1- Despertar

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Gabriel acordou no quarto do hospital. Não se lembrava do que havia acontecido com ele, apenas algumas lembranças pairavam em sua mente: festa, dança, alegria, carro, volante... Pancada. Nada fazia sentido em sua mente atordoada.

Tentou se levantar, mas não conseguia, estava zonzo e sua cabeça rodava. Olhou ao redor e viu que estava sozinho, junto a aparelhos médicos. Pensou em chamar a enfermeira por meio daqueles botões que ficam próximos a cama, mas não podia se mover. Tentou virar-se, mas então percebeu que não podia mover suas pernas, elas eram como duas toras de madeira, duras e pesadas, alheias aos seus comandos.

Espantou-se! O que havia acontecido afinal?

Há poucos dias atrás estava no auge de sua carreira profissional, dando entrevistas, sendo assediado a todo o momento, com a agenda de eventos lotada e vários projetos a serem pensados e elaborados para o seu futuro.

Agora, de uma hora para outra, estava ali, preso em uma cama! Como iria lidar com aquilo? Como ficaria tudo o que havia planejado até hoje?

Entrou em desespero! Queria sair dali! Queria estar em seu confortável apartamento de frente para o mar. Em sua cama confortável e seus empregados à sua disposição.

Balançou o corpo mais uma vez, desta vez com mais força. Ele era um homem forte, musculoso e saudável, não poderia aceitar aquela situação. Mexeu-se com tanta força que quase caiu da cama, derrubando o metal que escorava o soro que pingava para dentro de seu corpo. Queria arrancar tudo aquilo de seu braço!

Com o barulho, uma enfermeira entrou no quarto, espantada com a cena.

- O que aconteceu? – perguntou ela surpresa e vendo que o paciente finalmente havia acordado – Ah! O senhor acordou! Que bom! Espere que vou arrumar isto – disse ajeitando o soro novamente.

- Quem é você? Pode me explicar o que faço aqui? – perguntou Gabriel ainda atordoado.

- O senhor estava em coma. Sofreu um acidente de carro.

- Por que não sinto as minhas pernas?

- Infelizmente,o senhor teve uma lesão na coluna espinhal e ainda não sabemos o quanto a sua medula foi atingida, mas a conseqüência disso é...

- Estou paralítico? – questionou Gabriel, amedrontado com a sua resposta.

- Sim.

Ele não gostaria de ter acordado daquele coma. O mundo despencou em cima de sua cabeça.

- Isso não pode ser real!

A porta do quarto se abre e ele vê uma pessoa que há muito tempo não visitava, pois a correria do seu dia a dia não permitia que ele tivesse esse tempo para ela. Ele simplesmente tinha a deixado para trás e nem tinha se dado conta disso.

- Oi, meu filho! - disse ela com emoção – Você acordou! Graças Deus!

Sua mãe tinha rosto cansado e abatido de tanto chorar. Seus cabelos estavam mais brancos e rugas haviam aparecido em seus olhos.

Gabriel sentiu-se feliz em vê-la, mas ao mesmo tempo, envergonhado por não ter mais nem sequer atendido aos seus telefonemas.

Não queria ouvir seus sermões intermináveis sobre como ele havia mudado e como havia se esquecido dela e de sua família.

Mas agora ela estava ali, na sua frente e tudo o que ele queria era abraçá-la e pedir desculpas por tudo, mas nem isso ele conseguia fazer. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela aproximou-se dele, o abraçou delicadamente e falou baixinho à seu ouvido:

- Não precisa dizer nada! Estou aqui pra cuidar de você!

Na trilha do sucesso (degustação)Where stories live. Discover now