— Então... seus livros em braile estão acabando, é por isso que é bom termos a governanta, ela fará isso, passará eles para braile.

— Nenhuma delas sabe braile.

— Elas aprendem rápido. — Bufei.

— Sempre existem os áudios books.

— Sei que você prefere ler em silêncio apenas com o som das ondas. — Levantei-me e caminhei para a esquerda em direção a porta, toquei no batente da porta para me localizar e virei na direção onde Felipe estava.

— Odeio você e o fato irritante de conhece meus gostos.

— Também amo você meu amigo.

— Vá dormir seu chato. — Falei fingindo irritação, mas ao entrar na casa sorri. Felipe era irritante, mas era um bom amigo, o único em quem eu podia confiar a minha vida.

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Depois de uma noite sem sonhos, fui tomar uma ducha, estava quente apesar de já estarmos no outono, me demorei no banho um pouco mais, sabia que podia me dar a esse luxo, afinal minha casa era uma casa sustentável. A água usada no banho passaria por um processo e então seria usada para regar o jardim e para lavar os carros.

Felipe e eu estávamos informados sobre a crise climática e que em poucos anos o mundo inteiro iria sofrer com isso, então havíamos feito uma grande reforma no ano passado e a casa agora tinha energia solar e claro toda água que ia para o ralo era reaproveitada.

Sai do chuveiro e me enxuguei, pendurei a toalha no box e segui para o quarto, sem muita dificuldade encontrei uma roupa apropriada, esse seria outro trabalho da governanta, se certificar de que as coisas em meu quarto estivessem sempre no lugar certo, para que eu não tivesse nenhum tipo de problema.

Vesti uma camisa branca de botões a uma bermuda preta, estava em minha casa, não precisava vestir um terno para entrevistar aquelas garotas. Prendi meus cabelos em um coque pois pretendia tocar piano, uma sonata triste e sombria para que elas soubessem o que as aguardava. Deixei o quarto tocando algumas vezes nas paredes para me localizar e então cheguei à mesa do café da manhã.

— Kalimera. — Cumprimentou-me Felipe.

— Kalimera.

— Seu café Freddo senhor Costas.

— EfcharistóDaphne. — Daphne era uma das poucas empregadas da casa que estavam a mais tempo, era uma mulher casada, mãe de dois filhos que trabalhava na mansão oito horas por dia.

A governanta que iriamos contratar hoje trabalharia em período integral, morando na mansão com folga uma vez por semana.

— Suas ações subiram 0,5 por cento de ontem para hoje, graças a notícia de que você estava reformando as fábricas de azeite para fábricas com energia sustentável.

— Ótimo. Pois essas reformas vão levar uma boa quantia, mas valerão a pena.

— Se todos pensassem como você.

— O planeta teria um futuro promissor se cada um fizesse sua parte.

— Mas conglomerados continuam só pensando em lucros e derrubando toneladas de lixo sem qualquer consciência. — Dei de ombros. — Pelo menos estou fazendo a minha parte.

— E é por isso que tenho orgulho de ser seu amigo.

— Hum. — Resmunguei, mas um sorriso escapou dos meus lábios.

Terminamos de tomar nosso café da manhã conversando mais sobre trabalho e então segui para o piano, as candidatas estavam chegando e eu já sabia o nome de todas e de onde elas vieram. Agora qual iria sobreviver a entrevista eu não saberia dizer, suspirei e comecei a tocar, esperando o momento das bajulações. Mergulhei na melodia sombria de Beethoven, e na forma como ela envolvia meu coração igualmente sombrio.

Doce Ilusão - Livro único - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora