isso já existe minha mente.
Pra isso já existe minha cabeça.
Pra isso já existe os meus pais.

A LUA ME DISSE Where stories live. Discover now