Capítulo único

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Eu estava em um bar. Devia ser de madrugada. Na verdade, não tinha a menor ideia de que horas eram, nem há quanto tempo eu estava ali. Mal me lembrava de ter ido para lá. Ou como tinha sido o resto do meu dia. De qualquer forma, não valeria muito a pena lembrar... com certeza, tinha sido mais um dia chato e vazio, como todos os outros na empresa.

Mas eu estava lá, sozinha. Meio tonta, não falava com ninguém. Apenas observava tudo começando a girar ao meu redor, e todas as pessoas em volta. Mesmo ali, não tinha nada de interessante para fazer.

O lugar estava lotado, e todos pareciam exatamente iguais. Todos desinteressantes, exatamente o mesmo tipo de gente para onde quer que se olhasse.

Exceto uma.

No meio da multidão, havia uma menina de cabelo roxo e repicado, na altura dos ombros. Usava uma saia curta e preta, uma blusa solta azul-escura, e botas com cadarços que iam até os joelhos. Não era possível ver com clareza seu rosto, pois não estava tão perto e andava meio torto. Mais do que isso, parecia estar completamente alterada. Possivelmente drogada. O problema é que as pessoas começaram a perceber. E um homem visivelmente bêbado começou a se aproximar. Ela tentava afastá-lo com a pouca força que lhe restava. Mas ele insistia, e ela já não conseguia se defender.

"Mas será que ninguém perto dela está vendo isso? Ninguém vai fazer nada?", pensei. Quando me dei conta de que não, realmente ninguém iria fazer nada, me vi obrigada a andar até onde a menina estava e ajudar. Não que eu estivesse perfeitamente bem para fazer isso. Mas alguém precisava fazer alguma coisa.

- Sai daqui!! Não tá vendo que ela não quer nada?? Seu babaca!!

Eu o empurrava com mais firmeza, e isso já foi o suficiente para que se afastasse. Esse tipo de homem é covarde. Eles se aproveitam das que já não conseguem mais se defender. Neste ponto, ela já estava caída no chão. Tentei ajudá-la a se levantar.

- Tá tudo bem?

Pergunta idiota. Obviamente não estava. Achei até que ela não teria reação alguma, mas conseguiu falar.

- Você me ajudou...

- Ajudei. Vamos, levanta. Você não tá bem pra ficar aqui.

Puxei-a do chão, coloquei um de seus braços por cima de meu pescoço e segurei sua cintura, para ajudá-la a andar. Tinha que tirá-la daquele lugar barulhento e cheio de gente. Andei com ela até uma varandinha do bar, onde era um pouco mais silencioso. Também era um pouco mais iluminado, e finalmente reparei em seu rosto. Ela era muito bonita, com traços delicados e olhos verdes. Ajudei ela a se sentar numa cadeira.

- Eu vou te ajudar. Tem alguém pra cuidar de você aqui?

- Não...

- Tem alguém pra quem eu possa ligar pra vir te buscar?

- Não tenho ninguém...

Estranho. Ela devia ter no máximo uns vinte e poucos anos. Não tinha mesmo ninguém na vida, ou será que era apenas a bebida respondendo por ela?

- Então onde você mora? Eu vou chamar um uber pra você, e você vai pra casa.

- Eu não moro em lugar nenhum.

Era apenas a bebida respondendo por ela.

- Mora, sim. Vai, tenta se lembrar. Você mora aqui perto?

Neste momento, ela olhou diretamente nos meus olhos. Não achei que conseguiria, por estar tão alta. Mas algo no jeito dela olhar e falar estava diferente naquele instante.

- Eu não moro em lugar nenhum e não tenho ninguém. Você foi a única pessoa que me ajudou e não quis abusar de mim. Eu só tenho você. Você é uma pessoa boa. Eu quero que você cuide de mim.

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