Apenas um dia normal

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A freira na enfermaria reclamou sobre a supervisão das aulas livres enquanto ajudava Thomas com o sangramento, mas como não era nada grave, ela logo os liberou. Os dois se sentaram em um banco solitário no corredor vazio, sem vontade de voltar para as quadras.

Thomas continuou calado, com um lenço gelado escondendo o nariz dolorido. Não sabia no que pensar exatamente, dividido entre vergonha e desconforto; então ele tentou pensar no que tinha visto, ou no que pensava ter visto.

Ele não era idiota, ele podia ligar os pontos. Quem quer que fosse estava o observando, o seguindo. Era assustador. Ele não sabia se estava em perigo ou não...

– Não ligue para o que aqueles idiotas dizem. – Samanta o arrancou de seus pensamentos.

– Eles têm razão de qualquer jeito. – Thomas deu de ombros, abaixando o pano. Seu nariz não parecia estar sangrando mais, o que era algo bom. – Eu não presto para nenhum esporte.

– Ora, é só treinar! – A garota revirou os olhos. – O seu problema são as regras. Você tem que lembrar melhor delas...

– E então colocar na prática! O problema não são as regras, Sam, é colocar elas em prática.

– Ué, desde quando regras são difíceis, especialmente pra você? – Thomas corou levemente com o comentário, embora nunca tivesse tido vergonha de ser um bom dançarino. – Aquelas danças da sua família cheias de passos rápidos... Como você se lembra disso?

– Eu lembro porque eu amo dançar. E faço isso desde pequeno. – Thomas retrucou.

– É e você não gosta de esportes... Então isso não serve muito de exemplo, esqueça o que eu disse. – Samanta estalou a língua. Thomas riu. – E eu jogo desde pequena, então é fácil pra mim...

Thomas se lembrava de ter visto Samanta pela primeira vez durante uma competição junior de basquete – ele só tinha ido assistir porque seu pai gostava de basquete, honestamente. O quarto da garota tinha uma parede dedicada apenas para suas medalhas. Quando ela aparecia em campo o time adversário tremia nas bases.

Mas ela não era Thomas (como sua mãe insistiria em falar).

– Mas hoje a culpa não foi minha. – Thomas se defendeu. – Bem, foi sim, eu me distraí. Mas... – Ele hesitou. – É que eu vi uma coisa...

– Que coisa? – Samanta perguntou, curiosa como sempre.

– Alguma coisa ou alguém. – Thomas se corrigiu, deixando a amiga mais interessada ainda. – Estava lá, no bosque perto da quadra grande.

– Mas aquela área está interditada! – A garota exclamou um pouco mais alto do que devia no corredor silencioso. – Você viu quem era?

– Eu nem sei se era uma pessoa ou não! Mas esse não é o problema... – Ele hesitou, mas Samanta seria a última pessoa no mundo que o chamaria de louco, ele sabia. – Olha, isso pode soar estranho, mas é tudo verdade! – A garota o olhou de modo estranho, mas fez sinal para que continuasse falando. – Já faz um tempo que eu sinto... Como se alguém estivesse me observando, me seguindo. Quase sempre eu tenho esse sentimento estranho... Como se alguém estivesse comigo o tempo todo, até quando estou sozinho. Como uma presença!

A garota não falou nada e Thomas ficou quieto também, esperando alguma coisa.

– E você falou com seus pais sobre isso?

Thomas levantou os olhos. Samanta não estava rindo, sua expressão era neutra, talvez só um pouco preocupada.

– Não... Não falei...

A Saga do Destino livro 1 - A Chave ElementalWhere stories live. Discover now