Capítulo 1 - Único - Herói à Delivery

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Todo adolescente sonha em morar sozinho algum dia.

Longe da reclamação incensante dos pais, das cobranças e dos castigos. Fazer o que quiser, a hora que bem entender, com quem quer que seja, sem precisar dar satisfações a ninguém. Provar que possui maturidade, responsabilidade, e que já pode cuidar do próprio nariz.

Quando Matsumoto Takanori conseguiu um bom emprego, adquirindo certa estabilidade financeira aos 21 anos, teve certeza que poderia finalmente levantar voo rumo a liberdade, para longe do ninho e das asas super protetoras de seus genitores. Alugou um pequeno apartamento em um bairro simples e se mudou.

Contudo era obrigado a admitir: A independência era superestimada. Nos últimos sete meses suas refeições estavam cada dia menos saudáveis, as roupas não apareciam magicamente limpas e passadas dentro de seu guarda-roupas e a louça suja que deixara na pia não sumia da noite pro dia como costumava acontecer na casa de sua mãe. Isso sem mencionar que cada vez que conseguia pagar uma conta, outro boleto chegava e esse ciclo parecia nunca ter fim.

Apesar dos pesares, o jovem Matsumoto estava se saindo bem. Sempre soubera que morar sozinho não seria exatamente um mar de rosas e estava preparado para todos os desafios. Todos. Exceto um: seu medo quase irracional daqueles bichinhos traiçoeiros que vez ou outra aparece na casa da gente.

O pequeno até conseguia lidar com as baratas, aqueles seres sujos e malignos, criados nas profundezas do inferno, e que sabia, alimentavam-se do medo. Por isso mantinha o apartamento sempre impecavelmente limpo para evitar insetos ou qualquer coisa parecida e indesejada.

Mas se as baratas eram seres infernais, as aranhas eram demônios desalmados, ainda mais malignos, inescrupulosos e cruéis, e que certamente regiam o submundo ao lado do próprio Satanás. E lá estava uma delas. Debaixo da mesa da cozinha, encarando o jovem Takanori apenas esperando o momento certo de saltar os quase dez metros de distância e atacar o pobre coitado encolhido sobre o sofá.

Segurava a pantufa em uma das mãos, pronto para se defender, e na outra o celular colado na orelha. Os olhos fixos o tempo inteiro na criatura ameaçadora de 5 centímetros. Por que diabos Shiroyama nunca atendia o maldito telefone? Caipira idiota! Não prestava pra nada desde que começara a sair com aquele loiro de coxas roliças. E ainda se dizia seu amigo, aquele que estaria ao seu lado nos melhores e piores momentos, sempre que precisasse! Humpf! Mentiroso!

Pensou em chamar um dos vizinhos, mas lembrou-se que Yasha-san passaria o fim de semana fora e o velho do outro lado do corredor não ia muito com a sua cara. Deus do céu! O que faria? Como poderia dormir sabendo daquela ameaça em seu santuário sagrado, sua própria residência?

Certamente adiantaria a visita mensal do dedetizador!! Contudo, àquela hora da noite quem poderia ajuda-lo?

Olhou ao redor calculando uma possível rota de fuga caso aquela coisa avançasse. A porta lhe parecia longe de mais e estava trancada, o que atrasaria um pouco sua escapada. Fora de cogitação. O ato de girar a chave poderia lhe tirar o pouco tempo de vantagem: perder um segundo sequer poderia lhe custar a vida! O quarto e o banheiro lhe pareciam ainda mais arriscado, certamente estaria encurralado. A melhor opção seria ir lá pra fora, é. Mas como?

As íris de cor castanha pousaram sobre a janela. Se pulasse daquela altura será que sobreviveria? Provável que sim. Porém, com toda a certeza se machucaria bastante. Precisava de um plano mais promissor.

Foi então que notou o letreiro em neon, piscando do outro lado da rua. A pizzaria dos Suzuki's. Um negócio familiar, bastante popular no bairro. A comida era excelente, o que justificava a quantidade de pessoas do lado de fora do estabelecimento, sentadas nas mesas de madeira colocadas na calçada. Costumava se reunir com os amigos ali de vez em quando, e quando Shiroyama vinha visita-lo sempre pediam delivery.

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