CINCO - Parte 2

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Apoio a escada na parede, logo debaixo da portinha que dá para o sótão. Ou para a laje – estou pensando em sótão porque foi o que Evandro falou, mas é bem possível que seja só a laje. Ou não, considerando a altura do teto. Subir com a escada para cá só serviu para me lembrar que ainda preciso descobrir se tem uma academia na cidade, estou ficando fora de forma.

Paro e olho para as árvores de novo. Daqui, não consigo ver o depósito. E não consigo deixar de pensar que, no pouco tempo desde que Evandro foi embora, a sensação de vazio na casa parece que ficou pior. Se bem que... Talvez pior não seja a palavra certa. Eu só estou percebendo isso mais agora que não tem o barulho do rádio ligado e os comentários de Evandro.

Eu não quero isso. Quando cheguei, mesmo com toda a poeira, com a sensação de que a casa estava caindo aos pedaços, era bom. Fazia sentido minha avó não ter vendido aqui, porque era um lugar que passava paz, apesar de tudo. Agora...

O que eu fiz de errado?

E não adianta ficar pensando nisso.

Subo a escada. Ao menos essa porta tem um cadeado, só espero que a chave esteja entre as que achei na cozinha. Começo a testar uma por uma até que o cadeado abre com um estalo. Ótimo. Enfio tudo no bolso e puxo a portinhola.

Ai meu deus, quanta poeira. Puxo a blusa velha que está amarrada no meu pescoço para cima. Eu devia ir na farmácia um dia desses e comprar máscaras.

É um sótão mesmo. O espaço não é muito grande – eu mal consigo ficar em pé, e não sou tão alta assim. Mas tem um teto acima da minha cabeça, o que quer dizer que em algum lugar por aqui ainda tem uma entrada para a laje... Eu acho.

Ligo a lanterna do celular e olho ao redor. Não tem paredes aqui, só vigas. E algumas delas têm lâmpadas dependuradas. Hmm. Agora só falta achar o interruptor.

Dou duas voltas olhando ao redor antes de ver o interruptor na pilastra mais perto da entrada. Nem é surpresa que eu não tenha notado ele antes: está quase camuflado no concreto por causa da poeira. Só percebi que não era um bloco de sujeira por causa da linha um pouco mais escura que é o fio subindo até o teto.

As luzes se acendem todas de uma vez. Meu deus... Isso aqui é enorme. Quer dizer, é o tamanho da casa, mas ver o espaço assim, sem nenhuma parede, faz parecer muito maior. Ou talvez só me faça perceber o tamanho real.

Eu nunca vou conseguir cuidar disso aqui sozinha. Preciso começar a pensar direito no que estou fazendo – e isso quer dizer pensar em funcionários também.

O sótão não está tão cheio quando pensei que estaria, se bem que nem sei por que pensei isso. Filmes demais, provavelmente. Tem caixas e mais caixas espalhadas, algumas delas de papelão, parecendo que vão se desfazer se eu encostar a mão, e outras de madeira, tanto mais simples quanto elaboradas. E móveis. Algumas cadeiras velhas, uma penteadeira, uma mesa de quatro lugares... Tenho a leve impressão de que algumas dessas coisas são de antes da época da minha avó. O que eu não entendo é como alguém conseguiu trazer isso aqui para cima. Nada passaria pela portinhola. A menos que ela seja algo recente e a entrada do sótão fosse outra, antes.

Atravesso o sótão, tentando fazer uma lista mental do que está aqui. Não que contar quantas caixas vá servir de alguma coisa... E eu não vou nem tentar mexer nelas. Já estou levantando poeira o suficiente só andando e até hoje não comprei um antialérgico.

E não tem nada além de caixas, móveis velhos e poeira. Não sei por que estou me sentindo decepcionada, é só um sótão de uma casa que passou trinta anos fechada. É óbvio que não ia ter mais nada. Mesmo assim...

Sombra e Luar (Entre os Véus 1) - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora